A música levou o criador do método Suzuki a se converter ao catolicismo
Shinichi Suzuki, ao perceber a beleza da música e seu impacto na vida das pessoas, desenvolveu um método inovador de ensino musical e se tornou membro da Igreja Católica.
Redação (26/12/2024 15:58, Gaudium Press) Após assistir a um concerto com 400 crianças interpretando canções folclóricas, Vivaldi e Bach, o renomado violoncelista Pablo Casals ficou tão emocionado que não pode conter as lágrimas. Um clipe que mostrava 1.200 jovens violinistas despertou tanto interesse entre os músicos americanos que decidiram viajaram ao Japão para aprender diretamente com Shinichi Suzuki, o homem cuja visão possibilitou esse milagre. O método revolucionário de ensino de música de Suzuki se espalhou pelo mundo, transformando a maneira como pensamos sobre educação em geral.
A beleza da música
Shinichi Suzuki (1898-1998) não pretendia se tornar um músico. Nascido em uma família de empresários, ele sempre imaginou seguir carreira na fábrica de violinos da família. Suzuki recordava-se de passar tempo nas lojas dos luthiers (violeiros), onde junto com seus irmãos brincavam com violinos, que eram vistos apenas como brinquedos.
Foi apenas na adolescência que Suzuki teve contato com uma gravação de violino. Hipnotizado pelo som, decidiu aprender a tocar instrumento, iniciando seu estudo. Após alguns anos, Suzuki viajou para a Alemanha, onde conheceu o famoso violinista Karl Klingler, que o aceitou como aluno. Assim, começou a educação musical de Suzuki.
Tendo iniciado sua jornada musical em uma idade mais avançada, Suzuki sabia que nunca se tornaria um músico de destaque. Em suas memórias Nurtured by Love, ele escreveu que seu objetivo não era “tornar-se um artista, mas compreender a arte”. Ele participou de todos os concertos que lhe foram possíveis, e dedicava cinco horas diárias à prática.
Durante seus estudos, Klingler apresentou Suzuki aos círculos culturais de Berlim. Lá, ele teve a oportunidade de conhecer outros músicos: um jovem violinista que improvisava na sala de estar de um amigo, um médico que também se revelou um pianista esplêndido, e a esposa do médico — uma cantora de talento. Além disso, Suzuki teve a honra de conhecer Albert Einstein e ouvir sua interpretação no violino em reuniões particulares.
Foi nesse período que Suzuki conheceu sua futura esposa, Waltraud Prange. De acordo com uma curta biografia escrita na época de sua morte no International Suzuki Journal:
“Waltraud era solista soprano na Igreja Católica que ela frequentava [em Berlim]. Sem que ela soubesse, Suzuki começou a frequentar as missas dominicais para ouvi-la cantar.”
Em suas próprias memórias, My Life With Suzuki, Waltraud Prage Suzuki escreveu: “Suzuki costumava ir à igreja sem que eu soubesse e se tornou católico muito antes de nosso casamento”.
Realidade que transcendia as habilidades musicais
Ao observar os católicos, Suzuki descobriu uma realidade que transcendia as habilidades musicais mais avançadas: eles eram modestos, possuíam elevada sensibilidade intelectual, eram generosos e bem-educados. Eles não apenas se destacavam em suas respectivas ocupações, mas, mais importante, conquistaram seu coração. Suzuki compreendeu “o que o estudo da música pode fazer por uma pessoa”.
Ele constatou que “se um músico deseja se tornar um bom artista, ele deve primeiro se esforçar para se tornar uma pessoa melhor”.
Não foi o sucesso que o atraiu, mas a bondade das próprias pessoas, o espírito despretensioso e generoso que conferia autenticidade e atratividade às suas atuações externas.
Formando pessoas de bem
Incutir excelência e virtude por meio da música tornou-se a missão de Suzuki.
De volta ao Japão, ele começou a ensinar. Solicitado a lidar com um aluno muito jovem, Suzuki procurou um método adequado para instruir o jovem. Ele percebeu que toda criança aprende a falar sem o menor esforço ou pressão, simplesmente porque ouve os outros falarem, imita a fala e tem oportunidade de praticar. Se o mesmo método pudesse ser aplicado à música, pensou Suzuki, as crianças poderiam aprender com entusiasmo e rapidez. Suzuki mais tarde descreveu a abordagem da seguinte maneira:
“Isso me levou à compreensão de que toda criança pode adquirir altas habilidades, e também à descoberta da Lei da Habilidade (toda habilidade é adquirida por meio da prática). O Método Suzuki é uma abordagem para educar cada criança a alcançar habilidades excepcionais.”
Suzuki ensinou música às crianças com resultados surpreendentes, envolvendo os pais para que cercassem a criança com música, fazendo-a ouvir gravações e, em seguida, ensinando a técnica real por meio da divisão das tarefas em elementos mínimos e exercícios diários.
Seu objetivo não era formar músicos profissionais, mas formar pessoas excelentes, cujas qualidades pessoais e habilidades comprovadas lhes permitissem prosperar em qualquer área. Ele entendia que a construção do caráter, dos talentos e do repertório intelectual são fruto do meio onde nos desenvolvemos durante a infância.
“Ensinar música não é meu objetivo principal. Quero fazer nobres seres humanos. Se uma criança ouve boa música desde o dia do seu nascimento, e aprende a tocá-la ela mesma, desenvolverá disciplina, sensibilidade e resistência. Ficará com um belo coração”.
“Esta é a maior tarefa de suas vidas”, frisou Suzuki aos pais. “Permitam-me pedir que eduquem seus filhos para se tornarem pessoas de bem”.
Quando Suzuki morreu em 1998, ele foi homenageado pelo Japão — e recebeu um funeral católico.
Com informações Aleteia
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