A inveja: causa de divisão
A inveja encontra morada em muitos corações e é a causa de muitas divisões no seio de uma família…
Redação (23/09/2023 16:53, Gaudium Press) A liturgia deste 25º Domingo do Tempo Comum nos alerta a respeito de um vício que causa verdadeiros desastres na alma humana e, por vezes, divisão no seio de uma família: a inveja.
Como vencer este vício? Como enfrentá-lo?
Meus pensamentos não são os vossos…
A primeira leitura, extraída do livro do profeta Isaías, recolhe as palavras de Deus dirigidas ao povo eleito:
“Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra” (cf. Is 55,8).
Ora, por que Deus dirige ao povo palavras tão duras e severas?
Se analisarmos a caminhada do povo hebreu no Antigo Testamento, veremos que, com facilidade, ele deixava-se arrastar por toda sorte de costumes pagãos que o levava a praticar iniquidades, pelo que Deus o punia.
Entretanto, após Deus o corrigir com castigos, reclamavam-lhe o perdão e arrependiam-se de suas faltas.
Todavia, este itinerário de queda e reerguimento do povo judeu repetiu-se inúmeras vezes…
Porém, qual a sua causa?
Quando o homem vive à base do egoísmo, colocando o seu coração onde não deve estar, não há pecado que ele não seja capaz de cometer. E um deles é a inveja.
A inveja do bem alheio
O Evangelho deste domingo narra a parábola do patrão que contratou empregados para trabalharem em sua vinha. Chamou alguns pela manhã, outros à tarde, e mais outros no fim do dia. A todos prometeu uma moeda de prata. Ao pagar o salário, o patrão deu a mesma quantia para todos, conforme lhes havia prometido. No entanto, alguns empregados, movidos pela inveja, revoltaram-se, pois, tendo trabalhado todo o dia, julgaram merecer um valor maior que os demais, contratados depois deles.
O patrão, por sua vez, respondeu que tinha pleno direito de dar a cada um o que bem desejasse (cf. Mt 20,1-15),[1] e concluiu:
“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16).
Ora, o que vem a ser a inveja? Este vício “é o apetite desordenado da própria excelência”,[2] e “um dos pecados mais vis e repugnantes que se possa cometer”.[3] Ele causa no homem a tristeza pelo bem alheio, uma mágoa no coração que não o contenta enquanto o outro não for mal sucedido ou até mesmo arruinado e destruído. O bem de outra pessoa passa a ser imputado “como se fosse um golpe vibrado à sua superioridade”.[4] Deste lastimoso e repugnante vício, brotam do coração humano a maledicência, a difamação, a calúnia, o ódio, as brigas e tantos outras pecados, sendo a raiz de muitas divisões na própria família e entre amigos.
A virtude da Caridade
Nesta esteira, não é de estranhar o fato de a sociedade hodierna estar maculada, de modo particular, por este vício, ao colocar o seu fim neste mundo. Se ela soubesse que a paz e o sossego da alma se encontram somente na disposição de desejar o bem do próximo, alegrando-se e louvando a Deus por sua dadivosa, hierárquica e gratuita benevolência, muitas intrigas se desfariam…
Logo, cabe-nos pedir a Deus a excelência da virtude da Caridade, a fim de exclamarmos como São Paulo: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7).
Por Guilherme Motta
[1] A atitude do patrão, narrada no Evangelho de São Mateus, não é de maneira alguma injusta. São Tomás explica a este respeito que “quando se dá gratuitamente, cada um pode dar livremente a quem quer, mais ou menos, contanto que não recuse a ninguém o que lhe é devido; e isto sem prejuízo da justiça” (cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q. 23, a. 5, ad 3).
[2] ROYO MARÍN, Antonio. Teología Moral para seglares. 7 ed. Madrid: BAC, 1996, v. I, p. 488.
[3] Ibid.
[4] TANQUEREY, Adolphe. Compendio de Teología Ascética y Mística. 4 ed. Madrid: Palabra, 2002, p. 455.
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