Arcebispo de Paris: “Ir à missa não é ir ao cinema, não é uma distração, é algo vital”
Dom Michel Aupetit: o governo francês nos trata “como se fôssemos crianças, incapazes de organizar algo” para realizar missas com segurança. “Eles não sabem nada”.
Paris – França (29/04/2020 22:16, Gaudium Press) Na Revolução Francesa, enquanto cabeças de padres rolavam e regavam de sangue os jardins parisienses, igrejas eram profanadas e o culto completamente suprimido, mesmo o privado. Emissários jacobinos, para forçar os católicos a abandonar a fé, lançavam em face o convite sórdido à apostasia: “Vocês já não têm mais igrejas, não têm mais missas, não têm mais vésperas, não tem mais sacramentos… Para que conservar a vossa religião?”.[1] Vivemos hoje algo análogo na França?
Hoje já não temos, entretanto, baionetas, mas temos a pressão indireta do governo francês, que joga um “banho de água fria” – conforme expressão do editorial do Le Figaro de 29/4/2020 (p. 1) – nas esperanças de saída da quarentena de acordo com o bom senso. O editorial ainda lança um prognóstico: “Decididamente, o coronavírus colocará a França de pernas para o ar, inclusive no seu legendário apego ao princípio de igualdade”. Pois bem, é mais propriamente sob o princípio de equidade, que o Arcebispo Francês advoga o direito do retorno das missas públicas.
“Fomos tratados como se fôssemos crianças”
O Arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit, declara que está “francamente muitíssimo decepcionado” a respeito das declarações do primeiro-ministro francês Édouard Philippe nesta semana, não permitindo à Igreja de retornar às suas atividades litúrgicas. Numa entrevista à Radio Notre Dame 29/4/2020, o prelado esclarece que se procurou um diálogo entre a Igreja e o Estado francês, com “proposições positivas e válidas”. Contudo, isso “não foi respeitado: fomos tratados como se fôssemos crianças, incapazes de organizar algo”.
“Soubemos respeitar integralmente as normas”
Recorda ainda o arcebispo, para revelar a incoerência das decisões governamentais, que em 27 paróquias foram distribuídas refeições desde o início da quarentena e que, portanto, “nós [os católicos] soubemos respeitar integralmente as normas”.
O Arcebispo ainda comentou as disposições de um possível acordo, como, por exemplo, a ocupação de apenas um terço da igreja: “E tudo isso foi estudado com os governantes. Ir à missa não é ir ao cinema, não é uma distração, é algo vital”, pontua Dom Michel Aupetit.
Eucaristia: remédio espiritual
Quanto à necessidade da Eucaristia, comentou: “É o alimento divino que sustenta as pessoas no meio da quarentena, trata-se de um remédio espiritual”.
O arcebispo parisiense declara ainda que “a nossos governantes, não importa em que posição, parece que lhes falta algo de essencial: a antropologia”. Para o prelado há um problema neles em conhecer a realidade em que vivem os padres.
A antropologia dos governantes é nula; o homem não vive só de pão
No tocante aos governantes na França, ressalta que podem “até ser bons administradores”, mas “a sua antropologia é nula”. E ainda: “Sobre o que é o homem e, basicamente, o que é a humanidade, eles não sabem nada, esse é o grande vazio”. Ora, “o homem não vive somente de pão, não só isso: é um vazio abissal”. E a proposta do prelado seria de justamente de “recriar a humanidade e não somente sobreviver e comer”.
Por fim, conclui Dom Michel Aupetit: “Por que não confiar em nós? Por que os mercados, os pequenos museus, as mediatecas tem o direito de receber pessoas e as igrejas não têm esse direito? Isso não está bem”.
Sobre isso ver também:
Arcebispo de Toulouse: com recusa do governo missas clandestinas começariam
Lojas abertas e igrejas fechadas: o que é mesmo essencial?
Missas públicas suspensas: a grande Sexta-Feira Santa da Igreja
[1] BARRUEL, Augustin. Histoire du Clergé pendant la Révolution Française. Londres : Baylis, 1800, t. 1.
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