A serpente de bronze
Redação (Quinta-feira, 18/06/2015, Gaudium Press) – Os israelitas partiram do Monte Hor – onde havia falecido Aarão -, e durante a viagem começaram “a protestar contra Deus e contra Moisés, dizendo: ‘Por que nos fizestes sair do Egito? Para morrermos no deserto? Não há comida nem água, e já estamos com nojo desse alimento miserável'” (Num 21, 5).
Olhar com arrependimento e fé
Com essas torpes palavras, eles se referiam ao maná, que milagrosamente Deus lhes concedia durante longos 40 anos.
O Onipotente, então, os castigou mandando serpentes venenosas que, com suas picadas, provocaram a morte de muitos hebreus. Eles recorreram a Moisés, o qual pediu ao Senhor que os livrasse daquele mal.
Obedecendo a ordem do Altíssimo, Moisés fez uma serpente de bronze e colocou-a numa haste; “quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, ficava curado” (Num 21, 9). Vemos aqui, mais uma vez, o papel de intercessor exercido pelo profeta Moisés.
Não bastava fixar os olhos na serpente de bronze, mas era preciso olhá-la com arrependimento e fé. Afirma o Livro da Sabedoria: “De fato, quem se voltava [para a serpente de bronze] era curado, não por aquilo que via, mas por Ti, Salvador de todos” (Sb 16, 7).
Símbolo de Nosso Senhor
A serpente de bronze simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado.
A Nicodemos – que era membro do Sinédrio – o Redentor disse: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-15).
Segundo Tertuliano, assim como a serpente, tendo enganado Eva, espalhou o veneno da corrupção e da morte em todos os seres humanos – através do pecado original -, Jesus Cristo, representado pela serpente de bronze, dá a vida a todos os que O olham e põem n’Ele toda a sua confiança.
E “as serpentes ardentes representam os demônios, que nos têm ferido de morte com suas mordidas venenosas. Só Jesus pode nos curar”.
O Fundador dos Arautos do Evangelho escreve: “Conforme os comentaristas, entre as múltiplas imagens da Redenção do gênero humano, nenhuma é superior a esta: uma serpente sem veneno para curar os males produzidos por picadas de serpentes.” E acrescenta:
“Por que razão é o bronze a matéria da serpente salvadora? Variadas são as opiniões. Preferimos a de Eutímio: por representar Cristo, a serpente não deveria ser de substância frágil, de modo que pudesse tornar patente a diferença entre nossa carne, sujeita ao pecado, e a do Redentor, forte e invulnerável à mínima fímbria de imperfeição.”
Vitórias contra Seon e Og
Depois desse terrível castigo, certamente houve sincero arrependimento do povo. Por isso e, sobretudo, pelo amor crescente a Deus que possuía Moisés, os israelitas começaram a ter vitórias assinaladas contra os inimigos, as quais estão referidas no “livro das Guerras do Senhor” (Nm 21, 14).
“Este livro, que não é mencionado em nenhum outro trecho, continha sem dúvida os cânticos sagrados, compostos pelos bardos hebreus a fim de celebrar a marcha triunfal de Israel para a Terra Prometida.”
Assim, venceram Seon, rei dos amorreus, e Og, rei de Basã, com todos os habitantes dessas regiões, “sem deixar nenhum sobrevivente” (Dt 3, 3).
Dessa forma, os israelitas ocuparam grande parte do leste do Rio Jordão.
Peçamos a Maria Santíssima que nos consiga a graça de termos sempre os olhos postos no Redentor, para nunca cedermos às tentações provocadas pelo demônio, o mundo e a carne.
Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (33))
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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 501.
2 – Cf. TERTULIANO. Contra Marcion. Apud FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p.501 .
3 – CAULY, Eugène Ernest. Cours d’instruction religieuse – Histoire de la Religion e de l’Église.4. ed. Paris: Poussielgue. 1894, p.80.
4 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. III, p. 232.
5 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 502.
6 – Idem, ibidem, p. 505.
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