"Com Jesus a extirpação do mal ocorre mediante o amor", diz o Bispo de Palmas-Francisco Beltrão
Palmas-Francisco Beltrão – Paraná (Sexta-Feira, 17/10/2014, Gaudium Press) Dom José Antonio Peruzzo, Bispo da Diocese de Palmas – Francisco Beltrão, no Paraná, escreveu um artigo em que ele afirma que quem toma certas páginas bíblicas do Antigo Testamento para as ler, ficará estarrecido diante de certas “brutalidades” consignadas no texto, e até se inquietará sobre o caráter “sagrado” de alguns parágrafos.
Para o Prelado, um dos textos mais intrigantes é aquele de Deuteronômio 21,18-21, que narra o caso do filho rebelde. Conforme Dom Peruzzo, o texto propõe o que segue: se um filho é incorrigível, se não obedece a seu pai e nem a sua mãe, se tornar um comilão e beberrão, então o pai e a mãe devem levá-lo às portas da cidade, onde será apedrejado até morrer. Ele afirrma que o objetivo de tudo isso é extirpar a maldade do meio do povo.
“Como aceitar tanta crueldade? Pode-se se falar de um livro inspirado por Deus? Tal selvageria pode ser tolerada na Bíblia? Os desapontamentos poderiam se enumerar. Todavia, mais do que multiplicar as interrogações, é melhor buscar uma adequada compreensão. Afinal, avaliar pensamentos de ontem com critérios de hoje abeira-nos de interpretações injustas. Comecemos por entender a mentalidade educativa e familiar daquele tempo”, avalia o Bispo.
De acordo com ele, isso se passou em torno de 615 a.C., e em Israel e povos vizinhos, o poder e autoridade do pai sobre os filhos era muito mais ampla e também mais tirana do que os texto mencionado. Na realidade, o Prelado explica que cada texto bíblico é sempre “filho cultural” do tempo e lugar em que foi escrito, mas também dá um passo adiante. Dom Peruzzo destaca que a despeito de medidas tão implacáveis, há uma grande evolução se comparado com escritos anteriores ou com aqueles dos povos vizinhos.
“É a presença da figura da mulher, da mãe, no julgamento do filho. Em uma sociedade que anulava a presença e influência da mulher, eis que os sentimentos maternos são incluídos nos caminhos de discernimento que definem o futuro do filho rebelde. Eis a grande evolução.”
Ainda segundo o Bispo, não mais era suficiente apenas o disciplinamento normativo, ou seja, não se tratava apenas de fazer valer a lei, o texto diz: “…o pai e a mãe o levarão aos anciãos da cidade…” (v. 19). Para o Prelado, os adjetivos “pai” e “mãe” não têm apenas denotação de tipo biológico (genitor/genitora), ou sociológico (patriarca), mas é a relação de pai e de mãe a ter prevalecência em decisão tão grave.
“Há dois grandes passos aqui: o primeiro é que relação de pai e de mãe com seu filho rebelde, o amor pelo filho, ainda que rebelde, se sobrepõe à simples valência da lei disciplinadora e ameaçadora. O outro, não menos importante, é inclusão da força materna e feminina a se tornar parâmetro em situação tão séria. Até então, não se pensava em tamanha mudança. A mãe ficava apenas com a dor. A partir de então também passava a decidir. O amor materno passou a ter valência”, enfatiza.
Conforme Dom Peruzzo, este foi um dos passos, dentre muitos, até se chegar à grande experiência de bondade que a Sagrada Escritura nos lega. Ele afirma que o Antigo Testamento abriu caminhos que culminaram em Jesus Cristo, pois, com Ele, nunca a misericórdia de Deus encontrou ensinamento e testemunho vivido quanto nas suas palavras e gestos.
O Bispo se refere, especialmente, a Parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32), que fala da história de um pai, que tinha dois filhos, e um deles quis seus direitos de herança: Recebeu-os e partiu, torrou tudo o que tinha e caiu na miséria, restando-lhe apenas o amor do seu pai; foi então que voltou para pedir emprego, e o pai o acolheu e festejou, fazendo com que o irmão, aquele que nunca transgredira nenhuma ordem, ficasse amargurado porque o pai foi bom. “O pai argumentou que era justo acolher quem estava morto e voltou a viver”, recorda o Prelado.
“Agora o conceito de justiça é bem outro. Em tempos antigos o objetivo era extirpar a maldade do meio do povo. Para tanto até medidas extremas de punição poderiam encontrar legitimidade. Mas houve progressividade nos caminhos bíblicos de compreensão dos limites e dos tropeços humanos”, completa.
Por fim, Dom Peruzzo salienta que com a entrada de Jesus Cristo na história humana a misericórdia de Deus alcançou uma linguagem jamais imaginada, pois o que outrora se expressava com linguagem de disciplinamento e normas de severidade evoluiu para o perdão incondicional. Para ele, antes se queria “extirpar o mal” eliminando o seu autor, mas com Jesus a “extirpação” ocorre mediante o amor que perdoa.
Concluindo, o Bispo reforça que a página difícil (Dt 21,18-21) era um importante passo de um caminho de encontro entre Deus e os que se deixam amar por Ele. “Antes a ameaça de punição forçava a obedecer. Depois o amor do pai atraiu, de volta para casa, aquele que descobriu o alcance libertador da obediência amorosa”, acrescentou. (FB)
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