Padre Roque Beraldi: oito décadas servindo a Igreja

Redação – (Segunda-feira, 17-11-2014, Gaudium Press) – Em 2014, o Padre Roque Vicente Beraldi, CMF, comemora mais de oito décadas no serviço da Igreja. Algo realmente pouco comum para um religioso festejar.

Mas no dia de hoje, 17 de novembro, além dos anos de consagração vividos como Missionário do Imaculado Coração de Maria, o Padre Roque comemora outro fato também pouco comum: o dom de seus 93 anos de vida!

Ele nasceu em São José do Rio Pardo, (SP) no dia 17 de novembro de 1921. Aos doze anos, em 1933, guiado pelo Padre Militão Vigueira foi para o Seminário Coração de Maria que funcionava exatamente onde é hoje o Colégio Claretiano, na Capital paulista. 93 anos de vida, 81 de Consagração religiosa e um currículo de serviços que causa admiração.

Após seus estudos no Seminário Santo Antônio Maria Claret, ele iniciou, 1938, o Noviciado e no ano seguinte emitiu os votos de Pobreza, Castidade e Obediência na Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria.

Estudou ainda em Curitiba e foi ordenado presbítero em 8 de dezembro de 1946.

Um Currículo notável

Até 1950 suas atividades eram de prestação de serviço em colégio e seminários. Foi professor de latim e música, disciplinário, “Prefeito” de seminaristas.

No Colégio Claretiano, em São Paulo, (1951) foi professor, disciplinário e Diretor até 1969. Esteve como diretor de colégios de sua Congregação em Guarulhos. Mestre de Noviços de 1971 a 1976. Em Batatais(SP), foi Diretor do Colégio São José e Reitor das Faculdades de Educação Física e Filosofia Ciências e Letras José OIlympio, de 1976 a 1991.

Esteve como superior da Casa Provincial dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, em São Paulo. E, de 1993 a 1999, foi formador de seminaristas em Curitiba e Pinhais, (Paraná).

Até 2012 foi Superior local da Casa Provincial e Vigário Paroquial, em São Paulo. Colabora na Matriz do Imaculado Coração de Maria, sendo Vigário Paroquial e Confessor muito solicitado na paróquia. Além de todo trabalho, ainda é, desde 1999, Arquivista da Província Claretiana no Brasil.

Energia, Vigor, Entusiasmo

Conversamos com o Padre Roque após a Santa Missa e num intervalo de seu atendimento no confessionário. Anotamos alguns pontos dessa conversa.

Em suas palavras iniciais ele já demonstrava energia, vigor e entusiasmo:

“Até o presente, declaro que me sinto realizado em todas as minhas atividades e se os superiores julgarem que ainda posso colaborar e recomeçar tudo (com 93 anos) farei com o mesmo entusiasmo”.

Mas, para ele, “a diferença será no fato de ter muitíssimo mais experiência de vida e portanto, até, julgo que farei melhor do que no passado. E a razão principal para isso, é minha Consagração a Deus, pois, trabalhando para Deus, é ele quem age e eu apenas lhe “empresto” a pessoa com os seus sentidos e potências, para realizar o que for mister.”

Nossa conversa foi caminhando e ele comentou sobre os “serviços de um consagrado e o “Ano da Vida Consagrada que começa agora em novembro.

“O “Ano da Vida Consagrada” é para dar ênfase e chamar a atenção às pessoas, da grandiosidade da consagração a Deus. Para que aos que já vivem essa consagração tenham um incentivo para servir a Deus, para aquelas que iniciam encontrem o motivo para o caminhar com Cristo.

Que todos tenham sempre presente a convicção daquilo que Jesus disse: “E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo nesta vida e possuirá a vida eterna”. (Mateus,19,29).

Sobre o que se espera desse Ano da Vida Consagrada, ele disse:

Espera-se que haja mais generosidade por parte das pessoas que já se dedicam ao serviço divino e seja um chamariz poderoso para que os chamados se dediquem totalmente ao convite de Cristo.

Para quem já tem 81 anos de vida consagrada, essa “é justamente a preocupação dos Papas, como vemos na oração composta por Paulo VI: Jesus, mestre divino, que chamastes os apóstolos a vos seguirem, continuai a passar pelos nossos caminhos, pelas nossas famílias, pelas nossas escolas e continuai a repetir o convite a muitos de nossos jovens. Daí coragem às pessoas convidadas. Daí força para que vos sejam fiéis como apóstolos leigos, como sacerdotes, como religiosos e religiosas, para o bem do povo de Deus e de toda a humanidade. Amém”.

Segundo o Padre Roque, o Papa Francisco confirma Paulo VI: “As pessoas consagradas são sinal de Deus nos diversos ambientes da vida, são o fermento para o crescimento de uma sociedade mais justa e fraterna, são profecia de partilha com os pequenos e os pobres”.

E ainda recordou com sua memória invejável: “Vem ao caso lembrar as palavras de Edith Stein: “Senhor Deus, faze também com que eu não me pertença mais, mas que seja inteiramente de ti.”

