Falta-nos confiança na força do Espírito, afirma Bispo de Campo Mourão
Campo Mourão – Paraná (Quarta-Feira, 04/03/2015, Gaudium Press) O Bispo da Diocese paranaense de Campo Mourão, Dom Francisco Javier Delvalle Paredes, inicia, em seu mais recente artigo, o ciclo de reflexões sobre o livro dos Atos dos Apóstolos. Ele afirma que metodologicamente nos guiaremos por temas tratados no relato, expressões da vida cristã nos primórdios e dos desafios enfrentados pela evangelização.
De acordo com o Prelado, este mês terá por guia de reflexão o tema da Missionariedade da Igreja. Ele ressalta que convém considerar um aspecto fundamental com relação ao Evangelho, pois por ter escrito o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos, Lucas vê Jesus e a Igreja com categorias muito próximas. Segundo o relato evangélico, a missão evangelizadora de Jesus se dá no decorrer da longa peregrinação com destino a Jerusalém (Lc 9-19), cidade na qual haveria de se cumprir o Mistério Pascal, e o anúncio do Evangelho vai crescendo à medida que Jesus se aproxima da cidade santa.
Dom Francisco ainda destaca que nos Atos dos Apóstolos a expansão das comunidades cristãs obedece a mesma perspectiva, e partindo de Jerusalém novas comunidades são fundadas segundo a própria palavra de Jesus: “Mas o Espírito Santo descerá sobre vós, e recebereis uma força do alto. Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria e todos os confins da terra” (At 1,8). Conforme ele, para a expansão da Igreja o ponto de partida é Jerusalém, e o objetivo almejado a grande e poderosa cidade de Roma, capital do mundo de então.
Para o Bispo, outro fato importante a considerar diz respeito ao caráter pneumático da missão cristã nos Atos dos Apóstolos. Segundo ele, as primeiras missões começam após Pentecostes (At 2,1-13) e neste acontecimento fundante os discípulos do Ressuscitado veem o ponto de partida seguro para o anúncio do Evangelho a toda criatura.
“Até o capítulo 8 é descrita a comunidade de Jerusalém, enquanto mãe daquelas que doravante surgiriam. Partindo do capítulo 8 começa a evangelização da Samaria por Filipe, Pedro percorre diversas regiões anunciando o Evangelho (At 9,32-43), chega a Cesaréia e admite à Igreja o pagão Cornélio (At 10), dando a entender o alcance universal da Boa Nova proclamada pelo Senhor.”
Além disso, o Prelado salienta que em Atos dos Apóstolos 11 entra em cena a comunidade de Antioquia, que haveria de se converter numa das mais importantes e pujantes Igrejas da antiguidade cristã, e do capítulo 13 em diante surge a grandiosa figura de Paulo, que de perseguidor tornou-se Apóstolo de Jesus Cristo. Ele reforça que Paulo e seus companheiros, vários ao longo do relato, desenvolvem fecundo e gigantesco trabalho de fundação de comunidades, num ambiente de ação pastoral complicado da Ásia Menor e da Europa de então.
“Refiro-me à dificuldade do contexto por se tratar de regiões marcadas pelo sincretismo religioso pagão. Nela se instalaram e fizeram fortuna diversos cultos idolátricos provindos de diferentes partes do mundo. Por exemplo, em Éfeso (At 19), Paulo contrasta com o culto à famosa deusa Ártemis, divindade da fertilidade. Em Atenas (At 17), o problema consiste na pluralidade de divindades cultuadas pela população, a ponto de se erguer um altar ao Deus desconhecido. Poderíamos mencionar aqui inúmeras situações que ilustram a conjuntura enfrentada pelos evangelizadores da primeira hora”, acrescenta.
Outra questão abordada pelo Prelado é que geograficamente a missão aconteceu, e comunidades cristãs se estabeleceram em toda a bacia do Mar Mediterrâneo, inclusive em Roma, capital do Império. Todavia, conforme o Bispo, o olhar puramente sociológico sobre este movimento não nos permite captar o que ele realmente significou, então se faz necessário a ótica da fé mediante a qual Lucas dispôs seu relato.
“Para Lucas, portanto, a Igreja deve se entender como ambiente habitado pela Palavra e sustentado pelo Espírito. A missão evangelizadora precisa se erguer sobre esse duplo fundamento. Não se trata de confiar simplesmente na eficácia dos projetos elaborados pela sabedoria humana. Por vezes temos excelentes planos de pastoral, propostas de trabalho maravilhosas e subsídios atualizados, porém continua emperrado o processo evangelizador”, avalia.
Para o Prelado, se isso ocorre é porque carecemos de confiança na força do Espírito como protagonista da missão eclesial, faltando convencimento sobre a centralidade da Palavra como objeto a ser do anúncio. “Carecemos de entusiasmo e vitalidade ao dar vida ao anúncio”, sublinha.
Por fim, Dom Francisco afirma que devemos aproveitar a Quaresma para refletir sobre nossa prática pastoral em nível diocesano, decanal e paroquial, sendo corajosos como foram os incansáveis missionários da primeira hora, e confrontarmos nosso modo de ver a missão com as reais necessidades da Igreja e da humanidade hoje.
“Através da Campanha da Fraternidade sobre a relação entre Igreja e sociedade, a CNBB nos interpela, tocando diretamente na missão evangelizadora. Quer que nos evangelizemos a nós mesmos, para possuirmos condições de evangelizar os nossos interlocutores. Compreendamos também que evangelizar é um processo construtivo que deve avançar a cada dia, conforme nos dá a entender o precioso texto dos Atos dos Apóstolos”, conclui. (FB)
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