Bem-aventurado Urbano II, Papa e Confessor
A Igreja recorda no dia de hoje, 29 de julho, a memória do Beato Urbano II, o Papa que convocou a primeira cruzada.
Redação (29/07/2022 09:29, Gaudium Press) Eudes, variante de Odon, Oton, Oto, depois Urbano II, nasceu em Chatillon-sur-Marne, Diocese de Soissons, atualmente de Reims, em 1040, numa nobre família.
Aluno daquele que seria o fundador da Cartuxa, São Bruno, Eudes, em 1064, era arcediago de Reims, e, logo, depois cônego. Em 1073, estava em Cluny, onde se formou sob a regra beneditina.
Quando o grande Papa reformador São Gregório VII, solicitou de Santo Hugo, o Pai, o abade de Cluny, alguns caracteres de valor que os elevasse ao episcopado, Eudes foi-lhe apresentado e, em seguida, feito bispo de Óstia, em 1078.
Depois duma legação na Alemanha, destinada a defender o Papado contra os desmandos do imperador Henrique IV, Eudes tornou à Itália. Pouco depois, o grande Papa desaparecia. Vítor III sucedeu ao Santo Padre morto. Todavia, logo deixou o mundo.
Eleição ao pontificado
A 12 de Março de 1088, Eudes foi eleito, assentando-se com muitíssima humildade na cátedra imperecível do Príncipe dos Apóstolos, para governar a cristandade.
A Alemanha, então em guerra, era um fardo pesado para a Santa Sé. Henrique IV, com seu antipapa, Clemente III, provocava sérios embaraços na vida religiosa, mas o calmo Urbano eloqüente soube contornar as maquinações que se urdiram.
A condessa Matilde, grande amiga da Santa Sé, casou-se, em agosto de 1089, com o jovem Welf, duque da Baviera. Esta aliança da Toscana e da Alemanha do Sul foi o maior obstáculo que se deparou ao imperador. No entanto, conseguiu invadir a Itália, mas em 1092 foi obrigado a retroceder. E o seu papa, que estava em Roma, deixou a cidade, indo-se para Ravena.
Destarte, mais e mais, agrupou-se a Itália em torno de Urbano II, cada vez mais firme no posto supremo.
Convocação das cruzadas
Foi no concílio de Clermont, de 1095, convocado pelo Santo Papa, que a ideia da cruzada contra os infiéis triunfou.
No século VII, com as conquistas árabes, tomada por eles a Palestina, as peregrinações dos cristãos europeus à Terra Santa não sofreram solução de continuidade. Todavia, os peregrinos que eram bem tratados por aquele povo, tiveram a situação invertida com a invasão dos turcos seldjúcidas, originários do Turquestão, ao norte da Pérsia.
Maomé recomendara a guerra santa para a difusão da doutrina. Prometera recompensas aos que morressem combatendo pela fé.
Espírito belicoso, os árabes seguiram, sem hesitar, as recomendações do profeta, e, desta maneira, ainda no ano da morte de Maomé, deram início à guerra santa.
Em menos de um século de lutas, conquistaram a Palestina, a Síria, a Mesopotâmia, a Armênia, a índia, a Pérsia, todo o norte africano, a península Ibérica.
A civilização árabe foi brilhantíssima. As ciências, a literatura, a história, a arquitetura, a indústria, o comércio e a agricultura tiveram grande desenvolvimento.
Os novos conquistadores, porém, de espírito mais belicoso, que se tinham feito maometanos, fanáticos maometanos, não manifestaram para com os cristãos a mesma atitude tolerante dos árabes. Apoderando-se de Jerusalém em 1078, principiaram a perseguição aos peregrinos que para lá se dirigiam, perseguição essa que sempre combinava com as mais bárbaras atrocidades. E as crueldades que se perpetravam cresciam dia a dia.
“Deus o quer!”
Logo a ideia de libertar a terra Santa do jugo infiel começou a apoderar-se dos espíritos cristãos. A poesia épica medieval está repleta de versos onde transparece aquele grande desejo do mundo que abraçara a fé católica.
Foi no Concílio de Clermont, de 1095, como dissemos, convocado por Urbano II, que tal desejo viu alçado às alturas da realização.
A 27 de Novembro daquele ano mesmo de 1095, Urbano II deixou a igreja, onde o concílio terminara e, num vigorosíssimo discurso, solicitou aos cavaleiros do Ocidente que partissem para a libertação dos irmãos do Oriente, oprimidos pelo turco cruel, para a libertação da terra que Deus feito homem pisara e santificara.
Não demorou muito, o brado ardoroso, entusiástico de “Deus o quer”! correu a terra. E o povo cristão, sequioso de alistar-se no exército que iria libertar o túmulo de Cristo, acorria em massa.
Urbano II, ousadamente, tomou a direção daquela cruzada. A figura de Pedro Eremita impressionava a toda a cristandade, cristandade que jazia como tomada da febre do zelo. E a flor da cavalaria marchou com imensa alegria para a tomada de Jerusalém.
Foi um êxito colossal. Bandos infindos de homens, mulheres e crianças rumara, desordenadamente, para a Terra Santa e foram morrendo pelo caminho, vítimas de fome, da sede, do cansaço e das doenças. Não poucos foram massacrados na Alemanha e na Hungria em represália às devastações que iam realizando à medida que passavam, qual nuvem de gafanhotos depredadores.
O restante, melancolicamente, foi quase que totalmente exterminado pelos turcos depois da travessia do Bósforo.
Mais felizes do que aqueles da primeira arrancada não foram os seiscentos mil infantes e cem mil cavaleiros organizados que partiram no afã sem par de mover guerra aos profanadores. Tomaram Nicéia, depois Antioquia defendida por quatrocentos e cinqüenta torres.
Daquele exército, porém, só uma minoria conseguiu avistar Jerusalém. Caíram todos, então de joelhos. E, a soluçar de emoção, choraram de alegria. Era a 15 de Junho de 1099.
Poucos dias depois, a 29 do mesmo mês, o grande Urbano II deixava a terra, indo-se para a “bem-aventurada Jerusalém, visão de paz”, sem saber do sucesso que lhe coroava os esforços despendidos.
Morto o pontífice, atribuíram-lhe uma infinidade de milagres. Em 1881, a 14 de Julho, Leão XIII confirmou-lhe o culto, culto rendido desde os mais recuados tempos.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XIII, p. 419 à 425)
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