Batalha de Navas de Tolosa
Na Espanha dos séculos XII e XIII, a Providência Divina suscitou varões que combateram heroicamente contra os maometanos, a exemplo de Afonso Henriques, Rei de Portugal.
Redação (17/09/2023 11:19, Gaudium Press) Havia aproximadamente 350 anos que os islamitas dominavam o Sul da Península ibérica. E a França havia se livrado deles pela vitória de Carlos Martel na Batalha de Poitiers, em 732.
A atual Espanha estava parcelada em diversos reinos, e alguns soberanos fizeram pactos com os mouros. Indignado com essas atitudes infames, o Papa Celestino III – pontificado de 1191 a1198 – ordenou aos reis que suspendessem as guerras entre si mesmos, marchassem contra os infiéis até que fossem expulsos e “ameaçou de excomunhão quem fizesse aliança com os inimigos da Cruz”.[1]
Afonso VIII: avô de dois grandes santos guerreiros
O Rei de Castela, Afonso VIII – avô de São Luís IX, Rei da França, e São Fernando, Rei de Castela – lançou-se ardorosamente contra os infiéis, ajudado especialmente pelo Arcebispo de Toledo Rodrigo Jimenez de Rada, com suas pregações.
A rogos de Afonso VIII, o Papa Inocêncio III – sucessor de Celestino III –conclamou os católicos franco-espanhóis a lutarem contra os sarracenos. Em algumas regiões, os maometanos eram chamados sarracenos – do latim Sara sine, sem Sara. A esposa de Abraão chamava-se Sara, e os islamitas se declaravam descendentes não de Sara, mas de Agar, escrava de Abraão.
Orientados por três Bispos, os reis de Aragão e de Navarra, bem como cavaleiros provenientes do Sul da França, uniram-se ao Rei de Castela nas proximidades de Toledo.
120.000 sarracenos foram mortos
O próprio Afonso VIII narrou os fatos que a seguir resumimos.
Os exércitos católicos chegaram à fortaleza de Calatrava – centro da atual Espanha –, que era sede da Ordem militar desse nome e fora tomada pelos maometanos. Protegida por fossos profundos, a fortaleza possuía altas muralhas com diversas torres.
Tendo os católicos efetuado o cerco, os infiéis ficaram apavorados e se entregaram. Pouco depois, os franceses regressaram ao seu país a fim de fortalecerem o exército que o heroico Simon de Montfort dirigia na guerra contra os albigenses.
Comandados pelos reis de Castela, Aragão e Navarra, os católicos caminhavam no meio de desfiladeiros, onde havia sarracenos escondidos que procuravam matá-los. Deus, então, enviou um Anjo que os orientava na rota a seguir.
Chegaram ao promontório de Navas de Tolosa, nas proximidades da atual cidade de Jaén, Sul da Espanha, e no vale adjacente estenderam suas tendas. Era sábado, 14 de julho de 1212. O sultão, com seu numeroso exército, no domingo colocou-se em ordem de batalha, mas Afonso VIII não os atacou por ser dia santo.
Na segunda-feira, tendo à frente dos cavaleiros a Cruz e um estandarte no qual estavam representados Nossa Senhora com o Menino Jesus, os católicos se aproximaram dos sarracenos que lançavam flechas visando destruir a Cruz e a bandeira.
O Arcebispo de Tolosa e outros bispos, com palavras ardentes, animaram os católicos para avançarem. Eles investiram contra os infiéis com tal ímpeto que os esmagaram. Encabeçados pelo sultão, muitos deles fugiram. 120.000 sarracenos morreram, enquanto que entre os católicos houve 30 baixas.
Em louvor e agradecimento ao Criador, foi cantado um Te Deum.
Afonso VIII enviou ao papa uma tenda de seda e uma bandeira recamada de ouro, recolhidas dos despojos deixados pelo inimigo. Inocêncio III mandou alçar a bandeira no interior da Basílica de São Pedro.
O sultão havia escrito ao pontífice que, após esmagar os católicos da Espanha, iria a Roma e poria sua bandeira no alto da Basílica papal, a qual seria transformada em estábulo para seus cavalos.[2]
Na batalha de Navas de Tolosa, destacaram-se pela sua combatividade os cavaleiros da Ordem de Calatrava.
Ordem militar de Calatrava
Fundada em 1158 por São Raimundo de Fitero, que fora abade do Mosteiro de Fitero – em Navarra, Norte da Espanha –, essa Ordem estabeleceu-se na cidade de Calatrava. Seus membros faziam os votos de obediência, castidade e pobreza, só comiam carne nas terças, quintas e domingos, jejuavam com frequência, guardavam silêncio e dormiam com armadura. Usavam um hábito branco com uma cruz carmesim, em cujas pontas estavam pintadas flores-de-lis.
Face aos avanços dos sarracenos, o Rei de Castela Sancho III declarou que cederia a fortaleza de Calatrava a quem a defendesse. São Raimundo aceitou a proposta e, com alguns outros monges, para lá se dirigiu; em seguida, Sancho destacou um batalhão de soldados para ajudá-los e, assim, a fortaleza foi resguardada.
Mas, em 1195, atacados pelos maometanos, eles deixaram a fortaleza e se estabeleceram num castelo próximo à Cidade Real, no centro da Espanha.
Com o grande desenvolvimento da Ordem, seus membros participaram da Batalha de Navas de Tolosa e, posteriormente, ajudaram São Fernando III, Rei de Castela e de Leão (1199-1252), em suas guerras sempre vitoriosas contra os pagãos. O Rei Santo doou muitas terras à Ordem de Calatrava.
Em 1164, Alexandre III aprovou-a e, em 1199, Inocêncio III elaborou um documento no qual fez a “enumeração de umas cem localidades, fortalezas, igrejas, etc. que pertencem à Calatrava nos reinos de Aragão, Navarra, Leão, Castela e Portugal. E esse número de lugares e castelos foi crescendo nos anos subsequentes”.[3]
Entretanto, na Renascença – estando a Ordem incorporada à coroa da Espanha –, Paulo III, em 1540, eliminou o voto de castidade que os Cavaleiros de Calatrava faziam. Ela, então, perdeu seu espírito religioso e militar.
A memória de São Raimundo de Fitero – ou de Calatrava, conforme o martirológio – é celebrada em 15 de março.
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:
“A Cruzada da Reconquista espanhola e portuguesa levou 900 anos, quando deveria ter durado muito menos! Isso ocorreu por causa de momentos de desfalecimentos e de moleza.
“Se esses momentos não tivessem existido, quanta coisa teria acontecido diferente e mais magnífica, conforme à glória de Nossa Senhora! Se a Cruzada hispano-lusa tivesse sido feita num só tranco, não teria parado nas orlas do Atlântico, mas transporia o mar e entraria com vitória na África! E toda presença maometana no Mediterrâneo teria sido diferente, e com isso a História da Europa. Quando a América fosse descoberta, o Mediterrâneo seria um mar inteiramente cristão!”[4]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1880, v. 27, p. 572.
[2] Cf. Idem. 1881, v. 28, p. 278-284; Cf. VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Media.3. ed. Madri: BAC, 1963, v. II, p. 402-403.
[3] VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Op. cit. v. II, p. 704.
[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 25-12-1982.
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