A Apresentação do Menino Jesus e a Purificação de Maria Virgem
No Templo, Jesus Se oferece ao Pai para resgatar os homens, por meio de Maria, e também por Ela é entregue à Igreja, nas mãos do velho Simeão.
Redação (01/02/2025 12:01, Gaudium Press) Bela como todas as passagens do Evangelho, a Liturgia do dia 2 de fevereiro focaliza o resgate do Menino Jesus e a Purificação de Nossa Senhora. Esses dois atos se passam dentro da casa do Senhor, o Templo de Jerusalém.
O cumprimento da profecia
“Porque isto diz o Senhor dos exércitos: ‘Ainda falta um pouco, e Eu comoverei o céu e a terra, o mar e todo o universo. Abalarei todas as nações, e virá o desejado de todos os povos; e encherei de glória esta casa. […] Minha é a prata, meu é o ouro. […] A glória desta casa será maior que a da primeira. […] E darei a paz neste lugar’” (Ag 2,7-10).
Quem poderia imaginar a cena na qual a profecia de Ageu se cumpriria? O Templo na glória de sua inauguração, ou na esperança da hora de sua reconstrução, jamais acolheu alguém mais importante: o próprio Criador Menino, nos braços de sua Mãe, para ser oferecido ao Pai!
Tem Ele já o pleno uso da razão, apesar de ainda tão criança. Quais teriam sido, então, seus pensamentos ao cruzar o portal daquele sagrado edifício? Grande emoção humana num Coração Infante e Sagrado, que ardia em desejo de Se oferecer como vítima expiatória. Já ao ser concebido por obra do Espírito Santo no claustro de sua Mãe, esse ofertório se efetivara. Durante os trinta anos em Nazaré, a vida do Cordeiro de Deus foi uma constante renovação desse ato supremo da entrega de Si próprio em holocausto, que atingiu seu ápice no Calvário.
Mas foi quando Simeão, representante do povo judeu, tomou o Cristo nos braços para entregá-Lo ao Pai, que a oferenda ganhou um caráter oficial. O sacerdote se uniu a Cristo nesse momento, ou vice-versa? É um belo problema teológico.
Graça maior do que ter o Menino Jesus nos braços
“…Simeão tomou o Menino nos braços…” (Lc 2,28a)
Que graça extraordinária! Talvez depois de São José, Simeão tenha sido o primeiro varão a gozar dessa indizível felicidade. Deus lhe deu mais do que prometera.
Porém, nós ainda recebemos mais do que Simeão, pois, na hora da Comunhão, nossa união com Cristo é muito mais íntima. Que Simeão nos obtenha a graça de comungar diariamente como ele mesmo teria gostado de fazê-lo.
“…e bendisse a Deus: ‘Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos…’” (Lc 2,28b)
Mais uma vez transparece, por suas próprias palavras, a fidelidade desse varão. Certamente suas forças estiveram para abandoná-lo várias vezes. Quais não devem ter sido suas súplicas a Deus para que não falhasse em sua divina promessa? Quantas vezes não terá sido provado: “Será que agora morrerei sem ter visto o Messias?”.
Não O vimos, nem O vemos, mas, na Eucaristia, podemos unir-nos a Ele mais intimamente do que Simeão. Que felicidade a nossa!
Sinal de contradição, para se revelarem os segredos dos corações
“Este Menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição” (Lc 2,34b).
No primeiro livro de suas homilias, São Beda, o Venerável, assim se expressa: “Com júbilo ouvem-se essas palavras, que exprimem haver sido destinado o Senhor a conseguir a ressurreição universal, conforme o que Ele mesmo disse: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá’ (Jo 11,25). Mas quão terríveis soam aquelas outras palavras: ‘Este Menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento!’.
“Verdadeiramente infeliz aquele que, depois de haver visto sua luz, fica, sem embargo, cego pela névoa dos vícios… porque, segundo o Apóstolo ‘melhor fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de tê-lo conhecido, tornarem atrás, abandonando a lei que lhes foi ensinada’ (2 Pd 2,21).
“Contradizem-No os judeus e gentios, e, o que é mais grave, os cristãos que, professando interiormente o Salvador, desmentem-No com suas ações”.[1]
“Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2,35a)
Continua São Beda: “Antes da Encarnação, estavam ocultos muitos pensamentos, mas uma vez nascido na Terra o Rei dos Céus, o mundo se alegrou, enquanto Herodes se perturbava e com ele toda Jerusalém. Quando Jesus pregava e prodigalizava seus milagres, enchiam-se as turbas de temor e glorificavam o Deus de Israel; mas os fariseus e escribas acolhiam com raivosas palavras quantos ditos procediam dos lábios do Senhor e quantas obras realizava.
“Quando Deus padecia na Cruz, riam com alegria néscia os ímpios, e choravam com amargura os piedosos; mas, quando ressuscitou dentre os mortos e subiu aos Céus, mudou-se em tristeza a alegria dos maus, e se converteu em gozo a pena dos amigos”.[2]
Ainda hoje e até o Juízo Final, os cristãos, outros Cristos, são “sinais de contradição” e, em função deles, revelar-se-ão os pensamentos escondidos nos corações de muitos.
O ensinamento de Maria Virgem para nós
Quanto à Purificação da Virgem Maria, está ela adstrita à Lei mosaica (cf. Lv 12). Porém, Maria não precisava cumprir nenhum dos requisitos da Lei. No entanto, assim procedeu a Mater Ecclesiæ, para, entre outras razões, ensinar-nos com que amor e carinho devemos seguir as leis da Igreja.
Maria, Corredentora, e o amor às nossas cruzes
“Quanto a Ti, uma espada Te traspassará a alma” (Lc 2,35b)
Maria é corredentora do gênero humano. Essa profecia de Simeão, Ela já a conhecia. Mais ainda, estaria gravada em seu espírito até a ressurreição de Jesus. Ela é a Rainha dos Mártires e, desde a Anunciação, sofreria com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Nós somos convidados neste trecho do Evangelho a dar um caráter de holocausto às dores que nos forem permitidas pela Providência. Tenhamos amor às cruzes que nos cabem, unindo-nos a Jesus e a Maria nessa grandiosa cena da Apresentação.
Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2013, v. 7, p. 33-41.
[1] BEDA. Homiliæ Genuinæ. L. I, hom. XV: ML 94, 81.
[2] Idem, 82.
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