Anunciação e Encarnação: vitória de Maria
A humildade de Maria, renunciando à maternidade ao fazer o voto de virgindade, levou Deus a dar-Lhe o maior dos privilégios concedidos a uma mulher: ser Mãe do Messias, Jesus, o Filho de Deus.
Redação (08/04/2024 08:54, Gaudium Press) À primeira vista, a vida de Nossa Senhora esteve toda marcada pelo absurdo, desde a infância: queria Ela permanecer inteiramente consagrada a Deus no Templo, mas precisou voltar para o mundo; prometera ao Senhor manter-Se virgem, mas teve de Se casar; embora fosse santíssima, a Encarnação fez d’Ela um elemento de terrível prova para São José, cuja santidade ímpar era inferior apenas à de sua imaculada Esposa…
Essa via de provas paradoxais e paroxísticas, na qual Maria caminhava entre absurdos e despropósitos, escondia a incalculável predileção de Deus para com uma missão cuja estatura não tinha proporção com o criado, mas somente com o Criador.
Com efeito, a Maternidade Divina consiste em mais um paradoxo: Deus, embora onipotente, precisou verdadeiramente da Santíssima Virgem. Não por uma necessidade absoluta, mas porque Ele quis, pois faz parte do governo da Providência submeter a realização de seus planos à aceitação das criaturas escolhidas para levá-los a cabo.
Logo, Deus dependeu de Maria para que Nosso Senhor Jesus Cristo fosse quem foi!
O que aconteceria caso Nossa Senhora a isso Se negasse? É impossível calcular. Apenas podemos conjecturar: toda a História estaria arruinada, e nada do que houve de bom teria ocorrido. Da barbárie que já então imperava, a humanidade desabaria na desagregação; os homens resvalariam, de ingratidão em ingratidão para com o Criador, em revoltas cada vez mais ousadas, deletérias e autodestrutivas. E nesta rampa em constante aceleração, caberia acrescentar a crescente indignação de Deus contra a humanidade e os castigos que se sucederiam…
O Fiat
Portanto, o “fiat!” de Nossa Senhora deu-se no momento da bifurcação auge da História, em que se decidia entre milênios de desgraças e milênios de graças.
Quando São Gabriel narrou-Lhe que o Senhor preparava, para muitos séculos depois, um período no qual o Sangue de seu Divino Filho deitaria seus frutos mais excelentes, Maria experimentou enorme alegria e consolação, obtendo as forças que procurava para dar sua resposta…
Foi-Lhe revelado que, por expresso desejo da Santíssima Trindade, Ela reinaria efetivamente sobre todos os homens, o que Lhe conferiria a oportunidade de oferecer a Deus a glória que seu ardoroso e imaculado Coração almejava.
Entretanto, para comprar – enquanto Corredentora e Medianeira Universal – a nova era da graça, Ela precisaria carregar sozinha o peso acumulado de vários milênios de pecados, ingratidões e infidelidades, superando toda a maldade anterior com o fulgor de sua imaculada santidade.
Assim, lembrando-Se de sua promessa, Deus perdoaria ao homem sua desobediência primeira e operaria um inaudito mistério de misericórdia, do qual a Encarnação constituiria apenas o primeiro capítulo: a fundação da Igreja, a instituição dos Sacramentos, a companhia do Redentor “até o fim do mundo” (Mt 28, 20), a imortalidade de seu Corpo Místico, a garantia de um clero fiel…
Sem dúvida alguma, todos esses dons foram conquistados por Cristo na Cruz, mas Ele só Se encarnou porque Maria contribuiu fielmente com o desígnio divino, sofrendo o inenarrável pela nossa salvação. Apenas no Juízo Final poderemos ter ideia do quanto tal porvir de graças custou à Santíssima Virgem…
Ora, uma vez comprado, esse futuro torna-se irreversível. E é impossível medir sua envergadura pois, de todas as maravilhas represadas por Deus no Coração de Nossa Senhora, a mais bela parte ainda está por vir. Tudo quanto o Altíssimo prometeu, Ele o realizará em Maria e por Maria. Confiemos e esperemos, porque “mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam” (I Cor 2, 9).
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 219, março 2020.
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