Gaudium news > Presidente da Regional Nordeste 4 diz que setor tem “Igreja pobre a serviço dos mais pobres”

Presidente da Regional Nordeste 4 diz que setor tem “Igreja pobre a serviço dos mais pobres”

Cidade do Vaticano (Sexta, 25-09-2009, Gaudium Press) Em entrevista ao jornal Osservatore Romano, D. Sérgio da Rocha, arcebispo de Teresina e presidente da Regional Nordeste 4 (Piauí) da CNBB, setor do episcopado que encerra amanhã sua visita ad Limina Apostolorum a Roma, falou sobre a situação da Igreja em seu estado, sobre os desafios que a comunidade religiosa tem encontrado e sobre os trabalhos missionários.

Entre outros assuntos abordados, o arcebispo falou sobre a parceria e o envio de missionários a Moçambique, a situação do movimento Grito dos Excluídos e a realização das medidas missionárias propostas pelo documento de Aparecida.

Dom Sérgio está à frente da Igreja em um dos estados mais pobres do país, mas também que concentra o maior percentual de católicos, 90,53%, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A entrevista a seguir foi feita pelo jornalista do Osservatore Nicola Gori.

 

Como se poderia definir a Igreja na circunscrição eclesiástica regional do Nordeste 4?

A Igreja do Nordeste 4 tem uma face realmente missionária. Vivemos em um momento particular de renovação missionária nas comunidades, no espírito de Aparecida. Nas oito dioceses que compõem a nossa Igreja local são realizadas com entusiasmo as visitas e as missões populares no quadro mais amplo da missão continental. A missionariedade já fazia parte da vida da nossa comunidade, habituada às peregrinações, ao encontro com os outros, ao acolhimento fraterno. Por isto, na nossa região a renovação missionária, recomendada por Aparecida, tem encontrado uma rápida e generosa resposta, principalmente por parte dos fiéis leigos. Além disso, apesar da escassez de recursos humanos e econômicos, as Igrejas do Nordeste 4 estão realizando, há muitos anos, junto à região Nordeste 5 (Maranhão), um projeto missionário em Moçambique, com o envio de missionários, oferecendo suporte espiritual e material. Estamos em uma região muito pobre do Brasil, mas temos a riqueza da fé, em particular, a piedade popular, que anima a vida do nosso povo. Temos a alegria de ter no estado do Piauí o mais alto percentual de católicos do Brasil. Apesar disso não podemos nos contentar. Como Igreja missionária, queremos avançar sempre mais na evangelização dos pobres e dos sofredores, das periferias urbanas e das zonas rurais, de quantos se encontram distantes da comunidade, levando em consideração porém, com particular atenção, os desafios da cultura urbana, principalmente os “novos areópagos”.

O Grito dos Excluídos é o tema de uma iniciativa adotada recentemente. Faz parte do empenho em favor dos pobres e para promover a justiça social?

A missão no Nordeste brasileiro não poderia deixar de levar em consideração os pobres, as situações de exclusão, porque vivemos entre os mais necessitados do Brasil. Entre nós os pobres não são somente evangelizados, são também evangelizadores. A evangelização exige a missão profética. Esta última, porém, não se deve limitar às palavras, à predicação ou às simples denúncias. Deve ser acompanhada do anúncio, e também da experiência, da alegria e da esperança que nascem do encontro com Cristo. Deve traduzir-se em gestos concretos. Nas nossas dioceses são muitas as iniciativas empreendidas pelas comunidades paroquiais, pelas pastorais sociais, pelas comissões de Iustitia et Pax, pelas comissões de defesa e promoção da vida, pela Caritas, pelos movimentos e organismos eclesiais. Entre estas iniciativas há o “Grito dos Excluídos”, proposto pela CNBB por ocasião do dia em que se comemora a independência do país, (7 de setembro), iniciativa que até agora, porém, foi pouco difundida no Piauí. Na Conferência dos Bispos de Nordeste 4 tem maior relevância a peregrinação da terra e da água, que neste ano de 2009 teve como tema “A migração forçada e o trabalho em condição de escravidão”, problemas muito presentes na realidade do Piauí. Nas nossas dioceses se realizam, além disso, numerosos projetos sociais e iniciativas de solidariedade, como aconteceram este ano, por ocasião das enchentes, provocadas por fortes chuvas que deixaram muitas famílias sem teto. A solidariedade demonstrada em inumeráveis modos pelo povo do Piauí foi admirável.

Qual foi o papel dos leigos na evangelização?

Os leigos foram os novos protagonistas da missão. Os fiéis, homens e mulheres, tiveram um papel fundamental na evangelização, principalmente na catequese e na missão continental. É importante levar em consideração que no Piauí a fé foi transmitida por uma geração à outra, nas famílias, graças aos leigos, porque em muitas zonas era difícil que houvesse um sacerdote. Graças à falta de presbíteros, o que acontece ainda hoje em algumas localidades, a ação dos leigos tornou-se sempre mais necessária. Cresceu a consciência da sua importância na vida das comunidades e nos diversos âmbitos sociais. Devemos, porém, fazer ainda muito para uma maior participação dos fiéis leigos na evangelização.

Como foi recebido o documento de Aparecida nas dioceses?

O documento de Aparecida foi muito bem recebido nas nossas dioceses. Foram organizados diversos encontros de reflexão em vários níveis. Algumas situações foram reexaminadas exatamente à luz de Aparecida. As oito dioceses do Piauí estão colocando em prática o projeto da missão continental, com a coordenação de uma comissão central. Realiza-se também um grande projeto de distribuição e utilização de Bíblias, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, projeto que deverá ser realizado em modo mais intenso no final do ano em todas as dioceses do Estado.

O que está fazendo a Igreja para enfrentar fenômenos sociais como as migrações forçadas, o trabalho em condições de escravidão, a violência?

A realidade social do Estado do Piauí está entre as mais difíceis do Brasil. Quase 60% da população do Piauí vivem graças a ajuda do governo federal, com a “bolsa família”, e 25% são analfabetos. O Piauí é geralmente apontado como o estado mais pobre do Brasil. Entre as consequências desta situação há a migração forçada e o trabalho escravo, que atingem grande parte das famílias, provocando muito sofrimento e também a morte de trabalhadores, como foi denunciado pelas comissões de Iustitia et Pax e por setores da sociedade civil. Procuramos intensificar os nossos esforços a serviço dos migrantes, favorecemos o encontro entre as Igrejas de origem e as Igrejas de destino deles, vamos visitá-los nas plantações de cana-de-açúcar onde trabalham. Ademais, propomos diversos projetos. Só na arquidiocese de Teresina, são mais de quarenta os projetos sob a responsabilidade da ação social arquidiocesana.

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas