Após a queda de Damasco, núncio na Síria alimenta a esperança de reconciliação
“Aqueles que assumiram o poder prometeram que respeitariam a todos, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, afirma o núncio.
Redação (08/12/2024 11:25, Gaudium Press) Em uma breve conversa telefônica com o Vatican News na manhã deste domingo, o Núncio Apostólico em Damasco, o Cardeal Mario Zenari, relatou as últimas horas na capital síria, que foi capturada pelos rebeldes. Ele espera a recuperação do país, a coexistência pacífica e, acima de tudo, o respeito pelas tradições religiosas.
“Estou acordado desde as cinco horas da manhã de hoje. Eu estava com medo porque o tempo todo ouvia tiros, tiros, tiros, até mesmo agora há tiros na rua, como é de costume nessa área, mas as pessoas estão atirando para o alto para comemorar porque esse problema, que causou tanta preocupação, foi resolvido. Graças a Deus, foi sem derramamento de sangue ou carnificina”, disse o núncio, expressando alívio com o resultado relativamente moderado.
Nas primeiras horas da manhã, os rebeldes marcharam para Damasco, depois de a terceira maior cidade do país, Homs, além de Aleppo terem caído nas mãos dos rebeldes. Simbolizando a mudança de regime, a destruição da estátua em Damasco dedicada a Hafez al-Assad, pai do presidente Bashar, que morreu em 2000, marcou o fim de uma dinastia que não conseguiu conter o descontentamento da população, o que levou a uma guerra civil nos últimos 14 anos.
Os rebeldes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) anunciaram a queda da capital pela televisão e declararam a derrubada de Bashar al-Assad, cujo destino ainda não estava claro até o meio-dia. De acordo com relatos da mídia, ele pode ter procurado refúgio na base aérea russa em Hmeimim, na província de Latakia, de onde pode ter sido levado de avião para Moscou. O primeiro-ministro al-Jalali foi preso, segundo informações. Todos os prisioneiros foram libertados, enquanto os rebeldes pediam aos cidadãos e combatentes que protegessem o patrimônio do Estado.
Segundo o núncio, “aqueles que assumiram o poder prometeram que todos serão respeitados, que uma nova Síria surgirá, e esperamos que eles cumpram suas promessas, mas é claro que o caminho à frente ainda é incerto”.
Ele acrescentou que “os rebeldes se reuniram com os bispos de Aleppo muito rapidamente, nos primeiros dias, e garantiram que respeitariam as diferentes denominações religiosas e os cristãos. Esperamos que eles mantenham essa promessa e que avancemos em direção à reconciliação”.
“Portanto, esperamos agora que, com a ajuda da comunidade internacional e a boa vontade de todos os sírios, possamos embarcar no caminho da reconciliação, da reconstrução e de um mínimo de prosperidade para toda a população”, concluiu o Cardeal Mario Zenari.
Abu Mohammed Al-Jawlani, chefe do grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS) que tomou a Síria, já fez parte do grupo jihadista Al-Qaeda e do ISIS, mas agora afirma que é mais moderado. O HTS impõe a lei islâmica em áreas que controla, mas dizem que é de uma maneira bem menos rigorosa do que os grupos jihadistas. Porém, grupos de direitos humanos acusaram o HTS de reprimir protestos públicos e de abusos de direitos humanos.
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