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A palavra como meio de evangelização

O mundo encontra-se hoje numa crise semelhante e, por alguns lados, até pior que a da época de Nosso Senhor. Rezemos para que Ele faça desaparecer o quanto antes a inveja, o ódio e a sanha destruidora do mal que reinam em nossos dias.  

Pregacao

Redação (23/01/2022 16:06, Gaudium Press) Já de início, em sua vida pública, Jesus nos indica um elemento essencial da evangelização: o uso da palavra. “Ensinava nas suas sinagogas…”

Ao longo de toda a História, sempre foi de capital importância para a Religião a pregação sobre as verdades eternas. Essa necessidade tornou-se ainda mais patente ao nascer o Evangelho, estendendo-se até a atualidade, como podemos comprovar pelas palavras de Paulo VI, na Carta Encíclica Ecclesiam Suam, de 6 de agosto de 1964, quando se refere à “suma importância, que a pregação cristã conserva, e hoje desempenha de maneira especial no quadro do apostolado católico […]. Nenhuma forma difusora do pensamento a substitui, nem mesmo as dotadas tecnicamente de extraordinária potência, como são a imprensa e os meios audiovisivos. Apostolado e pregação, equivalem-se em certo sentido. A pregação é o primeiro apostolado. O nosso, veneráveis irmãos, é, antes de tudo, ministério da Palavra. […] Devemos voltar ao estudo, não já da eloquência humana ou da retórica vã, mas sim da arte genuína da palavra sagrada”.[1]

Eloquência maravilhosa, atmosfera de bênção

E qual não deveria ser a maravilhosa eloquência empregada pelo Divino Mestre em suas pregações?

Sendo a Sabedoria Eterna Encarnada, nada havia que Ele não conhecesse ou não soubesse explicar. Todos os acontecimentos e todas as minúcias das Escrituras Lhe eram inteiramente familiares, e por isso discorria sobre qualquer tema não só com aisance[2], mas também com arte, dignidade e perfeição.

Em consequência, “era aclamado por todos” (Lc 4, 15), “todos davam testemunho em seu favor, e admiravam-se das palavras de graça que saíam de sua boca” (Lc 4, 22). E São João, em outro episódio da vida de Jesus, reproduz estas palavras de admiração: “Nunca homem algum falou como este homem” (Jo 7, 46).

Cumprindo à risca os preceitos, Jesus frequentava as reuniões realizadas nas sinagogas, aos sábados, e aproveitava para pregar. “Um dos atos sinagogais consistia na leitura de passagens bíblicas e sua explicação. Depois de ler alguma passagem da Lei, lia-se uma dos profetas. O chefe da sinagoga designava quem deveria fazê-lo. Depois de lida, a mesma pessoa, ou outra, era convidada a comentá-la. Fazia-se a leitura de pé, e a passagem dos profetas, ao menos nessa época, podia ser escolhida livremente. Fazia-se a leitura e explicação de um local elevado”.[3]

Jesus é convidado a fazer a leitura naquele sábado, o primeiro após seu retorno oficial à cidade de Nazaré, e em seguida recebe o livro de Isaías para comentar uma passagem. Como sabemos, os livros estavam escritos em rolos de pergaminho e guardados em um armário, segundo determinada ordem. Jesus, numa simples abertura, encontrou uma linda profecia a respeito do episódio que ocorria exatamente naquele instante.

Procuremos viver a cena que Lucas nos descreve. Deram-lhe o livro do Profeta Isaías:

“Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor’” (Lc 4, 17-19).

Não é necessária muita sensibilidade para se perceber que foi criada uma atmosfera de especial bênção, no momento em que Deus feito homem, Jesus, filho de Davi, levantou-se para ler um trecho da Escritura inspirada por Ele mesmo, havia séculos. São Lucas faz notar o ambiente de grande tensão dos ouvintes, à espera do comentário:

“Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele” (Lc 4, 20).

O Evangelista registra apenas uma curta frase desse comentário:

“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21).

Admiração transformada em inveja

O Evangelho deste domingo encerra-se com o comentário acima. Mas nos versículos seguintes (cf. Lc 1, 22-30) vem narrado o desfecho do episódio. Depois de um surto inicial de admiração, sobreveio a desconfiança e, em seguida, o ódio mortal: “Encheram-se de ira. Levantaram-se, lançaram-No fora da cidade, e conduziram-No até ao cume do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para O precipitarem”.

São Lucas resume num só ato as várias intervenções de Jesus em Nazaré, por razões de síntese e até mesmo pelo empenho de manter a beleza literária de sua obra. Em realidade, houve numa primeira fase muita admiração por Jesus por parte dos habitantes dessa cidade e, provavelmente, um desejo egoísta de tê-lo como subalterno das grandes figuras locais.

A natureza humana concebida no pecado original, se não é fiel à graça de Deus, assim sempre reage. Após o primeiro surto de admiração, vem a comparação; em seguida, a vontade de tirar proveito; logo se levanta a inveja, da qual nascem o ódio e a sanha de destruir.

Rezemos pelo mundo de hoje

O mundo hoje também encontra-se numa crise semelhante e, por alguns lados, até pior que a da Antiguidade na qual Jesus iniciou de maneira magistral sua vida pública. Ou Ele liberta os cativos dos horrores do pecado e restitui a vista aos cegos atolados nas paixões e nos vícios, e novamente proclama “um ano de graça da parte do Senhor”, ou teremos chegado ao fim da História.

Ora, Maria afirmou em Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!” Esse triunfo se dará, e com certeza.

Rezemos para que a inveja, o ódio e a sanha destruidora do mal, por muitos séculos se sintam acanhadas para assim ser durável, quando se estabelecer nesta Terra, o Reino de Cristo por meio do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria!

Extraído com adaptações de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: Comentários aso Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v.6, p. 37-47.


[1] PAULO VI. Ecclesiam Suam, n. 51.

[2] Do francês: facilidade.

[3] TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. V, p. 792.

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