"São Francisco foi capaz de fazerse íntimo do crucificado", diz o Arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Segunda-Feira, 05-10-2015, Gaudium Press) Dom Jaime Spengler, Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em seu mais recente artigo dirige o olhar para a Cidade da Paz, Assis, na Itália. Ele afirma que lá foi inaugurado um caminho de simplicidade que continua encantando mentes e corações, tendo início a aventura de um homem que marcou e marca a história humana: Francisco de Assis.
Segundo o Prelado, o trovador do amor do Senhor pelo ser humano e pela criação inteira se tornou referência cristã e humana para todos os que desejam cooperar para a construção de um mundo melhor para as futuras gerações, mundo esse onde tudo possa encontrar o seu digno lugar.
O Papa Francisco afirmou: “Desta Cidade da Paz, repito com a força e a humildade do amor: respeitemos a criação; não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo ser humano! Cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra; calem-se as armas e que em toda parte o ódio ceda lugar ao amor, a ofensa ao perdão, a discórdia à união”.
Ainda de acordo com Dom Spengler, nós sabemos da necessidade de união, reconciliação e paz e assistimos, mundo afora, aos sinais de uma terceira guerra mundial acontecendo por etapas. “Entre nós, em nossas periferias – embora não reconhecida publicamente, testemunhamos tal realidade. A força do pobre e frágil trovador de Assis continua apontando caminhos para todos os homens e mulheres de boa vontade”, completa.
Para o Arcebispo, a oração de São Francisco, embora não tenha sido escrita por ele, condensa os anseios mais nobres e profundos do ser humano de todos os tempos. Ele explica que a oração é utilizada por fiéis de distintos credos e de diferentes tradições religiosas: “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz. Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”.
Além disso, o Prelado destaca que esta oração expressa beleza, simplicidade, transparência – aquilo que o coração humano nobre traz em si! Conforme ele, cada invocação extrai sua razão de ser da potência do amor que se alegra com a verdade (1Cor 13,6), um amor se torna dizível através da prece. “Ele é necessidade radical do ser humano. Quanto mais o ser humano se abre à experiência do amor autêntico; quanto mais ele se permite escutar os apelos do amor, tanto mais ele é capaz de compartilhá-lo”, acrescenta.
Outro aspecto mencionado por Dom Spengler é que Francisco de Assis, luz que brilhou sobre o mundo (Dante Alighieri), contemplando o Crucificado, foi despertado para a nobreza e a grandeza do amor sem reservas, sem medidas, que se expressa em todas as criaturas. Por isso, anunciava chorando “o amor não é amado; o amor não é amado”.
“Para o Pobre de Assis, o mundo, criado segundo o modelo divino, é uma trama de relações. Tudo tende necessariamente para Deus, cujo amor resplandece na cruz. Essa compreensão da realidade é de difícil compreensão, pois, para muitos, a cruz é loucura e escândalo”, enfatiza o Arcebispo.
Ele ainda cita mais uma vez o Papa Francisco: “Para o Poverello de Assis tudo está em relação; a própria ciência o confirma! O Prelado reforça que a partir da perspectiva da fé cristã, podemos dizer que a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas”.
Por fim, o Prelado salienta que podemos vislumbrar o porquê de Francisco de Assis ser considerado outro Cristo, protótipo do ser humano, pois ele soube compreender a realidade da criação; foi também ao encontro do “outro” não conhecido e temido – o sultão do Egito; foi capaz de fazer-se íntimo do Crucificado, e por isso foi-lhe impresso na carne as marcas da Paixão.
“Num mundo marcado por fragmentações, ele continua inspirando quem acredita no valor de cada criatura, de cada coisa e seu lugar na ordem do universo”, conclui. (FB)
Deixe seu comentário