A grande missão de Justiniano não cumprida
No século VI, a Divina Providência suscitou, na ordem temporal, um varão para combater as heresias predominantes e restaurar a verdadeira Fé. Chamava-se Justiniano e tornou-se Imperador do Oriente, em 527. Entretanto, ele não foi fiel a essa grandiosa missão.
Redação (26/11/2021 15:09, Gaudium Press) Originário de família simples, esse “homem reto e bom, de costumes austeros, católico sincero numa época de heresias, capaz de impor a sua vontade, era, além disso, dotado de grande formosura pessoal e singular majestade natural”.
Logo após galgar ao trono, foi enleado por Teodora, cujo progenitor era domador de ursos de um circo e falecera sendo ela ainda menina. Dotada de notável beleza, Teodora se precipitou depois na vida desonrosa. Além da impureza, caiu no orgulho pretendendo ocupar o mais alto cargo. Tudo fez para atrair a atenção de Justiniano e o conseguiu.
O Imperador revogou a lei que proibia aos dignitários do Império o consórcio com mulheres de má vida, e casou-se com ela provocando escândalo em toda a população. A mãe de Justiniano morreu de tristeza ao tomar conhecimento do fato. De mais a mais Teodora apoiava o monofisismo, heresia que negava a natureza humana de Jesus Cristo. Ela exerceu péssima influência sobre o Imperador.
Revolta de Nika
Em 532, no hipódromo de Constantinopla houve corridas de bigas, com a presença de Justiniano e Teodora. Grande era o número de assistentes, os quais se dividiam em várias facções, sendo as principais a dos azuis e a dos verdes.
Os azuis, cuja maioria era de católicos, bradavam contra Teodora pela sua condição de filha de um domador de ursos. E os verdes, muitos deles monofisitas, gritavam contra o Imperador acusando-o de tirano.
Tendo Justiniano mandado executar os principais líderes de ambos os partidos, eclodiu sangrenta revolta na população. Atearam fogo na Igreja de Santa Sofia, em palácios e até mesmo em residências comuns; um imenso incêndio se espalhou por toda a cidade de Constantinopla. Durante três dias, houve saques e massacres dos partidários da Corte, cujos cadáveres eram arrastados pelas ruas e lançados no Bósforo.
Estando o hipódromo repleto de revoltosos – que gritavam “Nika”, vitória –Justiniano ordenou ao General Belisário que solucionasse a questão. Ele reuniu o seu exército, cercou o local e investiu: 30.000 pessoas foram mortas. Assim, a sedição, que passou para a História com o nome de “Revolta de Nika”, se extinguiu.
Belisário conquista o Norte da África e Roma
Justiniano continuou seu governo, erigiu 25 igrejas e, entre outras atividades, dedicou-se ao estudo do Direito. “Muito inteligente, tornou-se um verdadeiro jurista: está demonstrado que ele presidiu a todas reuniões importantes da codificação do Direito Romano, trabalho ao qual se deve a salvaguarda dos elementos principais desse Direito hoje conhecidos.”
Assim, foi publicada uma coleção de leis conhecida como “Código de Justiniano”.
Explica Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que, com o intuito de restaurar o Império Romano do Ocidente – portanto o bom programa, antes da influência de Teodora –, Justiniano, em 533, enviou Belisário à África do Norte, a qual estava em poder dos vândalos.
Além de uma esquadra imensa, o grande general levou 6.000 cavaleiros bem como 10.000 infantes, e conseguiu derrotar os bárbaros.
Voltando a Constantinopla, Belisário foi recebido triunfalmente. O Imperador tomou o nome de Justiniano Vandálico Africano, e a Igreja começou a reflorescer no Norte da África.
Em 536, o General tomou Roma que estava dominada por bárbaros. Em face ao grande número de inimigos com os quais se defrontava, ele pediu e recebeu ajuda militar de Justiniano. Assim, conseguiu conquistar outras cidades entre as quais Ravena.
Um Papa é arrastado pelas ruas de Constantinopla
A ímpia Teodora, que apoiava hereges, perseguiu o Papa São Silvério, varão intransigente diante do mal, o qual morreu exilado numa ilha, em 547.
Sucedeu-o Vigílio, que anteriormente havia se deixado influenciar por Teodora e foi excomungado por São Silvério. Entretanto, ao assumir o pontificado, ele recebeu insigne graça divina e adquiriu firmeza de alma.
A Imperatriz, verdadeira tirana, ordenou-lhe que nomeasse como Patriarca de Constantinopla um herege. Ele recusou praticar essa traição à Santa Igreja Católica e por isso foi levado à força de Roma àquela cidade.
Estando Vigílio diante de Justiniano e Teodora, no Palácio Imperial, um indivíduo lhe deu uma bofetada no rosto. O Papa conseguiu escapar, entrou numa igreja, que era lugar de asilo, e permaneceu abraçado a uma coluna junto ao altar. Por ordem de Teodora, Vigílio foi retirado do templo e arrastado, com uma corda ao pescoço, pelas ruas de Constantinopla. Depois lançaram-no numa prisão, e seu único alimento era pão e água.
Pouco tempo depois, Teodora, atingida por um câncer que lhe causava dores lancinantes, morreu. Contava apenas 48 anos de idade…
Peste que matou dois terços da população
Justiniano começou a suspeitar de Belisário: não lhe enviou as tropas por ele pedidas e retirou as que estavam na Itália.
Tótila, rei ostrogodo e militar brilhante, reconquistou Roma. E Belisário, desprovido dos recursos necessários, voltou para Constantinopla, fracassando, assim, a ofensiva para restaurar o domínio católico na Itália.
Assumiu, então, o comando das tropas imperiais um general nada brilhante, mas bom estrategista: Narses. Embora estivesse com 74 anos de idade, ele, comandando 30.000 homens, derrotou Tótila e entrou em Roma, em 552, onde foi acolhido com entusiasmo pelo clero, senado e povo.
Atendendo às súplicas dos romanos, Justiniano permitiu que o Papa Vigílio regressasse a Roma, após oito anos de grandes humilhações e sofrimentos físicos no Oriente. Mas na viagem de volta, em 555, ele morreu em Siracusa, na Ilha da Sicília.
Durante o governo de Justiniano, houve uma das mais terríveis pandemias ocorridas até então, que matou dois terços da população mundial e é conhecida como “Peste de Justiniano”.
Semelhante à Peste Negra – que dizimou a Europa no século XIV –, ela se transmitia através de ratos. A cidade mais atingida foi Constantinopla, onde morreram perto de 300.000 pessoas.
Durante os últimos anos de Justiniano, os lombardos devastaram a Itália e os persas ameaçaram invadir Constantinopla. Tornando-se muito malquisto pela população, ele faleceu em 565, com 83 anos de idade.
Por Paulo Francisco Martos
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