Contemplação do universo: o fascinante caminho da detenção nos “objetos absolutos”
Redação (Terça-feira, 14-10-2014, Gaudium Press) A mais alta definição de contemplação lida em toda a minha vida é sem dúvida a de Plinio Corrêa de Oliveira, não por ser resumitiva ou abarcativa, ou pela precisão, coerência e interconexão adequada dos termos empregados, mas porque é uma preciosa enunciação surgida a partir de um panorama muito novo, que são suas valiosíssimas e muito úteis doutrinas sobre o Absoluto.
Dizia o Professor brasileiro que contemplação é a detenção da atenção humana, da inteligência humana, sobre um determinado “objeto absoluto”. E o que é um objeto absoluto? É um objeto onde brilha o Absoluto, Deus. Expliquemos rapidamente.
Deus se manifesta nos seres criados, de forma natural e em ocasiões -não tão raras- com ajudas sobrenaturais. É por exemplo um entardecer que “casualmente” observamos quando viajamos de uma cidade a outra, e que em certo momento brilha para nós com uma luz especial. Seus matizes, sutilezas, combinações e cores nos causam um especial deleite, nos falam de grandeza, de infinito, de beleza: em definitivo nos falam de Deus, em Quem se personificam todas as qualidades, dons ou virtudes. São esses momentos nos quais um ente se nos converte no “objeto absoluto”; sentimos nele o “objeto absoluto”, pois Deus nos manifestou particularmente nele, e é então que esse ser se volta a ocasião para contemplar ao Criador.
A contemplação -como não podia deixar de ser quando é autêntica- acaba sendo de Deus, mas com a particularidade essencial de que esta vida da qual estamos falando é um olhar para a Divindade a partir da consideração de um ser criado.
Do processo anterior não entraremos agora a desvendar o que é natural e o que é sobrenatural. O certo é que todos temos degustado momentos assim; nos deleitamos com essas requintadas “vivências”, que não são outra coisa que comunicações de Deus, as quais ao mesmo tempo nos são muito reais e nos enchem de alegria, comunicam uma energia toda especial aos nossos espíritos para a prática do bem. Voltemos a um exemplo, que a esta via lhe gostam os exemplos, pois são concretos.
Recordamos quando estivemos anos atrás em Versalles, o Palácio de Luís XIV (fotos adjuntas). Sempre sentimos uma especial atração pelas pontas, e a ausência destas em sua fachada aplanada, e em geral a horizontalidade do palácio, foram um tanto lamentadas em nosso espírito. Entretanto sua grandeza, imponência e majestade, seu luminoso Parterre de Água diante do Salão dos Espelhos, seguido em perspectiva quase infinita pelo longo e interminável Grande Canal, além de seus outros múltiplos encantos exteriores, transportaram nosso espírito a um reino de beleza e grandeza. Beleza que nos fala da Beleza de Deus; grandeza reflexo da Grandeza Divina, da qual a grandeza de todo o universo não é senão um pálido reflexo. Essa vivência da grandeza e da beleza, nos tornava mais fácil a virtude da religião, de render o devido tributo ao Belo e Grande Deus.
O ‘flash’ (leia-se: visão “sensível” de algo da divindade em um “objeto absoluto” -depois com a ajuda de Deus falaremos deste termo) que tivemos com algo muito mais simples, um lindo rosário de malaquita de tamanho médio que um querido amigo teve a bondade de presentear-nos. É certo que já havíamos vivido um ‘flash’ com um estupendo vaso desta pedra verde no Museu Metropolitano de Nova York e as recordações dessa “visão” reviveram no espírito no momento em que nos foi obsequiado o apreciado objeto sagrado. Mas o verde de diversos e definidos tons de cada bolinha, unidas harmonicamente com cruz e medalha em um objeto de uso diário que serve para ir ao céu, nos declarou de forma viva quanto a Virgem -reflexo perfeito de Deus- é fonte de esperança, é caminho seguro de salvação, de como Maria Santíssima é o sacrário e a escola da Piedade, da sublimidade. E quem fala de esperança, de piedade e de sublimidade, ao personalizá-las, está falando de Deus. Este ‘flash’ nos movia mais à humildade, nos convocava à oração e nos facilitava a oração.
E quantos outros “objetos absolutos” mais…
Esta via de contemplação também é de união transformante. Pois como diz o sentido comum, um se transforma naquele que ama, e a alegria que nos oferece a contemplação dos “objetos absolutos” faz que amemos crescentemente os valores que por seu intermédio nos são expostos, os quais são finalmente atribuições do Ser Divino. Por aí se começa a entender essa frase um tanto misteriosa mas quão profunda de São Tomás, quando diz em ‘De Veritate’ que “a última perfeição a que se pode chegar a alma consiste em reproduzir nela toda a ordem do universo e suas causas”. Porque no fundo dessa maneira se reproduz em si a Deus, através da contemplação da criação.
Provavelmente muito disso está relacionado com a espiritualidade de São Francisco de Assis.
Por Saúl Castiblanco
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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