Devoção Mariana

Como Filho de Santo Antônio Maria Claret, e pertencendo a Congregação dos Missionários do Imaculado Coração de Maria, não poderia deixar de haver em nossa conversa referencias e a Nossa Senhora.

“Maria, nossa Mãe Imaculada, deve estar sempre à frente de todas as pessoas que querem seguir os passos de Jesus. Sem ela não se consegue manter a trajetória. Assim o quer Deus, pois, a escolheu para participar da redenção dos pecadores.

Nós a encontramos categoricamente desde o nascimento de Jesus, nosso redentor, até o Calvário. Ao deixar-nos Maria como mãe, foi para nos acompanhar sempre. Assim foi no decorrer de todos os séculos.

Principalmente desde a fundação da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, por meio de Santo Antônio Maria Claret.

A devoção pessoal a Nossa Senhora, é incentivada cada dia para vivermos no seu Coração, agradecendo o chamado especial para fazer parte da Congregação de Missionários.

Ela quer que todos os nossos pensamentos, palavras e ações sejam consagrados por meio dela a Jesus, nosso Redentor. Principalmente devemos ter consciência de que as palavras de Jesus se aplicam textualmente à nossa vida, lembrando o dizer de São Jerônimo: “O bocado mais saboroso ao demônio é a carne consagrada a Deus”. Não tememos as lutas, porque quem está amparado pela Virgem Maria, vencerá sempre. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mateus, 26, 24). Diante dos contínuos ataques do maligno, é certeza o auxílio de Jesus, por meio de Maria, imitando São Paulo que nos deixou o seguinte incentivo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses, (4,13).

Maria e as famílias

Este grande santo mariano, nosso fundador, mostrou ele, incentivava a consagração das famílias ao Coração Imaculado de Maria, para mais facilmente se chegar a Jesus: “Ó Virgem Maria, ao vosso Coração Imaculado consagramos o nosso lar. Seja esta casa como a de Nazaré, a mansão da paz e da felicidade, pelo cumprimento da vontade de Deus, pela prática da caridade, pelo abandono à Providência Divina. Vigiai sobre os seus habitantes, firmai-os na fé cristã, sob a vossa maternal proteção. Ó Virgem Maria, bondosa Mãe, reconstituí no céu este lar que, na terra, pertence ao vosso Imaculado Coração.”

O Papa, o batizado e a missionariedade

Um tema tão em voga e tão mencionado nas palavras do Papa, “a missionariedade” surgiu naturalmente na conversa de quem é missionário há mais de oitenta anos. E foi bem esquematizada por quem foi professor:

“A missionariedade que o Papa fala, está no coração e nas mãos de todo batizado, como uma demonstração do verdadeiro amor a Cristo. O ser missionário, exige de cada pessoa propagar os bens que Deus concede para que Jesus seja conhecido por quem ainda não o conhece e fortaleça aos que já conhecem crescendo cada dia mais.

O ser missionário pode dividir-se em
a) PESSOAL, quando a pessoa se entrega para servir a Deus, nos lugares onde mais se necessita de mãos de obra.

b)FINANCEIRA. Não podendo ir pessoalmente trabalhar em países de missão, ajudar financeiramente, para os gastos gerais, tanto pessoal, como local.

c) ORANTE: Quando nem um e outro grau se pode, fica o terceiro que é: rezar pelos missionários e para aqueles lugares de missão.

A Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, já está praticamente em todo o mundo.
Deve-se trabalhar nos lugares onde os superiores mandarem.

Alegra-me ter obedecido nos destinos que já tive, (São Paulo, Guarulhos, Campinas, Rio Claro, Curitiba, Pinhais). Há colegas meus que trabalham na Itália, Canadá. Já trabalharam no Japão, o Pe. Romário Jarussi, durante 50 anos..

Também temos as missões nos Estados do Amazonas, Mato Grosso e outros que são lugares de missões permanentes. Lá se encontram os Missionários Claretianos, se dedicando ou à conversão de almas, ou incentivando a permanência no serviço de Deus.

Longevidade

Já no final de nossa conversa, o Padre Roque falou de seus 93 anos de vida biológica e da longevidade. Foi rápido, muito informal, ameno e objetivo.

Ele comentou a vida religiosa, lembrou a vida de oração, a vida espiritual e intelectual como fatores que influenciam a longevidade.

E, depois, deu uma receita de longa vida, mais uma vez, esquematicamente:

“O fato de ter o “dom” dos longos anos, é realmente um dom de Deus: ninguém pode comprar mais tempo de vida.
No entanto, é real obter-se uma vida longa, quando se colabora com o Criador, quer dizer: ter vida regrada.
E isto significa para o Padre Roque:

Levantar-se cedo, na hora certa todos os dias. Deitar-se também numa mesma hora. Deve-se dar ao corpo de sete a oito horas de sono cada dia. Comer e beber o necessário, todos os dias, sem exagero e abuso, também na mesma hora, sempre.

Depois dos quarenta anos, procurar o médico periodicamente, para manter o estado de saúde sob controle.
Manter os movimentos dos membros corporais, como caminhar, sem exagero.

Por João Sérgio Guimarães