A Igreja americana dá “um passo atrás no tempo”?
A mudança musical é apontada como um dos primeiros indícios dessa transformação, com a substituição de hinos contemporâneos por melodias da Europa medieval.
Redação (03/05/2024 11:08, Gaudium Press) Uma imensa mudança em direção aos costumes antigos impacta a Igreja Católica nos EUA, conforme noticiado pela influente e laica agência de notícias Associated Press, em um artigo de autoria de Tim Sullivan.
A reportagem traz um título que fala por si só: “Um passo atrás no tempo”: a Igreja Católica dos Estados Unidos vê uma imensa mudança em direção aos antigos costumes. Mas a que exatamente se refere?
“A primeira coisa que mudou foi a música”, diz AP. Ou será que a música foi apenas o indício de uma mudança mais profunda?
Em um dado momento, os paroquianos da Igreja de Santa Maria Goretti, em Wisconsin, perceberam que os hinos contemporâneos, com uma tradição de décadas, haviam sido “substituídos por música enraizada na Europa medieval”.
Além disso, “os sermões ficaram mais focados no pecado e na confissão. Os sacerdotes raramente eram vistos sem batina. Por um tempo, as coroinhas ficaram ausentes.” Na escola paroquial, os alunos começaram a ouvir falar sobre o aborto e inferno, embora de forma discreta.
É claro que a Paróquia Santa Maria Goretti é apenas um ‘sintoma’ do que está acontecendo em diversas partes dos EUA. “Em todo o país, a Igreja Católica está passando por uma imensa mudança”, informa a AP.
“A mudança, impulsionada pela queda na frequência à igreja, sacerdotes cada vez mais tradicionais e um número crescente de jovens católicos em busca de mais ortodoxia, remodelou as paróquias em todo o país”, disse a agência com sede em Nova York.
“Os católicos conservadores continuam a ser uma minoria”, decreta, mas “é impossível ignorar as mudanças que trouxeram”.
Uma certa onda de padres progressista pós-conciliar que dominou a igreja dos EUA nos anos, após o Vaticano II, está agora na casa dos 70 e 80 anos. Muitos estão aposentados. Alguns estão mortos. Os padres mais jovens, mostram as pesquisas, são muito mais conservadores”.
“Eles dizem que estão tentando restaurar o que nós, idosos, arruinamos”, contou à AP o Pe. John Forliti, de 87 anos, um sacerdote aposentado que lutou pelos direitos civis e reformas na educação sexual nas escolas católicas.
Obviamente, há quem rejeite esta tendência de “retrocesso”, mas a AP ressalta que “há muitos que a acolhem”.
“Eles costumam se destacar nos bancos, com homens de gravata e mulheres às vezes com a cabeça coberta por um véu, que praticamente desapareceu das igrejas americanas há mais de 50 anos. Muitas vezes, pelo menos algumas famílias chegam com quatro, cinco ou até mais filhos, indicando sua adesão à proibição da Igreja à contracepção, que a maioria dos católicos americanos casualmente ignorou por muito tempo”.
Confissão frequente, adesão integral ao ensinamento da Igreja, “muitos anseiam por missas que ecoam com as tradições medievais – mais latim, mais incenso, mais cantos gregorianos”, aponta a AP.
“Queremos essa experiência espiritual que é diferente de tudo em nossas vidas”, disse Ben Rouleau, que até recentemente liderava o grupo de jovens adultos de Santa Maria Goretti. “É [um pouco] radical em alguns aspectos.” “Estamos voltando às raízes da Igreja”, afirmou.
Crescimento da EWTN, crescimento de centros conservadores que atendem estudantes universitários católicos, “hoje a América católica conservadora tem sua própria constelação de celebridades online voltadas para os jovens”. Há uma Irmã Miriam James, Jackie François Angel ou o Pe. Mike Schmitz.
E embora a frequência à missa, ou acesso aos sacramentos, tenha diminuído nas últimas cinco décadas entre aqueles que se dizem católicos, os que estão comprometidos com a Igreja são, em grande parte, conservadores.
São diversos os tipos de conservadores descritos no artigo de Sullivan para a AP: “O movimento ortodoxo também pode parecer um emaranhado de perdão e rigidez, onde a ênfase na misericórdia e na bondade se misturam com advertências sobre a eternidade no inferno”.
Sullivan observa que o movimento conservador também se revela no meio universitário, como no Benedictine College, no Kansas, “porque no Benedictine, o ensino católico sobre contracepção pode se transformar em lições sobre Platão, e ninguém ficará surpreso se você se voluntariar para as orações das 3 da manhã. Pornografia, sexo antes do casamento e tomar sol em trajes de banho são proibidos. Se essas regras parecem preceitos de uma época passada, isso não impediu que os alunos migrassem para as universidades beneditinas e outras católicas conservadoras”, relata a AP.
No entanto, o editor destaca que esse grupo ainda não representa a maioria.
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