As profecias de Isaías
A Igreja venera o profeta Isaías como Santo, sendo sua memória celebrada em 9 de maio. Suas profecias não se limitam à vinda do Filho de Deus, sua Paixão, Morte e Ressurreição, mas abrangem também a fundação e a expansão de sua Igreja.
Redação (09/05/2022 10:46, Gaudium Press) Grandiosa é a cena da visão que teve Isaías, no ano 740 antes de Cristo. Deus está sentado num elevado trono, no Templo; junto d’Ele, os Serafins cantam: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama sua glória!” A este brado, as portas estremecem em seus gonzos e o recinto enche-se de fumaça.
Ele grita: “Ai de mim! Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e, entretanto, meus olhos viram o Senhor dos exércitos!” Um dos serafins, porém, aplica-lhe na boca uma brasa viva, dizendo: “Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada”. Nesse instante, ouve ele a voz do Senhor que pergunta:
— Quem enviarei Eu? E quem irá por nós?
— Eis-me aqui, enviai-me — prontificou-se ele. Deus o enviou, e ele transmitiu com fidelidade a palavra do Altíssimo para o povo eleito e todas as nações da terra.
Oito séculos antes, ele anunciou com tantos pormenores a vinda do Messias, que um comentarista chega a afirmar: “Isaías escreveu antecipadamente o Evangelho”.
“Apóstolo” e “Evangelista”
Quase nada relata a Escritura Sagrada sobre a vida de Isaías. Sabe-se apenas que era de nobre família, casou-se e teve, pelo menos, dois filhos aos quais deu nomes carregados de mistério e simbolismo: Sear-Iasub (Um-resto-voltará) e Maher-Shalat-Hash-Baz (Pronto-saque-próxima-pilhagem).
Entretanto, suas palavras e seu nome ressoam em incontáveis passagens do Novo Testamento. Tudo quanto dizem os outros profetas sobre o Reino universal de Deus, a ser instaurado pelo Messias, está de alguma forma contido no livro de Isaías, Profeta messiânico por excelência.
De todos os profetas — são 17 os que deixaram obra escrita — nenhum fez o relato completo da vinda do Redentor. Cada um deu sua contribuição parcial para a formação do grandioso conjunto. Seus oráculos se fizeram ouvir sobretudo sob os reis de Judá e na época do Cativeiro de Babilônia, mas a obra só ficou concluída com Malaquias, o derradeiro dos profetas.
E quando no deserto o Precursor indicou aos judeus “o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29), ficou dita a última palavra: estava presente o Simbolizado, Jesus de Nazaré; as expressões simbólicas não mais tinham razão de ser.
Entretanto, quem mais contribuiu para a construção desse magnífico edifício profético foi Isaías, a ponto de poder ele ser considerado o profeta messiânico por excelência.
Tudo quanto havia de bom na humanidade clamava a Deus, implorando a vinda do Redentor. Isaías exprime, em forma de oração, esse ardente desejo: “Derramai das alturas, ó Céus, o vosso orvalho, e as nuvens façam chover o Justo; abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça” (45, 8).
E é ele ainda quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, cujo pai era Jessé: “Um ramo novo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor (…) o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será sua morada” (11, 1-10).
Narração antecipada do Evangelho
Quando o Arcanjo Gabriel saudou a Virgem Maria na humilde casa de Nazaré, cumpriu-se uma das mais importantes profecias de Isaías: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (7, 14).
Em termos poéticos, anuncia ele, com oito séculos de antecedência, a entrada do Messias neste mundo: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” (9, 1).
Previsão cujo cumprimento São João comprova em seu Evangelho, empregando os mesmos vocábulos: “A luz resplandece nas trevas (…) a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1, 5 e 9).
São Lucas relata como o próprio Jesus confirma que em sua Pessoa Divina se cumpriam os oráculos desse grande profeta:
“Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor’. E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21 – Is 61, 1-2).
Não menos categóricas são suas previsões a respeito da Paixão e Morte do Salvador: “Ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades (…) como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador, Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. (…) ao morrer, achava-se entre malfeitores” (53, 5-9).
Ao ler tudo isso, não se pode deixar de concordar com a afirmação de um comentarista: “Isaías escreveu antecipadamente o Evangelho”.
Aspecto importante das profecias
Entretanto, as profecias não se limitam à vinda do Filho de Deus, sua Paixão, Morte e Ressurreição. Elas abrangem também a fundação e a expansão de sua Igreja, construída sobre a rocha inabalável. Deve ela, entretanto, resplandecer muito mais, na terra inteira. São bem ilustrativos, a este respeito, os dois trechos abaixo, de Isaías:
“No fim dos tempos, acontecerá que a montanha da casa do Senhor estará colocada no cume das montanhas. Todos as nações acorrerão para ela, e virão numerosos povos, dizendo: Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó; ele nos ensinará seus caminhos, e nós trilharemos as suas veredas” (2, 1-3).
O profeta se vale da realidade conhecida (o monte do Templo, em Jerusalém), como símbolo para exprimir aquilo que lhe é revelado: na era messiânica, a montanha da casa do Senhor (a Igreja Católica) estará estabelecida “no cume das montanhas”, isto é, colocada em posição de ser vista e reconhecida por todas as nações da terra. Pelo esplendor de sua luz, ela atrairá a si todos os povos e lhes ensinará o caminho da salvação.
Mais adiante, novo oráculo mostra o imenso amor de Deus pela sua Igreja, a qual Ele recobrirá dos mais preciosos ornamentos da santidade, simbolizados da seguinte forma:
“Eis que eu alinharei tuas pedras e te edificarei em pedras de jaspe, sobre alicerces de safira. Farei tuas portas de cristal, e de pedras preciosas todo o teu recinto. Todos os teus filhos serão instruídos pelo Senhor” (54, 11-13).
De que modo, e quando, se cumprirão por inteiro essas profecias? Não se referem elas ao triunfo do Imaculado Coração anunciado por Nossa Senhora em Fátima?
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 36 Dezembro 2004. Ir. Mariana Morazzani Arráiz,EP.
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