O bezerro de ouro
Redação (Quinta-feira, 14-05-2015, Gaudium Press) No alto do Sinai Deus revelou a Moisés os Dez Mandamentos, os quais – afirma o famoso exegeta Fillion – estão na base de toda verdadeira civilização. E sobrepujam infinitamente o que as antigas legislações contêm de mais perfeito; nada de humano lhes poderia ser comparado, e eles justificam plenamente sua celeste origem.1
Moisés permaneceu no Monte Sinai, em convívio com Deus, durante “quarenta dias e quarenta noites, sem comer nem beber água” (Dt 9, 9). Em vez de aguardar o profeta em espírito de oração, o povo cometeu gravíssimo pecado: a idolatria.
Os israelitas pediram a Aarão: “…faze-nos deuses que caminhem à nossa frente. Pois quanto a esse Moisés […] não sabemos o que aconteceu” (Ex 32, 1). O irmão do profeta acabou cedendo a esse pedido infame: mandou que todos trouxessem seus brincos de ouro e, fundindo o metal, fez um bezerro.
Aarão construiu também um altar, sobre o qual foi colocado o ídolo. Após ter oferecido ao bezerro de ouro sacrifícios, “o povo sentou-se para comer e beber, e depois levantou-se para se divertir” (Ex 32, 6).
Essa diversão certamente caminhava para a indecência, pois “as danças orientais, sobretudo quando associadas ao culto dos falsos deuses, degeneravam facilmente em licenciosidade”.2
Queimar, triturar e reduzir a pó
Percebe-se a péssima influência da idolatria dos egípcios sobre os israelitas, pois a figura do bezerro foi escolhida como lembrança do boi Apis, cultuado por aquele povo.
Quando viviam entre os egípcios, eles não procuraram convertê-los para Deus – não fizeram apostolado, diríamos hoje -, e assim suas almas ficaram amolecidas e propensas ao mal.
O Senhor contou, então, a Moisés, o que estava fazendo aquele “povo de cabeça dura”, e disse ao profeta: “Deixa que a minha ira se inflame contra eles e Eu os extermine” (Ex 32, 9-10).
Moisés suplicou a Deus que perdoasse aquela iniquidade, em memória da promessa que Ele fizera a Abraão, Isaac e Jacó. O Altíssimo atendeu ao pedido do profeta, o que mostra a importância de um intercessor.
Josué, que havia acompanhado Moisés no Monte Sinai (cf. Ex 24, 13), ao ouvir clamores de vozes, disse ao profeta que eram gritos de guerra. Mas o profeta afirmou que se tratava de cantorias do povo.
Quando viu o bezerro e as danças, “Moisés ficou indignado, arremessou por terra as tábuas [da Lei] e quebrou-as ao sopé da montanha. Em seguida, apoderou-se do bezerro que haviam feito, queimou-o e triturou-o, até reduzi-lo a pó. Depois, misturou o pó com água e o deu de beber aos israelitas” (Ex 32, 19-20).
Necessidade de frear as paixões
“Moisés viu que o povo estava desenfreado, porque Aarão lhe tinha soltado as rédeas” (Ex 32, 25). Deus ficou tão indignado contra Aarão que desejava tirar-lhe a vida, mas Moisés intercedeu por seu irmão e ele foi poupado (cf. Dt 9, 20). “O povo estava desenfreado…” Vemos, assim, a necessidade de frear nossas paixões, a fim de mantê-las ordenadas; do contrário elas nos conduzirão à pratica das piores iniquidades.
Depois, o profeta bradou: “Quem for do Senhor venha até mim!” (Ex 32, 26). Todos os levitas se reuniram em torno dele, e Moisés ordenou que, com a espada, matassem os principais culpados por aquele crime hediondo, mesmo se fossem seus parentes. Eles obedeceram e foram mortos cerca de três mil homens. Moisés, então, disse aos levitas: “Hoje vos consagrastes ao Senhor […], para que vos desse hoje a bênção” (Ex 32, 29).
“A tribo de Levi, com esse ato de zelo pela causa do culto de Javé, e esse ato de justiça […], mereceu a dignidade do sacerdócio, como Finéias, o pontificado (Nm, cap. 25).”3
O varão de Deus retornou ao alto do Monte Sinai, e lá ficou durante outros 40 dias e 40 noites, sem comer nem beber (cf. Ex 34, 28). Talhou duas tábuas de pedra, onde Deus novamente gravou os Dez Mandamentos (cf. Dt 10, 1-2). Essas tábuas foram posteriormente, por ordem do Altíssimo, guardadas na Arca da Aliança (cf. Dt 10, 5).
Quando Moisés desceu do Sinai, seu rosto emitia um brilho tão extraordinário que causava medo nos israelitas; por isso o profeta colocou um véu sobre a cabeça, retirando-o no momento em que se comunicava com Deus. Era um reflexo da glória divina, marcada miraculosamente em sua fisionomia para confirmar sua autoridade.4
Parafraseando o que afirma São Paulo a respeito dos judeus de seu tempo, podemos dizer que atualmente muitos indivíduos, por não levarem uma vida conforme os Dez Mandamentos, não compreendem o verdadeiro significado da Sagrada Escritura, porque “um véu cobre o coração deles. Mas todas as vezes que o coração se converte ao Senhor, o véu é tirado” (II Cor 3, 15-16).
Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de aumentar nossa Fé, e não nos deixarmos influenciar pelo ambiente de relativismo que hoje impera.
Por Paulo Francisco Martos
1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 251.
2 – Idem, ibidem, p. 297.
3 – FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, v. 2, p. 122.
4 – Cf.FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 304.
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