A guerra pode não acabar com a Ucrânia, mas acabou com a Covid!
“Existem mais mistérios entre o Céu e a Terra do que possa supor a nossa vã filosofia”. (Sir William Shakespeare)
Redação (05/03/2022 18:40, Gaudium Press) Durante dois anos acompanhamos as notícias e as estatísticas do aumento do número de casos de covid-19, hospitais lotados, pessoas entubadas, falta de leitos em UTIs, alto índice de contaminação, mutações do vírus, mortes, enterros coletivos, reflexos na economia, filas homéricas para o recebimento de auxílios, fome, ajuda humanitária, políticas de enfrentamento e queda de ministros.
Por dois anos, ficamos confinados, usamos máscaras, nos isolamos, ficamos sem trabalhar, muitos perderam seus empregos e seu poder aquisitivo, ficamos proibidos de nos aglomerarmos, de circularmos por muitos lugares, de rezarmos juntos, de irmos à escola. E até gastamos as nossas mãos de tanto lavá-las ou higienizá-las com álcool em gel.
Presenciamos obediências e desobediências; sucessos e fracassos; esforço hercúleo de médicos, enfermeiros e outros agentes da saúde e desvio de verbas e de equipamentos hospitalares; solidariedade e golpes financeiros. Vimos gente de bem empobrecendo e oportunistas enriquecendo.
Ficamos no fogo cruzado das vacinas, entre o toma/não toma, têm efeitos colaterais/não têm efeitos colaterais, são eficazes em tal porcentagem/depois nem tão eficazes e, por fim, soubemos que uma dose não bastava, precisava tomar o reforço e, depois, o reforço do reforço, e assim por diante. Acompanhamos as mutações do vírus e vimos que ele continuava atacando, mesmo às pessoas tri-vacinadas.
Ainda sem conhecer os efeitos da variante Ômicron, soubemos que ela tinha um altíssimo poder de transmissão e que não se intimidava com a barreira das vacinas. Dessa forma, muitos que já tinham recebido duas ou três doses da vacina acabaram se contaminando. E até os sintomas mudaram.
Criou-se o passaporte de vacinação, sem o qual não se podia acessar determinados lugares, sobretudo nas grandes capitais. Sanções foram impostas com relação a viagens internacionais, com pessoas impedidas de entrar e sair de alguns países se, junto com o passaporte, não apresentassem também os comprovantes de vacinação.
E, claro, como estamos no Brasil, em algumas cidades foi descoberto um esquema de venda de atestados de vacinação falsos, para que pessoas não vacinadas tivessem livre acesso a lugares que exigiam a comprovação.
Também não vou defender as teorias da conspiração que afirmam que a doença foi artificialmente criada. O que sei é que – em uns países mais, em outros menos, em linhas gerais – essa doença parou o mundo.
Rússia invade Ucrânia
Não há dúvida de que todas essas coisas nos abalaram. Porém, de repente, algo inesperado aconteceu: no dia 24 de fevereiro, a Rússia invadiu a Ucrânia, numa guerra que, quando escrevo este artigo, já entra no seu décimo dia. E não é que parece que a guerra conseguiu acabar com a pandemia?
Antes, bastava que três ou quatro pessoas se reunissem para haver a contaminação. Agora, de um momento para outro, milhares de pessoas estão aglomeradas em espaços exíguos, como abrigos subterrâneos e estações de metrô, com pouquíssima ventilação e precárias condições de higiene…
Mais de um milhão de pessoas já deixou a Ucrânia, acotovelando-se nas fronteiras com a Polônia e outros países vizinhos, depois se reunindo em tendas improvisadas, viajando em ônibus ou trens abarrotados, e não se ouviu mais falar em covid.
Quando a gente acha que já viu de tudo na vida, vem uma surpresa dessas! Nem isolamento, nem álcool em gel, nem lavar todas as compras do supermercado e tirar roupas e sapatos antes de entrar em casa, nem o uso contínuo de máscaras ou a tríplice dose da vacina conseguiu fazer o que em poucos dias os tanques, metralhadoras, bombas e mísseis russos e ucranianos conseguiram.
E, assim como os efeitos nocivos da guerra já atingem a economia global, os seus efeitos salutares, sobre a doença pandêmica, espalharam-se pelo mundo com uma velocidade tão grande que, na maioria dos países, inclusive no Brasil, os governos anunciam a retirada das máscaras nos próximos dias.
É claro que qualquer guerra é uma coisa terrível e muito lamentável, mas uma vez que, ao que tudo indica, a invasão da Ucrânia pela Rússia era já planejada há um bom tempo, é de se lamentar que Putin não tenha sido mais “visionário” e colocado seus planos em prática antes… Já que o vírus se mostrou tão suscetível a tiros de canhão e ameaças de um ataque nuclear, tivesse esse infeliz conflito começado antes e o nefasto vírus talvez nem tivesse saído de Wuhan.
Parece que, por mais que nos tomemos por sábios e bem informados, somos obrigados a concordar com Sir William Shakespeare quando ele diz que “existem mais mistérios entre o Céu e a Terra do que possa supor a nossa vã filosofia”. De fato, há coisas que a nossa inteligência não alcança e só mesmo Deus é capaz de compreender e nos ajudar a aceitar…
Afonso Pessoa
Deixe seu comentário