"A fé comporta abrir-se à eternidade", diz o Arcebispo de Curitiba
Curitiba – Paraná (Quarta-Feira, 08/07/2015, Gaudium Press) “Ser religioso ou ser uma pessoa de fé: distinções” é o tema do mais recente artigo de Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo de Curitiba, no Estado do Paraná. Ele afirma que impressiona o elevado grau de religiosidade disseminada por toda a parte, sendo que desde os tempos do iluminismo se anunciava o fim da religião.
Contudo, segundo o Prelado, por mais que a genialidade humana seja pródiga em sua força inventiva, quando tudo estaria a sugerir que a família humana seria mais feliz e justa, ainda assim enumeram-se as contradições da história. Ele explica que homens e mulheres, carentes e abastados, parecem sempre mais inquietos, uns pela falta, outros pelo excesso. “E Deus é sempre lembrado. Em muitos casos, infelizmente, até para legitimar a violência”, completa.
Ainda de acordo com o Arcebispo, é muito comum confundir experiência religiosa com experiência de fé. Para ele, também se fazem verdadeiros hibridismos entre religião e espiritualidade, e, embora sejam questões conexas, se faltar discernimento, prevalecerá muito mais a disputa entre religião e fé do que o encontro entre estas duas dimensões. Dom José destaca que a religião refere-se ao sagrado, ao inacessível, dotado de onipotência, e a pessoa religiosa se expressa com ritos e cultos, fazendo suas ofertas e apresentando seus pedidos
“Em muitas situações envolve um grande fascínio. Tem forte componente emotivo. Também faz parte da experiência religiosa a adesão a um corpo doutrinal. Mas ainda não chega a ser uma vivência de encontro com um Deus amoroso. Neste sentido, até as nossas novenas, vez por outra, podem carecer de maiores discernimentos. Elas correm o risco de serem apenas exercícios de religiosidade, o que é ambíguo”, acrescenta.
Outra questão abordada pelo Prelado é que a experiência de fé tem fundas raízes na religião, mas traz consigo alguns elementos diferenciadores. Conforme ele, a fé pede atitudes de relação, de confiança, de obediência, mas não se trata de relação submissa, nem confiança cega, tampouco se pensa em obediência fanatizada. Dom José ressalta que na experiência de fé conta muito, decisivamente, a liberdade pessoal.
Além disso, ele salienta que homem ou mulher de fé não é aquele(a) que tem certezas intelectuais e nem é fé aquela atitude psicológica parecida com pensamento positivo. Segundo o Prelado, estas são virtudes humanas, mas que ainda não integram ou constroem relações de confiança. Para ele, tem fé quem se dispõe a aderir e vincular sua liberdade em favor de alguém que confere sentido à vida presente e futura. Dom José reforça que a fé tem uma dimensão religiosa porque comporta abrir-se à eternidade, ao infinito, ao onipotente, mas mais do que aspectos de ritos, valem os vínculos de relação.
Retomando uma passagem do evangelho, podemos perceber que o mais sério problema dos discípulos não era o vento tempestuoso, não era a ameaça das ondas, mas era a sua pouca confiança. “O mar agitado era poderoso. O vento forte era ameaçador. Aos discípulos parecia mais lógica a certeza vinda de um milagre expectado do que a confiança na força, na autoridade e na palavra que de Jesus tinham ouvido. Eles eram homens religiosos. Mas ainda não tinham fé. O vento e o mar se curvaram ante a voz de Jesus. Os discípulos, porém, se apavoraram”, lembra.
Por fim, Dom José enfatiza que para chegar a ser uma pessoa de fé o caminho a percorrer não é o das elaborações filosóficas. “Não são os raciocínios complicados que me levam à obediência a Deus. Se se trata de relação e de confiança, então a disposição à oração é o passo primeiro. É por isso que encontramos no mesmo evangelho de Marcos uma sublime oração de súplica: ‘Senhor, vem em socorro à minha fé”’, conclui. (FB)
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