O Rio da Grandeza
Redação – (Terça-feira, 03-03-2015, Gaudium Press) – As coisas criadas por Deus podem ser comparadas com a Igreja Católica. O Rio Amazonas, por exemplo. Abaixo transcrevemos algumas considerações sobre esse tema, levando em conta o maior rio do mundo:
A paisagem é serena, porém, estuante de vida, luz e calor. Na floresta amazônica tudo é superlativo, exuberante e forte. Ocultas sob o denso arvoredo abundam maravilhas do reino mineral, da flora e da fauna. O luxuriante manto vegetal é rasgado por intrincado labirinto fluvial que forma o maior rio do mundo. Suas volumosas águas, inconteníveis, obrigam o próprio oceano a recuar.
De fato, o Amazonas é o maior rio do mundo, tanto em caudal quanto em extensão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sua bacia hidrográfica, formada por 25 mil quilômetros de rios navegáveis, é a mais extensa do planeta, com cerca de 6,9 mil quilômetros quadrados. Em alguns trechos, seu leito atinge 100 metros de profundidade e, em outros, sua largura chega a 50 quilômetros. Mais de mil afluentes concorrem para lançar em seu leito um quinto das águas fluviais do globo terrestre, dando-lhe um volume igual ao da soma de dez dos maiores rios do mundo.
Sua nascente se encontra no Peru, nas encostas do Nevado Mismi, a aproximadamente 5 mil metros de altitude. Dali percorre quase 7 mil quilômetros até desembocar no Oceano Atlântico, onde, junto com o Tocantins e o Xingu, cria um estuário de 330 quilômetros de largura, no qual se encontram duas capitais de Estado, Belém e Macapá, e a maior ilha marítimo-fluvial do mundo, a Ilha de Marajó, com mais de 40 mil quilômetros quadrados.
Por todos esses predicados, ele é chamado the River Sea – o Rio Oceano. Por fatores outros que não o das proporções físicas, bem poderia denominar-se também Rio da Grandeza, pois até mesmo o seu descobrimento é cercado pela aura do heroísmo.
O reino onde o sol não se punha
O rei Felipe II da Espanha afirmava que em seus extensos domínios o sol não se punha. E era verdade. No Velho Continente, o monarca governava toda a Península Ibérica, além de numerosas regiões da Península Itálica e da Europa central. Foi, durante quatro anos, soberano da Inglaterra. Possuía territórios na África, na Índia e no Extremo Oriente, entre os quais o arquipélago das Filipinas, assim denominado em sua honra. Reinava também sobre a maior parte da América.
Mais de 3 mil espécies de peixes foram encontradas no Amazonas, superando em variedade o Oceano Atlântico. Entre elas o botovermelho e as terríveis piranhas (abaixo) |
A amplidão desse território devia-se em larga medida a um destemido corpo de exploradores que, principalmente na época de seu pai, o imperador Carlos V, dedicaram-se a estender infatigavelmente os já vastos territórios da coroa espanhola. Entre eles estava Vicente Yáñez Pinzón, comandante da caravela “La Niña” na primeira viagem de Cristóvão Colombo. No ano de 1500, retornou para a América, sendo o primeiro cristão a avistar o Amazonas e percorrer sua desembocadura. Ao descomunal curso de água – tão assombroso que lhes permitiu fazer aguada em alto mar, a muitas léguas da costa – deu o nome de Río Santa María del Mar Dulce, em homenagem Àquela que o havia protegido de tantos perigos ao longo da expedição.
Todavia, Pinzón não navegou pelo Amazonas adentro e não pôde avaliar sua extensão, os perigos e as riquezas da região como o fez, em 1541, Francisco de Orellana. Após atravessar os Andes junto com o Governador de Quito, Gonzalo Pizarro, foi obrigado pelas circunstâncias a embarcar no Rio Napo com cinquenta homens num bergantim por eles mesmos construído. Seu objetivo era transportar os feridos a um lugar seguro e conseguir mantimentos para a expedição, mas a força da correnteza o impediu de retornar. Teve início, assim, uma incrível viagem de sete meses através do emaranhado de rios e afluentes que percorrem a selva amazônica, até atingir, em agosto de 1542, a desembocadura do rio no Oceano Atlântico.
