A admirável origem do Cristo da Expiração, em Cartagena das Índias
Redação (Quinta-feira, 12-02-2015, Gaudium Press) Quase tudo na Igreja de Santo Domingo, em Cartagena de Índias, impressiona.
Sua forte ‘estrutura óssea’ que buscava a solidez diante dos bombardeios corsários; a sutileza dos tons pastéis de seu interior que contrastam com a robustez e austeridade pétrea das naves, dos contrafortes interiores e os estribos exteriores; seu coro e cúpulas achatadas, a hierática e jazente Virgem do Trânsito ao final da nave da Epístola.
Mas sei que muitos concordarão em que o ponto monárquico dessa histórica igreja -tida a devida reverência ao Santíssimo Sacramento do Altar- é o sublime Cristo da Expiração.
É um Cristo de madeira, que dá a impressão de ser um pouco maior que o tamanho natural. De uma madeira escura sem policromia, como escuras foram as horas em que se crucificou a Deus; mas a vez brilhante, como infinitamente refulgente fora o triunfo absoluto do Redentor.
A expressão de dor do Senhor é em algo matizada pela ternura e confiança com as quais Ele dirige seu rosto ao Pai. Uma confiança inocente e total que está particularmente expressa pela forte inclinação de seu zelo, talvez mais inclinado que o de outros Cristos expirantes conhecidos.
Sem conhecer em profundidade a história da bela imagem, mas atraídos por sua sublimidade, a seus pés e após a missa, em um esplêndido dia, nos colocamos a rezar e entregar nossas necessidades, justo neste momento em que um guia passava explicando aos turistas sua origem:
“E era um escultor, parece que com aparência de ancião, que se fechou no quarto. Bom, nessa época se dizia cela, e se fechou. Mas como passaram os dias e o ancião não saía e não saía, os frades decidiram arrombar a porta e oh surpresa, se encontraram com o Cristo, e sem o escultor.”
Efetivamente, narra a tradição que estando ainda no período colonial um dia os noviços dominicanos encontraram na praia um bom tronco de madeira que levaram ao mosteiro, pois dava para talhar com ele uma imagem. Ocorria que por esse tempo habitava o claustro um talhador de origens não muito clara, a quem lhe expuseram a ideia. Mas para o escultor o tronco era muito pequeno, por isso sugeriu devolvê-lo ao generoso mar.
Entretanto, os religiosos voltaram dias depois para procurar no largo mar, para encontrar o que acreditavam ser o mesmo tronco, no entanto maior e desta vez apto para iniciar a obra. Apresentado como troféu de madeira, foi assim que o talhador deu início à tarefa mas colocou uma simples condição: não seria interrompido mais até a conclusão, e a comida lhe seria entregue através de uma janela.
A presença do artesão, ainda que fechado, era manifesta pelos golpes de sua talha, o que devia alimentar as crescentes expectativas de toda a comunidade. Mas ocorreu que duas semanas depois os instrumentos se silenciaram.
Após um breve tempo de espera os religiosos não aguentaram e arrombaram a porta, quando entraram não havia nem sinais do escultor, mas apenas um belo e compungente Cristo da Expiração. Os cartagenos, graças a Deus, lhe oferecem até hoje uma generosa e forte devoção, particularmente depois de que em meados do século XVIII rogativas ao Cristo os salvaram da ameaça da varíola.
Nosso Senhor da Boa Morte, a vós nos entregamos; salva-nos, pois senão, pereceremos.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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