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"O sofrimento nos recorda a infinitude", afirma o Arcebispo de Curitiba

Curitiba – Paraná (Quarta-Feira, 22/07/2015, Gaudium Press) “Sentir pesar ou amar o sofredor?” é o título do mais recente artigo de Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo de Curitiba, no Estado do Paraná. Ele afirma que a temática da dor e do sofrimento é uma das mais recorrentes na história do pensamento, da arte e dos questionamentos humanos. Para o Prelado, assim como o amor, também a dor encontra profundas e criativas expressões no frasário sapiencial popular, nos provérbios, nas canções, nos romances, nas páginas de filosofia.

Segundo o Bispo, a causa, a fonte, o sentido, até o poder libertador do sofrimento apresentam-se vigorosos nos parágrafos escritos com sabedoria e profundidade, mas, por outro lado, não passam desapercebidas as revoltas, as angústias e inquietações, os cansaços. “Até chegamos a reconhecer que a dor é um dos mistérios da vida, porém os interrogativos permanecem”, completa.

Para ele, o sofrimento nos coloca ante a crueza da finitude, mas também nos recorda a infinitude, quase como uma saudade do que nunca tivemos. Dom Peruzzo explica que é assim que se pode entender o evangelista Marcos no Evangelho deste domingo (Mc 6, 30-34). Jesus se retirara com os discípulos para um lugar deserto. Buscavam descanso. Precisavam disso. Foram de barco, mas, ao desembarcar, “Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”.

“O que significa sentir compaixão? Havia sofrimento, desorientação, indiferença (sem pastor). Não parece que se limitou a sentimentos pesarosos, como se apenas tivesse pena daquela gente muito carente e sem rumo. O mero sentimento, ainda que nobre, é sempre fugaz. Parece-se com algo que passa sem nada inspirar. Não move e nem comove. Seria uma comiseração refinada, mas sem efeitos, sem aproximação, sem solidariedade, sem vigor interpelativo”, avalia.

Ainda de acordo com o Prelado, a experiência bíblica de compaixão é mais que uma elevada afeição humana. Ele recorda que, no Antigo Testamento, era uma das mais pronunciadas características de Deus, pois suas compaixões desdobravam-se em respostas de aproximação reconciliadora ou libertadora. Dom Peruzzo salienta que no caso de Jesus, suas atitudes compadecidas davam a conhecer as inclinações de Deus em favor daquela gente.

“Se as multidões eram como ovelhas sem pastor, a imagem está a referir indiferença e frieza ante sua situação. Os gestos do Senhor compassivo recordavam-lhes que, embora em quadros difíceis, ainda assim eram preciosos aos olhos do Pai.”

Além disso, o Bispo afirma que vale um olhar para a origem etimológica, pois é muito pouco o apelo ao vocábulo latino cum/passio (“padecer com”). Ele explica que para “compaixão” é preciso ir até o grego antigo, porque lá ela está ligada às disposições maternas de conservar a vida.

“Naquela língua os termos compaixão e útero são equivalentes. Assim como o ventre materno acolhe a vida, envolve-a, protege-a e a faz nascer, algo semelhante fez o Senhor ao aproximar-se daquelas ovelhas sem pastor: suscitou-lhes a esperança com expressões de amor fraterno. Foi uma aproximação generativa, isto é, gerou algo”, ressalta.

Por fim, Dom Peruzzo diz que quem olha para as manchetes, as escolhas e comportamentos atuais talvez se deixe convencer de que a compaixão está a perder credenciais no elenco das qualidades humanas. Afinal, para ele, produtividade, eficiência, competitividade afiguram-se “pobres” de atitudes compassivas.

“Entretanto, tendo chegado a Curitiba há poucos meses, sem negar as durezas da grande metrópole, devo dizer, gratificado, que encontro muitos testemunhos de compaixão solidária. E percebi que a graça faz um bem imenso não apenas aos beneficiários. Parece que faz um bem maior aos compassivos”, conclui. (FB)

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