No paraíso existem borboletas
Redação (Terça-feira, 17-03-2015, Gaudium Press) A Quarta Via para provar a existência de Deus quase poderia se resumir titulando-a como a via da existência do maravilhoso: Se existe o menos é porque existe o mais, e se existe o mais depois de ver que existe o menos, pois forçosamente deve existir o Arqui-Mais, o Mais-Absoluto, o Maravilhoso Divino; deve existir Deus.
Desta maneira, a Quarta Via é muito sensível e muito apropriada ao ser humano, pois para transitá-la devemos usar da observação das coisas criadas, e especialmente das coisas belas criadas. Cada elemento belo do Universo nos fala poderosamente de seu Criador.
Por exemplo as borboletas.
“As borboletas, ou mais tecnicamente os lepidópteros, fazem parte da família dos holometábolos e são a segunda categoria com mais espécies nos insetos. Sua função prática e ecológica é…” Não. Realmente pouco nos interessa a ‘história clínica’ das borboletas, da qual poderíamos reconhecer sua importância para certos efeitos.
O que nos atrai nesse simpático animal é sua potencialidade para poder-nos remeter a um mundo maravilhoso, a um mundo divino.
As há de quase todas as cores, ou com quase todas as cores. Impressionam por exemplo as ‘Morpho’ azuis, grandes, com seus tons índigo sedosos, sempre platinados, brilhantes, que variam com o grau de incidência solar, e que poderiam ser consideradas o ser-rei no reino das borboletas. É algo assim como o resultado da majestade dos azuis, a serenidade dominante dos azuis, junto com a majestade de seu tamanho.
Dos países tropicais temos as também grandes ‘Machaon’, estas de tendência amarela-laranja, mais solares, de mais vida, mais exuberantes. Também estão essas mais simples, pequenas e amarelas, que voam em grupos sem temer que o conjunto opaque sua beleza singular, que não é rutilante, mas que em fusão de bandadas se produzem uma deleitável comoção.
O movimento das borboletas tem o encanto do imprescindível ‘dançarino’ não agitado. Elas saltam de um lado a outro, às vezes de flor em flor, dizendo lateralmente a seu contemplativo: “caça-me se puderes”. O contemplativo caído em tentação vai atrás delas, ou sigiloso ou rapidamente, para comumente ver surgir em si a decepção junto à surpresa e a ilusão: decepção porque justo antes de caçá-la, ela consegue escapar, sem ressentimento; e surpresa e ilusão porque seu voo em fuga é atraente e novo convite para ir atrás delas.
O movimento inquieto não veloz das borboletas oferece a mensagem de uma esperança alegre, de matizes dourados-prateados; talvez por isso ainda fazem que levantem seu voo em bodas, quando só recém-casados aparecem no átrio da igreja, banhados pela feliz perspectiva de uma nova vida juntos.
É natural de sua natureza a fragilidade das borboletas e isso certamente faz parte de seu encanto. Logo não seriam tão belas as borboletas se tivessem asas de aço, mesmo que fossem multicolores. Apenas tocando quase se desfazem, tal é sua debilidade. Mas provavelmente é essa característica a que cria a sensação de que elas podem aparecer e desaparecer a qualquer momento; são como pequenas aparições. Em diversos filmes um conjunto de borboletas lhe dá um esboço de figura material a um anjo quando este quer manifestar-se aos homens. O trânsito do anjo à matéria tem sido idealizado por alguns escritores através das borboletas.
É uma criatura simples e maravilhosa a borboleta. Certamente no paraíso terrestre existem borboletas. Não apenas borboletas, mas também leopardos. Mas também borboletas. E no céu empíreo há inocentes e perfeitas borboletas.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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