Alimento do corpo, alimento da alma
Redação (Sexta-feira, 20-02-2015, Gaudium Press) “Nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). A frase contundente de Jesus -resposta contrária dada diretamente ao sinistro tentador- nos indica que há, pelo menos, dois tipos de alimentos, uns para o corpo e outros para a alma, e que o alimento mais perfeito para a alma é a instrução divina.
Bem, é certo que Deus falou aos homens. O fez pela boca de seus profetas, seus juízes, seus reis, seus levitas e desde a criação da Igreja na voz do magistério. Entretanto, as obras de Deus são também -no sentido amplo- palavra de Deus.
Deus quis iluminar a mente dos homens não somente com seus conceitos, mas também com uma instrução mais “sensível” através da obra da Criação, particularmente por meio das coisas mais belas e perfeitas, que são melhor reflexo dEle, pois Ele é a Beleza e a Perfeição.
Sendo assim, aquele que após duro trabalho sentar-se às margens de um lago para contemplar admirativo um belo entardecer, certamente estaria também se alimentando dessa “palavra que sai da boca de Deus”. Sobretudo quando do mero gosto deleitável, esse homem busca a partir daí a consideração da beleza infinita do Autor dos lagos, dos entardeceres. Se um entardecer pode ser tão aprazível, tão restaurador, como o será Deus? Se a contemplação de um lago é algo tão plácido, se um lago é tão cheio de riquezas, tão variado em meio de sua calma, se sua observação pode ser tão “relaxante”, como o será o contato através da graça com a Divindade.
A escuta da voz de Deus que chega por meio dos belos objetos materiais, pode ser preparatória da habitação de Deus em uma alma.
Todo objeto especialmente belo é ocasião para voar até o paraíso, ou até o céu.
Se tenho em minha frente um quadro da Dolorosa, posso partir daí para considerar a beleza sublime da compunção da Mãe de Deus. Não há dor mais bela que essa dor, salvo a dor de Cristo. Posso deixar voar a matriz de beleza e verdade que há em toda alma e “sentir” que a dor a Virgem apesar de profundíssima não era desesperada; era dolorosíssima mas serena, ela nunca perdeu o senhorio sobre si: Ela é Rainha, a maior de toda a História. Legiões de anjos a custodiavam, e apesar de parecer débil, durante todo o drama da Paixão não diminuiu seu poder. Mas sua dor sim era fortíssima, porque ela e só ela compreendia em sua totalidade a gravidade do crime que se consumava. Entretanto, inclusive em meio à dor, uma ponta de alegria, porque por fim a humanidade estava sendo redimida. Ela criou a vítima, e de alguma maneira ela mesma a colocava no altar da expiação.
Que grandeza, que profundidade, que altura a da Vida da Virgem! E que alívio encontramos quando a meditamos, a partir de um quadro que pode ser uma obra pinacular.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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