O latim é universal, afirma sacerdote que traduz os tuítes do Papa
Cidade do Vaticano (Quinta-feira, 02-04-2015, Gaudium Press) O latim não é uma língua morta. O fato mais recente que prova isto é o inesperado êxito da conta oficial do Papa no Twitter: @Pontifex_ln. Com mais de 337 mil seguidores, as publicações das curtas frases do Pontífice, que são também compartilhadas e comentadas em latim por leitores de todo o mundo, mostram um interesse bastante vivo entre os muito atuais usuários das novas tecnologias. O Padre Daniel Gallagher, encarregado de traduzir os tuítes pontifícios, explicou à revista italiana Famiglia Cristiana alguns aspectos de seu trabalho.
O Padre Gallagher, norte-americano de 45 anos de idade, é Diretor da Oficina de Cartas Latinas da Secretaria de Estado da Santa Sé. “Em nenhuma outra chancelaria, em nenhum lugar da república ou em Palácio Real algum há um escritório (…) onde os empregados falem entre eles em latim”, destacou o redator Alberto Bobbio em seu artigo. Neste particular espaço trabalham sete sacerdotes: dois poloneses, dois italianos, um espanhol e o Diretor norte-americano. Dele, o redator afirma que pensa e fala em latim de maneira contínua.
O latim vive
Em uma entrevista, o Padre Gallagher recordou que o latim era uma “língua franca”, um idioma que não era natal para ninguém, mas que todos podiam empregar. “O latim é a essência da universalidade”, explicou, ao identificar a razão pela qual é o idioma oficial da Igreja, que continua trabalhando para mantê-lo vivo. De fato, “teria morrido se não existíssemos, se não existisse a Igreja Católica”, comentou.
Mas as cifras da conta no Twitter que o próprio sacerdote alimenta com suas traduções dão conta da vida do latim. Esta conta supera as da língua árabe, polonês e alemão. “Temos evidência ao redor do mundo de que muitos professores de escolas de latim os usam (os tuítes) para propósitos educativos”, descreveu. “Construir uma frase de 140 caracteres é um com exercício. Inclusive para nós”.
“O latim não é o mesmo, e podemos usar o latim de Cícero, ou o de Virgílio, ou o latim de Platão ou de Terence”, explicou o sacerdote sobre o método para traduzir a antiga língua os muito atuais conceitos abordados nas redes sociais vaticanas. O trabalho permite ainda certa criatividade: “Se temos que traduzir para o latim ‘telefone’ podemos inventar a palavra ‘telephonum’ ou para fazer entender Cícero podemo dizer ‘instrumentum cum aliis colloquiendis to longinque’, esse instrumento para falar com aqueles que não estão diante de você”.
Ao ser perguntado sobre aqueles que falam o melhor latim, calculou entre os melhores alguns dos 200 sacerdotes, alguns Bispos e Cardeais. O melhor de todos, para ele, “o Papa Bento, conversador amável e perfeito”. Do Papa Francisco, de quem se diz que não gostar de empregar esta língua, o sacerdote afirmou que o latim “o conhece muito bem e inclusive corrige, mas fala pouco”.
O uso atual do latim oferece chamativas anedotas, como a da tarefa de traduzir para o latim as instruções do primeiro caixa eletrônico do Instituto de Obras Religiosas (o chamado Banco Vaticano), já que esta é a língua da tela inicial do dispositivo. “Quase ninguém entendia, mas igualmente inseriam o cartão”, recordou o Padre Gallagher. (GPE/EPC)
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