A sintonia entre Putin e o Patriarca Ortodoxo Kirill
A revista Veja dedica um bom espaço para analisar a polêmica figura do Patriarca Kirill.
Redação (29/03/2022 08:55, Gaudium Press) Em sua última edição, a revista Veja qualifica o Patriarca Ortodoxo de Moscou, Kirill, como o “Papa” que dá sustentação religiosa ao expansionismo russo.
No artigo, além de coisas mais ou menos fúteis – como a que ele usa um relógio no valor de mais de 30.000 dólares e que ele quis negar – há outras que não são tão fúteis, como a acusação de que ele era um agente ativo da KGB na época soviética encarregado de infiltrar doutrinas pró-soviéticas no Conselho Mundial da Paz ou no Conselho Mundial de Igrejas; ou a de que, antes de se tornar patriarca, foi enviado ao Conselho Mundial de Igrejas para promover a Teologia da Libertação na América Latina, com o objetivo de enfraquecer a Igreja Católica.
Um cardeal, como o Cardeal Duka de Praga, já acusou a dupla Putin-Kirill de cesaropapismo, ou seja, da encarnação pseudo-imperial de uma união absoluta entre Igreja e Estado que exerce um governo completo. A revista Veja lembra que, na Rússia, esse entendimento entre poder eclesiástico e poder civil tem até uma designação própria: “sinfonia”, ou seja, atuação perfeitamente coordenada como as notas de uma única melodia.
A revista relembra algumas das recentes expressões do Patriarca Kirill em defesa da invasão da Ucrânia: “nós vemos isso [a Ucrânia] como uma ameaça, e temos o direito de usar a força para garantir que a ameaça seja erradicada”; ou esta: “entramos num conflito que tem importância não apenas física, mas metafísica. Estamos tratando da salvação da humanidade, algo muito mais importante do que a política”. São expressões que confirmam seu total alinhamento com Putin, e justificam o título de “sustentador do expansionismo de Putin”.
De fato, expressões bombásticas em relação a Putin não faltaram em sua carreira, quando chamou o presidente russo de “milagre de Deus”, pelo forte apoio dado à Igreja Ortodoxa, inclusive na reconstrução de igrejas ou na construção de novas.
Um mosaico muito revelador
Como exemplo dessa união total entre Igreja e Estado que existe na Rússia, o colunista da revista Veja coloca a Igreja das Forças Armadas, uma construção nova, com piso metálico feito de canhões e outras armas capturadas da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
Em fato pouco conhecido, a Veja informa que naquela igreja tinha até um mosaico de Stalin, pintado num retrato levado por soldados num mural, mas que foi retirado da versão final. E que o próprio Putin, o ministro Serguei Lavrov, das Relações Exteriores, e o atualmente oculto ministro da Defesa, Shogun, também foram removidos do mural, por ordem do próprio Putin.
Em outras palavras, um hierarca civil é um hierarca civil, não importa se é do passado, do presente ou do futuro, não importa até mesmo que tenha um estigma global e milhões de mortos nas costas: ele deve ser venerado.
É difícil que, nessa “sinfonia”, sejam introduzidas notas de humanidade para Kirill que impeçam uma carnificina a partir da doutrina de Cristo.
Deixe seu comentário