Em certo ponto dessa navegação, Orellana travou acirrado combate com um grupo de “mulheres guerreiras” que disparavam contra os espanhóis flechas e dardos de zarabatana. De regresso à Europa, narrou o fato a Carlos V e este – inspirado no nome das mitológicas guerreiras hititas passou a chamar o rio de Amazonas.
Orellana descreveu-as como sendo mulheres altas e adestradas ao combate. Habitavam casas de pedra e acumulavam metais preciosos. Na realidade, eram homens da tribo dos Yaguas, indígenas que usavam uma longa cabeleira e ainda hoje habitam a região da confluência dos rios Napo e Negro. Diz-se também que o nome Amazonas deriva da palavra indígena amassunu, cujo significado é: “ruído de águas” ou “água retumbante”.
Vida em abundância
No ingente e sereno leito desse rio existem extraordinárias riquezas. Mais de 3 mil espécies de peixes foram encontradas no Amazonas, superando em variedade o Oceano Atlântico. Dentre elas, algumas se destacam pela beleza, sendo usadas como peixes ornamentais em aquários de todo o mundo. Outras, pelo contrário, devem sua fama a características nada simpáticas, como as terríveis piranhas, peixes carnívoros, e os poraquês, cujos músculos caudais geram descargas elétricas de até 1.500 volts. Temos também os botos-vermelhos, cetáceos semelhantes aos golfinhos, que atingem 2,6 metros de comprimento e revestem-se de uma característica cor rosada. E o maior peixe de água doce do mundo, o pirarucu, que pode atingir três metros de comprimento e 250 quilos de peso. Sua carne, muito apreciada, faz parte do cardápio popular da região.
Isto sem falar dos milhares de espécies de mamíferos, répteis, pássaros ou anfíbios que povoam suas margens. Ou das inumeráveis famílias de plantas, entre as quais se destaca a vitória-régia, um gigantesco nenúfar cujas folhas podem alcançar dois metros e meio de diâmetro. Ou ainda dos recursos minerais, pouco explorados.
Impressionante é também a Pororoca, nome com o qual se denomina, no maior rio do mundo, o fenômeno do macaréu. Consiste ele em uma elevação repentina de grandes massas de água junto à foz, provocadas pelo movimento das marés. Existe em todas as grandes desembocaduras fluviais do planeta, mas no Amazonas toma uma dimensão colossal. Ele empurra as águas do oceano por cerca de 160 quilômetros, mas, por ocasião das grandes marés, é vencido pelo oceano, formando ondas que podem atingir seis metros de altura e velocidade de cinquenta quilômetros por hora. O caudaloso rio recua ante a impetuosa vingança do mar, para, em seguida, sereno e vitorioso, retomar seu curso normal.
“A sua bênção é como um rio que trasborda”
As incomensuráveis riquezas naturais postas por Deus nas vastidões da selva amazônica parecem simbolizar uma realidade espiritual e, ao mesmo tempo, visível: a Santa Igreja Católica. Esta é como um imenso rio sobrenatural que percorre há dois mil anos as tortuosas e infindáveis distâncias da História tornando fértil tudo o que dela se aproxima.
Como o grande “oceano de água doce”, a Esposa de Cristo avança serena e invencível, fecundando com as ricas águas da graça divina todas as personalidades, instituições e nações que se abrem à sua benfazeja influência. Graças a ela, solos áridos se transformam em terras fecundas e produzem para a humanidade flores e frutos de incalculável valor, tais como os hospitais, as universidades, as obras assistenciais e tantas outras instituições completamente desconhecidas no mundo antigo.
Tudo quanto de grandioso se contempla na civilização ocidental procede, em última análise, deste canal de graças, desta fonte de bênçãos que é a Igreja, o grande Amazonas espiritual da humanidade. A ela pode-se aplicar, sem dúvida, esta frase da Escritura: “A sua bênção é como um rio que transborda” (Eclo 39, 27).
Por Marcos Eduardo Melo dos Santos
(in “Revista Arautos do Evangelho”, n. 104, p. 29 à 31)
Deixe seu comentário