A importância da integridade
O que ofereceremos a Nosso Senhor na festa de seu Nascimento? O Evangelho deste 2º Domingo do Advento nos sugere um ponto: a integridade.

Pregação de São João Batista – Mosteiro de San Millán de la Cogolla (Espanha) Foto: Francisco Lecaros
Redação (06/12/2025 18:22, Gaudium Press) Cada tempo litúrgico do ano vem acompanhado de uma graça específica para ajudar-nos a dar algum passo em nossa vida espiritual. O Advento é um tempo de preparação para o Natal e, portanto, uma ocasião para fazermos um bom exame de consciência sobre algum ponto. Qual aspecto a Santa Igreja nos aponta hoje?
Um convite a um passo a mais
“Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia. ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’” (Mt 3, 1-2).
A liturgia nos apresenta a figura de São João Batista exortando as pessoas a se converterem, tendo em vista a proximidade do Reino dos Céus. Comentando esse trecho, o Padre Manuel de Tuya, afirma que o ofício do Precursor do Messias era composto de três partes: exortação à penitência, o batismo e a confissão dos pecados. Sobre a primeira, o comentarista chama atenção ao termo usado para “penitência”, no grego “μετανοειτε” (metanoeite), que não significa propriamente o aspecto “físico”, por assim dizer, da penitência, mas algo muito mais profundo, uma mudança de mentalidade, de modo de pensar, que para os judeus indicava também uma mudança no modo de ser.[1] Vemos, portanto, que o santo convidava o povo a um passo a mais na linha da integridade.
“Os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão vinham ao encontro de João. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão” (Mt 3,5-6)
Vemos nesse trecho que muitas pessoas acompanhavam as pregações do Santo. O que causava toda aquela movimentação? Certamente o fato de que São João não só ensinava uma doutrina, mas também a vivia, dando aos outros o exemplo.
“Raça de víboras”
“Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: ‘Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar?’” (Mt 3,7)
Os fariseus e saduceus tinham na época o domínio do panorama sociopolítico, mas, quando viram o movimento causado pela figura do Batista nas multidões, ficaram com medo de ter seu poder abalado. Então logo se dirigiram ao deserto para dar a impressão de terem aderido àquela onda de fervor, não com a intenção de pedir perdão pelos seus pecados, mas apenas de “bater o cartão” diante da opinião pública, recebendo o batismo.
Quando os viu, o profeta discerniu a dissimulada disposição que tinham e imediatamente os repreendeu: “Raça de víboras!”[2] Comenta Mons. João Clá Dias que assim como a serpente foi o animal utilizado por Satanás para fazer Eva pecar no Paraíso, assim também São João os intitulava dessa forma por serem instrumentos de pecado para os outros.[3] Nesse sentido vale lembrar a repreensão dada por Nosso Senhor em outro trecho do Evangelho: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.” (Mt 23,15)
Do que adianta a mera aparência?
“Produzi frutos que provem a vossa conversão. Não penseis que basta dizer ‘Abraão é nosso pai’.” (Mt 3,8-9)
Eis o problema dos fariseus e saduceus: a falta de integridade. Com efeito, eles queriam aparentar algo diante dos homens, sem se importar em ser diante de Deus. Por isso eles tinham tanto temor de perder a liderança e o poder da opinião pública, pois lhes faltava a força da integridade, da transparência. A multidão corria aos pés de São João Batista, pois viam nele uma coerência que não encontravam nos outros.
“O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo” (Mt 3,10).
Com efeito, no juízo, Deus não julga as aparências, mas o interior. Não adianta apenas ostentar o nome de cristão para ser salvo, mas é preciso viver de acordo com esse nome. Não nos iludamos, no juízo não haverá possibilidade de darmos um jeitinho para ir ao Céu, é necessário que vivamos de acordo com a nossa Fé.
Portanto, peçamos a Nossa Senhora graças de discernimento para analisarmos se estamos de fato querendo ser diante de Deus ou se estamos apenas aparentando diante dos homens. Que Ela nos conceda também confiança e forças para darmos este presente ao Menino Jesus na festa de seu nascimento: o propósito de levarmos uma vida realmente íntegra, sem duplicidade ou hipocrisia.
Por Artur Morais
[1] Cf. TUYA, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. V, p. 52.
[2] Apesar da tradução litúrgica brasileira apresentar “raça de cobras venenosas”, o texto em grego fala em γέννημα ἔχιδνα (gennhma ecidna) e a Neo Vulgata traduz para progenies viperarum, isto é, “raça de víboras”
[3] Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 1, p. 36.





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