A Cruz nos abriu as portas do Céu
Quem é tocado pelo pecado e olha Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, encontra o remédio para seus males, mas ai de quem procura a solução fora d’Ele!
Redação (14/09/2024 09:27, Gaudium Press) Quando Adão e Eva, por causa do pecado, foram expulsos do Paraíso, as portas do Céu se fecharam para o homem, e assim teriam permanecido até hoje se não fosse a Redenção. Poderíamos chorar nossa culpa, mas as lamentações de nada adiantariam para nos alcançar o convívio eterno com Deus, pois só uma iniciativa d’Ele o poderia fazer. E foi o que aconteceu quando Se encarnou e morreu por nós na Cruz.
É por isso que a Igreja quer concentrar a atenção dos fiéis nesse augusto Madeiro, celebrando a festa da Exaltação da Santa Cruz, e no dia seguinte a comemoração de Nossa Senhora das Dores, que une à Cruz as lágrimas de Maria Santíssima, Corredentora do gênero humano. Em ambas as celebrações, a Liturgia nos permite venerar de modo especial o instrumento de nossa salvação, o qual passou a ser objeto de adoração a partir do momento em que Jesus Cristo foi nele crucificado, com terríveis cravos que transpassaram sua Carne sagrada. Tal é o poder do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo! Devemos adorar a Cruz com a mesma latria que tributamos ao Homem-Deus, tanto por ser imagem d’Ele quanto por ter sido tocada por seus membros divinos e inundada por seu Sangue. Por este motivo, recomenda-se manter duas velas acesas durante a exposição de uma relíquia do Santo Lenho.
O Filho desceu do Céu para abraçar a Cruz
Qual foi a via escolhida por Deus para consumar a entrega de seu Filho ao mundo? A mais perfeita de todas — pois Ele não pode desejar para Si nada que seja inferior — mas causa espanto: a morte de Cruz! Nós preferiríamos que Ele triunfasse sobre o mal desde o início e não sofresse os tormentos da Paixão. Na verdade, se Jesus oferecesse ao Pai um simples fechar de olhos, um gesto, uma palavra ou um ato de vontade, seria suficiente para reparar nosso pecado.
Contudo, segundo ensina São Paulo, “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-Se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-Se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 6-8). Sendo Deus, o Filho possui a alegria eterna e poderia ter dado à sua natureza humana uma vida terrena cheia de deleites. Não obstante, a natureza divina comunicou a Cristo-Homem o gozo de abraçar a Cruz, ser nela pregado e morrer, cumprindo a vontade d’Aquele que O enviara (cf. Jo 5, 30), para salvar os homens da morte eterna.
Foi com o intuito de nos salvar que a Santíssima Trindade promoveu a vinda do Filho ao mundo. Desde toda a eternidade a Cruz esteve na mente de Deus, com um papel central na História, como instrumento para a realização da perfeição das perfeições do universo, sua maior honra e sua excelsa beleza: a Redenção. Diante deste panorama é possível, inclusive, entender porque Deus permitiu o pecado. No plano da criação, a suprema glória não é a inexistência deste mal, mas o Homem-Deus, que Se deixou prender e crucificar, por amor a nós.
À primeira vista, então, pareceria contraditório o que comemoramos nesta festa: a Exaltação da Santa Cruz. No entanto, a Cruz, outrora considerada como o pior dos desastres na vida de alguém, um símbolo de ignomínia que serviu para a execução de tantos criminosos, é hoje exaltada pela Igreja porque Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo mostrando o quanto ela Lhe é própria. É “o sinal do Filho do Homem” (Mt 24, 30) e Ele a transformou em sinal de triunfo!
A Cruz, fonte de glória
A Cruz é a via da glória. Com quanta razão se diz: “Per crucem ad lucem — É pela cruz que se chega à luz”.
Se queremos atingir a santidade, nada é tão central quanto saber sofrer. O traço comum de todos os Santos é justamente sua atitude diante da Cruz. De fato, o momento decisivo de nossa perseverança não é aquele em que a graça sensível nos toca e damos passos vigorosos na virtude, mas, sim, a hora da provação, quando as tentações nos assaltam e experimentamos nossa debilidade.
Não foi sem motivo que, ao ensinar o Pai Nosso, o Divino Mestre disse “livrai-nos do mal”; mas Ele não empregou o mesmo verbo no pedido referente às tentações: “não nos deixeis cair em tentação”. Ser tentado é algo inevitável e necessário depois do pecado original. Nessa hora, devemos resistir abraçados à cruz, certos de que nela se encontra nossa única esperança: “Ave Crux, spes unica!”.
E quando cometemos uma falta ou nossa vida interior parecer encalhada, dando-nos a impressão de não sermos amados por Deus, lembremo-nos de que esta sensação é contrária à revelação feita por Nosso Senhor; pensemos que Deus nos ama tanto, que o Filho teria Se encarnado e sofrido a Paixão de Cruz para salvar a cada um de nós, individualmente.
Glorifiquemos transbordantes de júbilo, nesta festa, o sinal de nossa salvação e o penhor da ressurreição futura, e saibamos carregar sempre a própria cruz com amor e veneração, tal como o fez nosso Salvador antes de começar a Via-Sacra.
Por Mons. João Sconamiglio Clá Dias, EP
Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n. 153, setembro 2014.
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