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Salvo das águas

Redação – (Sexta-feira, 20-02-2015, Gaudium Press) – Um bebê, colocado num cesto de junco, flutuava nas águas do Nilo… Assim começou a vida de um homem chamado por Deus para uma das maiores missões da História. Narrada por nosso colaborador Paulo Francisco Martos, transcevemos hoje o início da história de Moisés:

Os judeus não praticavam a limitação da natalidade e, abençoados por Deus, se multiplicaram de tal modo no Egito que o país ficou repleto deles.

Em certa época, surgiu um faraó “que não conhecera José” (Ex 1, 8), o qual, alegando que em caso de guerra os hebreus poderiam se unir aos inimigos dos egípcios, iniciou contra eles feroz perseguição. Segundo diversos egiptólogos e exegetas, tal faraó chamava-se Ramsés II.

A respeito das palavras “que não conhecera José”, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Essas expressões da Bíblia Sagrada têm beleza poética característica. É o Espírito Santo que fala. ‘Um rei que não conhecera José’, quer dizer, se o tivesse conhecido, tal era José, que a perseguição aos judeus seria impossível. Não se poderia lhe fazer maior elogio do que este: ‘Não conheceu José. ‘”

Foi-lhes imposta uma dura escravidão, “com o pesado trabalho de preparar barro e tijolos e com toda sorte de trabalhos no campo e outros serviços” (Ex 1, 14). Além disso, as parteiras egípcias foram obrigadas a matar todos os meninos hebreus que nascessem.

Entretanto, as parteiras não realizavam esses crimes hediondos, e os hebreus continuaram a se propagar. Então, o ímpio faraó deu ordem aos egípcios: “Lançai ao rio todos os meninos hebreus recém-nascidos, mas poupai a vida das meninas” (Ex 1, 22).

Membro da família real

A esposa de um homem da tribo de Levi – que já tivera uma filha, Maria, e um filho, Aarão, antes do decreto de extermínio – deu à luz um belo menino e o manteve oculto.

Isso supõe que seus pais tinham uma fé firme, como atesta São Paulo: “Pela fé, Moisés, recém-nascido, foi escondido por seus pais durante três meses, porque viram a beleza do menino e não tiveram medo do decreto do rei” (Hb 11, 23).
Não podendo mantê-lo oculto por mais tempo, a mulher – por uma intuição cheia de fé – fez um cesto de junco, calafetou-o cuidadosamente, pôs dentro seu filhinho e o deixou entre a vegetação às margens do Rio Nilo. Sua irmã ficou parada a pouca distância para ver o que aconteceria.

A filha do faraó, tendo ido ao rio para banhar-se, observou o cesto e mandou que uma criada o pegasse. Quando o abriu, viu o menino que chorava e percebeu tratar-se de um judeu. Maria, irmã do menino, aproximou-se e perguntou à princesa se podia chamar uma mulher hebreia para amamentá-lo, tendo a princesa dado seu assentimento.

Maria foi correndo avisar sua mãe, a qual veio até o local; então a filha do faraó pediu-lhe que levasse o menino para amamentá-lo, e acrescentou que lhe pagaria um salário.

A mãe de Moisés o conduziu para sua casa e o criou; durante esse tempo, ela educou-o na verdadeira religião, portanto ao amor do único Deus. E quando estava crescido, levou-o à filha do faraó, a qual o adotou como filho, dando-lhe o nome de Moisés, que significa salvo das águas. Assim, ele tornou-se membro da família real.

Nas terras de Madiã

Educado no palácio do faraó, “Moisés foi instruído em todo o saber dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras” (At 7, 22), afirmou Santo Estêvão diante do Sinédrio. E vivendo num ambiente onde grassava o politeísmo, em que se adoravam inclusive bois, etc., ele se manteve firme na fé e na prática dos bons costumes.

Certo dia, estando com 40 anos de idade, Moisés “dirigiu-se para junto de seus irmãos hebreus e viu sua aflição e como um egípcio maltratava um deles” (Ex 2, 11). Notando que não havia nenhum outro egípcio nas proximidades, Moisés matou o agressor e escondeu o corpo na areia.

Comenta o Padre Fillion que Moisés não fez apenas uma visita passageira, mas resolveu se fixar junto a seus irmãos. Pela fé, ele abandonou as comodidades do palácio real e “preferiu ser maltratado com o povo de Deus a tirar proveito passageiro do pecado” (Hb 11, 25).

No dia seguinte, ao ver dois hebreus brigando entre si, Moisés disse ao agressor: “Por que bates no tem companheiro? Ele respondeu: ‘Quem foi te nomeou chefe e juiz sobre nós? Queres, talvez, matar-me como mataste o egípcio? ‘” (Ex 2, 13-14).

Moisés percebeu que o fato se tornara público. E quando o faraó dele tomou conhecimento procurou matar Moisés, o qual fugiu para a terra de Madiã, ao norte da península do Sinai. Ali ele se tornou pastor de ovelhas e se casou com uma filha do sacerdote Jetro, chamada Séfora, que quer dizer pássaro.

Acabrunhados pela escravidão que sofriam há tantos anos, os hebreus rezaram ao Altíssimo, pedindo que os socorresse. “Deus ouviu os seus lamentos e lembrou-Se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó” (Ex 2, 24). E resolveu chamar Moisés para libertar o povo eleito, dando-lhe uma grandiosa missão que marcou a fundo a História da humanidade.

Peçamos à Santíssima Virgem que nos conceda a graça de preferirmos a vida de sacrifício, praticando a virtude, mais do que as comodidades que nos incitam ao pecado.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 19)

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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 190.
2 – Moisés, prefigura do Redentor, in Dr. Plinio, n. 90, setembro 2005, p. 24.
3 – Cf. Idem, ibidem, p.194.

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