Papa: reduzir a fé a uma “lógica casuística” é hipocrisia e engano
Cidade do Vaticano (Sexta-feira, 24-02-2017, Gaudium Press) Durante a missa particular que o Papa celebra pelas manhãs na Casa Santa Marta, no Vaticano, ele fez seus comentários a partir do Evangelho de São Marcos, quando o evangelista trata da pergunta que os doutores da Lei fazem a Jesus durante sua pregação na Judeia:
“É lícito para um marido repudiar a própria mulher? “.
A pergunta é feita “para colocar Cristo à prova mais uma vez”, observou o Papa, que, para responder, inspirou-se na resposta de Jesus para explicar o que é que mais conta na fé. Explicou o Papa Francisco:
“Jesus não responde se é lícito ou não; não entra na lógica casuística deles. Porque eles pensavam na fé somente em termos de ‘pode’ ou ‘não pode’, até onde se pode, até onde não se pode. É a lógica da casuística: Jesus não entra nisso. E faz uma pergunta: ‘Mas o que Moisés vos ordenou? O que está na vossa lei? ‘. Eles explicam a permissão que Moisés deu de repudiar a mulher, e são eles a cair na própria armadilha. Porque Jesus os qualifica como ‘duros de coração’: ‘Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento’, e diz a verdade. Sem casuística. Sem permissões. A verdade. “
“Jesus sempre diz a verdade”
Francisco destaca que “Jesus sempre diz a verdade”. Ele “explica as coisas como foram criadas”, a verdade das Escrituras, da Lei de Moisés.
Jesus diz a verdade também quando os próprios discípulos o interrogam sobre o adultério: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.
…mas Jesus fala com uma adúltera
Como explicar então que Jesus falou “tantas vezes com uma adúltera, com uma pagã”?, já que isso é o adultério e essa é a sua gravidade, pergunta o Papa.
“Bebeu de seu copo, que não era puro?”. E no final lhe disse: “Eu não te condeno. Não peques mais”!
Como explicar isso?
O Pontífice esclarece a dúvida explicando:
“O caminho de Jesus – vê-se claramente – é o caminho (que vai) da casuística à verdade e à misericórdia. Jesus deixa a casuística de fora. Aos que queriam colocá-lo à prova, aos que pensavam com esta lógica do ‘pode’, os qualifica – não aqui, mas em outro trecho do Evangelho – como hipócritas. Também com o quarto mandamento eles negavam de assistir os pais com a desculpa de que tinham dado uma bela oferta à Igreja. Hipócritas. A casuística é hipócrita. É um pensamento hipócrita. ‘Pode – não pode… que depois se torna mais sútil, mais diabólico: mas até que ponto posso? Mas daqui até aqui não posso. É a enganação da casuística. “
Sair da casuística à verdade e à misericórdia não é fácil
Para Francisco, o caminho do cristão não cede à lógica da casuística, como mostrou Jesus.
Ele responde sempre com a verdade que o acompanha: “porque Ele é a encarnação da Misericórdia do Pai, e não pode negar a si mesmo. Não pode negar a si mesmo porque é a Verdade do Pai, e não pode negar a si mesmo porque é a Misericórdia do Pai”.
“Este é o caminho que Jesus nos ensina”, afirmou o Santo Padre: difícil de ser aplicado diante das tentações da vida.
“Quando a tentação toca o coração, este caminho de sair da casuística à verdade e à misericórdia não é fácil: é necessária a graça de Deus para que nos ajude a ir assim avante. E devemos pedi-la sempre: ‘Senhor, que eu seja justo, mas justo com misericórdia’. Não justo, coberto com a casuística. Justo na misericórdia, como Vós sois: Justo na misericórdia.
Justiça ou Misericórdia, qual delas?
Para encerrar seu pensamento Francisco perguntou para logo responder:
“Depois, uma pessoa de mentalidade casuística pode se perguntar: ‘Mas o que é mais importante em Deus? Justiça ou misericórdia? ‘. Este também é um pensamento doente… o que é mais importante? Não são duas: é somente uma, uma só coisa. Em Deus, justiça é misericórdia e misericórdia é justiça. Que o Senhor nos ajude a entender esta estrada, que não é fácil, mas nos fará felizes, a nós, e fará feliz muitas pessoas, “concluiu. (JSG)
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