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Davi poupa Saul

Redação – (Sexta-feira, 11/12/2015, Gaudium Press) – Em seu execrando anseio de matar Davi, Saul acabou ficando ao alcance da mão do valente guerreiro. Mas Davi não quis eliminar aquele que era o ungido do Senhor.

Depois de Davi vencer os filisteus em Ceila, os seus seguidores já eram 600 homens. Perseguido pelo ímpio Saul, ele fugia de um lugar para outro, acompanhado de sua pequena tropa.

Despretensão de Jônatas

Estando Davi no deserto de Zif, Jônatas, filho de Saul, foi encontrar-se com ele e encorajou-o dizendo: “Não temas, pois a mão de meu pai não te atingirá. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o teu segundo” (I Sm 23, 17).

É bela a atitude despretensiosa de Jônatas. “Ele está certo doravante de que seu amigo será rei, e não lhe inveja esse título; ele espera pelo menos permanecer junto de Davi, ocupando o segundo posto.”[1]

Ambos renovaram o pacto de amizade diante do Senhor, e Jônatas voltou para sua casa. Os dois amigos não iriam mais se rever.

O valoroso guerreiro foi para o deserto de Engadi. Sabendo disso, Saul reuniu 3.000 soldados de elite e partiu em busca de Davi. Em certo momento, Saul precisou entrar numa gruta que era enorme; no fundo dela estavam Davi e seus seguidores. “Então Davi aproximou-se de mansinho e cortou a ponta do manto de Saul” (I Sm 24, 5).

Os soldados de Davi queriam que ele matasse Saul ali mesmo. Mas o varão de Deus disse-lhes que não levantaria a mão contra o ungido do Senhor. “E com palavras firmes, Davi conteve os seus homens e não permitiu que se lançassem sobre Saul” (I Sm 24, 8).

Respeito de Davi pelo ungido do Senhor

Quando Saul saiu da gruta, Davi se retirou logo depois e gritou atrás dele: “Senhor meu rei!”. Saul voltou-se e Davi, tendo se prosternado, disse-lhe:

“Por que dás ouvidos aos que te dizem que Davi procura tua ruína? Viste hoje que o Senhor te entregou em minhas mãos, na gruta. Pensei em te matar, mas refleti: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, pois ele é o ungido de Deus, e meu pai.’ Vê em minha mão a ponta do teu manto, e reconhece que não há maldade nem rebeldia em mim” (cf. I Sm 24, 10-12).

É de notar a humildade e o respeito de Davi que, mesmo depois das diversas tentativas homicidas de Saul, o chama de pai.

Então, Saul se pôs a chorar em voz alta. Depois reconheceu que Davi só queria o seu bem, enquanto ele, Saul, desejava-lhe apenas o mal. E acrescentou que naquele instante adquirira a certeza de que Davi seria Rei de Israel. E pediu-lhe que jurasse, em nome de Deus, que não eliminaria os descentes de Saul. E o fiel Davi fez o juramento.

Depois, Saul foi para sua casa; Davi e seus seguidores se dirigiram para um refúgio.

O arrependimento de Saul não foi sério e profundo, mas superficial e passageiro. Pouco tempo depois, ele novamente irá à busca do inocente Davi, tentando matá-lo.

Neste ínterim, faleceu o profeta Samuel, com a idade aproximada de 80 anos. Foi uma “perda enorme para Israel, embora o papel ativo de Samuel há muito tempo cessara”.[2]

“Todo o Israel reuniu-se para os funerais” (I Sm 25, 1) e ele foi sepultado em Ramá. Tal foi sua vida virtuosa que a Igreja o considera Santo, sendo sua memória celebrada em 20 de agosto.

Nabal recusa atender Davi

Davi dirigiu-se ao deserto de Maon, no qual havia uma localidade chamada Carmel, onde vivia Nabal com sua esposa Abigail, “muito sensata e bonita”. Nabal se tornara muito rico, possuía 3.000 ovelhas e mil cabras, mas era “grosseiro e mau” (I Sm 25, 3).

Estando passando por sérias dificuldades em encontrar alimento, Davi enviou dez jovens a Nabal a fim de lhe pedirem auxílio, utilizando as palavras: “Dá o que tiveres à mão a estes servos teus e ao teu filho Davi” (I Sm 25, 8).

Davi quis honrar Nabal por este número de enviados; ele havia prestado muito bons serviços a Nabal, protegendo seus rebanhos e pastores contra os malfeitores do deserto.[3] E, com grande modéstia, Davi se declara “filho” de Nabal.

O péssimo Nabal respondeu-lhes que não sabia quem era Davi, insinuando que ele seria uma espécie de escravo revoltado contra seu senhor.

Os jovens regressaram e contaram tudo a Davi, o qual ordenou a seus seguidores que cingissem a espada. E, acompanhado de 400 homens, ele partiu decidido a matar todos os servos de Nabal, do sexo masculino.

Um dos criados de Abigail informou-lhe a respeito do iminente perigo que todos ali corriam. E acrescentou que os servos de Davi sempre trataram muito bem os servos de Nabal, e que até mesmo lhes serviram de “muro de defesa, dia e noite” (I Sm 25, 16) contra os inimigos, enquanto eles apascentavam os rebanhos.

O que fará Abigail para salvar seus servos? Com profunda humildade, providenciará os meios para aplacar Davi.

Que Nossa Senhora nos livre do vício do orgulho que hoje campeia em todos os setores, e nos conceda a virtude da humildade.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (53))

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II, p.306-307 .
2 – Idem, ibidem, p. 312.
3 – Cf. FILLION, ibidem, p 312-313.

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