Obediência heroica de Abraão
Redação – (Segunda-feira, 24-11-2014, Gaudium Press) – Abraão já havia passado por inúmeras dificuldades, as quais ele enfrentou com exemplar espírito de fé. Mas Deus lhe impôs a mais decisiva e lancinante de todas as provas: o sacrifício de seu próprio filho. O santo varão obedeceu ao Altíssimo de modo tão sublime que nos causa admiração.
Pungente pergunta de Isaac, subindo o monte Moriá
Conforme Deus havia prometido, Sara concebeu e deu à luz um filho, ao qual Abraão deu o nome de Isaac. Este foi o verdadeiro herdeiro, pois Ismael era filho de uma escrava. Abraão estava com cem anos de idade quando nasceu Isaac.
Tendo este se tornado adolescente, “Deus pôs Abraão à prova” e lhe disse: “Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá e oferece-o ali em holocausto sobre o monte que Eu te indicar” (Gn 22, 1-2).
Abraão não teve a mínima hesitação. No dia seguinte, levantou-se bem cedo, rachou lenha para o holocausto, colocou arreios num jumento, tomou seu filho bem como dois servos e se pôs a caminho para o local indicado.
No terceiro dia, o santo patriarca viu de longe o lugar e disse aos criados que ali ficassem com o jumento, pois ele iria com seu filho até o alto do monte, onde ofereceria um sacrifício a Deus e depois regressariam.
Abraão colocou a lenha sobre as costas de Isaac, enquanto ele mesmo tomou o fogo e a faca, e começaram a subir o monte.
Em determinado momento, Isaac perguntou ao pai: “Temos o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”.
E Abraão respondeu: “Deus providenciará o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22, 7-8).
Intervenção de um Anjo
Continuaram a caminhar e quando chegaram ao cume, Abraão ergueu um altar, colocou a lenha em cima e amarrou seu filho sobre a lenha. Tomou a faca e, antes de desferir o golpe fatal, um Anjo clamou-lhe: “Abraão! Abraão! Não estendas a mão contra o menino […] Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu único filho” (Gn 22, 11-12). Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num espinheiro; pegou o animal e ofereceu-o em holocausto, no lugar de Isaac.
Afirma Monsenhor João Clá: “Sem dúvida, este é um dos mais belos atos de fidelidade narrados na Sagrada Escritura. Tanto Abraão quanto Isaac mostraram uma heroica submissão à vontade divina.”
Em seguida, o Anjo de Deus renovou a Abraão as promessas que lhe havia feito: “Eu te abençoarei e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos”.
E acrescentou: “Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da Terra, porque Me obedeceste” (Gn 22, 17-18).
Essa última frase se refere a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias, que pela sua natureza humana descendia de Abraão.
Prefigura de Nosso Senhor carregando a Cruz
Isaac subindo o monte Moriá, levando a lenha para o sacrifício, é uma das mais tocantes prefiguras de Cristo, caminhando até o alto do Calvário com a Cruz sobre os ombros.
Explica Monsenhor Cauly, que foi Vigário-Geral da Arquidiocese de Reims (França): “O sacrifício que Deus pediu a Abraão é uma imagem do futuro sacrifício de Jesus Cristo […] Isaac leva a lenha de seu sacrifício; Jesus carregará a Cruz, instrumento de seu suplício, e a própria montanha Lhe servirá de altar. Isaac consente em sua imolação; Jesus Cristo Se oferece à morte. Abraão, apesar de sua ternura, se apressa em golpear a inocente vítima; Deus Pai, apesar de seu amor, atinge seu Filho, que é a própria Inocência. Isaac e Jesus sobrevivem a seu sacrifício. Isaac não é imolado e não ressuscita senão em figura; Jesus dá realmente sua vida, mas a retoma na Ressurreição.”
Sobre o monte Moriá, séculos mais tarde, Salomão construiu o Templo.
E apenas um vale separa o Moriá do monte Calvário.
A obediência enobrece o homem
A pessoa que desobedece à vontade do Altíssimo, expressa nos Dez Mandamentos, vai perdendo sua dignidade, compostura e até mesmo sua liberdade, pois o pecado escraviza, e se torna infeliz.
E quem obedece a Lei de Deus adquire a verdadeira felicidade. Afirma o grande teólogo jesuíta Cornélio a Lápide: A obediência “enaltece o homem, aumenta sua dignidade e o enobrece.
Moisés, por haver obedecido a Deus, chegou a ser chefe do povo predileto, realizou numerosos e deslumbrantes prodígios, e fez empalidecer o criminoso e endurecido rei do Egito. Os Apóstolos, por obedecer a Jesus Cristo, chegaram a ser os fundadores da Cristandade e os príncipes da Igreja militante e triunfante”
Peçamos à Santíssima Virgem que nos obtenha de seu Divino Filho, que foi “obediente até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 8), a graça de obedecermos com prontidão à vontade de Deus, como o santo patriarca Abraão.
Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 11 )
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1) – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 132.
2) – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, vol. 1, p. 89.
3) – CAULY, Eugène Ernest. Cours d’instruction religieuse – Histoire de la Religion e de l’Église.4. ed. Paris: Poussielgue. 1894, p. 35-36.
4) – Cf. DANIEL-ROPS. Histoire Sainte – Le peuple de Dieu. Paris: Arthème Fayard. 1942, p. 33.
5) – CORNELIO A LAPIDE. Apud BARBIER, Abade. Tesoros de Cornelio a Lapide. Extracto de los comentarios de este célebre autor sobre la Sagrada Escritura. Madri: Librerias de Miguel Olamendi e outros. 1866, vol. 3, p. 471.
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