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A Santíssima Virgem e a Liturgia: um tema da atualidade

Redação (Sexta-feira, 27-03-2015, Gaudium Press) As profundas e vertiginosas mudanças nas quais a sociedade atual se encontra submetida, faz a Igreja refletir sobre como adequadamente enfrentar este problema. Já o papa Paulo VI, na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi nos explicava de uma maneira muito incisiva: “sabemos bem que o homem moderno, saturado de discursos, se demonstra muitas vezes cansado de ouvir e, pior ainda, como que imunizado contra a palavra. Conhecemos também as opiniões de numerosos psicólogos e sociólogos, que afirmam ter o homem moderno ultrapassado já a civilização da palavra, que se tornou praticamente ineficaz e inútil, e estar a viver, hoje em dia, na civilização da imagem.”Santíssima Virgem e a Liturgia.jpg

Com o passar dos anos, o processo de secularização e de relativismo em nossa sociedade – outrora totalmente cristã – se faz cada vez maior. A tal ponto que o Papa Bento XVI pronunciou um apelo aos jovens católicos, para que todos tenham uma radicalidade de seu testemunho da fé e lutem contra esta onda de relativismo e mediocridade que pretende eclipsar a presença de Deus na sociedade hodierna: “a cultura atual, em algumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um fato privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho – como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família -, constata-se uma espécie de “eclipse de Deus”, uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.”

Daqui compreendemos o papel fundamental que tem a liturgia como um meio eficaz de ensinar e atrair à casa de Deus os seus filhos afastados, pois este foi o instrumento idôneo utilizado pela Igreja através da história. Santo Irineu de Lyon ao falar sobre a Regula fidei, nos recorda que corresponde ao Magistério, não somente o papel de guardião da Escritura e da Tradição dos Apóstolos, mas também de ser dócil ao Espírito Santo na interpretação no ensinamento do depósito sagrado, sendo a liturgia um dos pilares da Tradição.

O bispo de Lyon expressa ser a Igreja “tal como um depósito de grande valor encerrado num vaso excelente, que rejuvenesce e faz rejuvenescer o próprio vaso que a contém”. Desta forma a liturgia ao longo da História é o meio privilegiado que a Igreja teve de converter, catequizar e santificar o Povo de Deus como também atrair para si os pagãos. A este propósito é interessante a intervenção que o papa Paulo VI fez no Congresso Mariológico de 1975, na qual busca tirar o impasse que o post Concilio deixou à investigação teológica sobre Maria: “como repropor adequadamente Maria ao Povo de Deus, de modo a despertar nele um fervor renovado de devoção mariana? Neste sentido, podem-se seguir dois caminhos. O primeiro é o caminho da verdade, isto é, da especulação bíblico-histórico-teológica, que diz respeito à colocação de Maria no mistério de Cristo e da Igreja: é o caminho dos sábios, aquele que vós seguis, certamente necessário, do qual se progride a doutrina mariológica. Mas há também, além disso, uma via acessível a todos, até mesmo às almas simples: é o caminho da beleza, o que nos leva, finalmente, à doutrina misteriosa, maravilhosa e estupenda que forma o tema do Congresso Mariano: Maria e o Espírito Santo. Na verdade, Maria é a criatura tota pulchra, é a speculum sine macula; é o mais alto ideal de perfeição que em todos os tempos os artistas procuraram reproduzir em suas obras; é ‘a mulher vestida de sol’ (Ap . 12, 1), na qual os raios puríssimos da beleza humana se reúnem aqueles soberanos, mas acessíveis, da beleza sobrenatural. E por que tudo isso? Porque Maria é ‘cheia de graça’, isto é, podemos dizer, a cheia do Espírito Santo, a luz da qual n’Ela refulge de um incomparável esplendor. Sim, precisamos olhar para Maria, para fixar a sua beleza imaculada, porque nossos olhos muitas vezes são feridos e quase cegados pelas enganadoras imagens de belezas deste mundo. Quantos nobres sentimentos, quantos desejos de pureza, qual espiritualidade renovadora poderia suscitar a contemplação desta sublime beleza!”

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Atender este apelo do Papa sobre a via pulchritudinis mariólogica corresponde à ação da liturgia: a qual com as suas diversas cerimônias, os seus variados ritos e devoções populares, catequiza os fiéis, ensinando-os a doutrina “misteriosa, maravilhosa e estupenda”, a que se refere o saudoso Pontífice.

Recordando as palavras citadas acima de Santo Irineu, o Espírito Santo inspira na Igreja carisma e devoções diversas que ajuda a Ela mesma conhecer a grandeza e a Magnificência do Criador. Desde os seus primórdios a Esposa de Cristo soube desenvolver na sua liturgia algo de muito do seu apreço: a devoção à Theotokos, a Santa Mãe de Deus,nascida do sensus fideliumpopular, que intuía que Ela era o caminho mais fácil para chegar seu Filho Santíssimo, nosso Redentor. A sabedoria da Igreja soube perceber este “signum magnum” (Ap 12,1) e desta maneira cultivou e enriqueceu nas celebrações litúrgicas esta devoção nascida do povo de Deus, pois “tanto no Oriente como no Ocidente, as expressões mais altas e mais límpidas da piedade para com a bem-aventurada Virgem Maria floresceram no âmbito da Liturgia, ou então nela foram incorporadas.”

Por Pe. Felipe Isaac Paschoal Rocha, EP

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