Arcebispo argentino fala como fazer com que os cárceres se tornem lugares de verdadeira reabilitação
La Plata – Argentina (Quarta-feira, 13-04-2016, Gaudium Press) Impossibilitado de assistir pessoalmente ao início do ciclo letivo do Instituto de Formação do Serviço Penitenciário Bonaerense, Dom Héctor Águer, Arcebispo de La Plata – Argentina, enviou um escrito no qual aborda diversos aspectos da realidade penitenciária.
Inicia o prelado seu documento apresentando a recuperação dos detidos em termos de “conversão”:
“Não se pode ocultar a situação penosa que se vive nos cárceres da Província. Me refiro não somente às carências materiais (…) mas também às de ordem cultural e espiritual, quer dizer, a falta de humanidade plena, tudo o qual, se pode ser superado, faria dos lugares de detenção além de lugares onde segundo justiça se assumem com a pena das consequências do delito, âmbitos propícios para a recuperação, a reeducação dos internos para a vida da sociedade e a reinserção nela. Em termos cristãos isso se chama metanoia, conversão. Na realidade, penitenciário vem de penitência que é um sinônimo, através do latim, de metanoia. Segundo estas coincidências significativas, o Serviço Penitenciário teria que conceber-se como serviço para a plena recuperação humana dos detidos”.
O amor, entendido como uma busca do bem do outro, deve primar na atenção penitenciária: “Como poderá sanar-se a violência ancorada no ânimo de tantos presos se a principal resposta for uma violência maior? A que humanização poderia aspirar-se mediante a indiferença ou o desprezo, as ‘amizades’ cúmplices ou a mistura em uma trama de corrupção? Seria excessivo, ou utópico, pretender que ao Serviço Penitenciário o inspira-se o amor? Não o sentimental, mas a vontade reta de fazer o bem, com o esforço de compreender e perdoar, de colocar-se no lugar do outro. O cumprimento exato do ofício de um agente penitenciário é também compatível com a misericórdia”.
Um ambiente de decadência cultural
Existe una decadência cultural que se constitui como causal de muitos delitos: “Como se pode evitar, por exemplo, que tantos adolescentes e jovens se iniciem no delito se não se pode sanar antes a orfandade que viveram em suas famílias destruídas, ou inexistentes, que não merecem o nome de família porque não se fundam no matrimônio, mas em um rejunte provisório, ainda que esteja hoje legalizado? Se não viram trabalhar ao seu pai -decentemente, claro- ou não sabem que é? Se a marginalização os empurrou cedo a ser pequenas ‘mulas’, e depois dragões? Não merecem uma piedade especialíssima as ‘velharias’ quando com tanta facilidade se safam os mafiosos? Na minha opinião, estas causais e muitíssimas mais, poderiam ser ultrapassadas espontaneamente pelos agentes do Serviço Penitenciário Bonaerense ao exercer sua função necessária e nobilíssima”.
O prelado destacou em seu comunicado o importante trabalho que realizam os capelães penitenciários, para os quais somente pede plena liberdade de ação. A Igreja atende espiritualmente aos internos com a Palavra de Deus e os Sacramentos e propõem aos que são católicos “um retorno à inocência batismal”. Aos não católicos apresenta o caminho da iniciação cristã, e dessa maneira vai construindo o Reino de Deus.
Dom Aguer conclui sua mensagem manifestando que “no Juízo Final, Jesus se lembrará especialmente para recebê-los na vida eterna dos que o visitaram a Ele no cárcere: este preso e me vieram ver. Diante do estupor dos assim premiados, o Senhor sublinhará o dito: Lhes asseguro que cada vez que o fizerem com o menor dos meus irmãos, o fazem comigo (Mt 25, 36-40). Os presos, pequenos irmãos de Jesus! Vocês, queridos amigos, agentes do Serviço Penitenciário Bonaerense, teriam que pensar nessas palavras de Jesus para cumprir em plenitude com o que reclama seu ofício, mas para fazê-lo realmente, humanamente, cristianamente bem”. (GPE/EPC)
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