Gaudium news > Em sua primeira encíclica de caráter social, Bento XVI pede para que se supere a crise com ética

Em sua primeira encíclica de caráter social, Bento XVI pede para que se supere a crise com ética

Cidade do Vaticano (Terça 07-07-2009, Gaudium Press) “A Caridade na verdade é a principal força propulsora – começa em sua primeira encíclica social Bento XVI – para o verdadeiro desenvolvimento de todas as pessoas e da humanidade inteira”. Hoje na Sala de Imprensa da Santa Sé foi apresentada em uma coletiva de imprensa a tão esperada terceira encíclica de Bento XVI “Caritas in veritate” sobre problemas modernos: a crise econômica, a fome, a ecologia, a bioética.

Participaram do evento da manhã de hoje o presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, cardeal Renato Raffaele Martino; o presidente do Pontifício Conselhor “Cor Unum” (que reúne a caridade do Papa), cardeal Paul Josef Cordes; Gampaolo Crepaldi, recém-nomeado arcebispo de Trieste, mas até pouco tempo secretário do Pontíficio Conselho da Justiça e da Paz;e o professor Stefano Zamagni, professor ordinário de Economia Política na Universidade de Bolonha e consultor do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz.

A Encíclica contém seis capítulos: “A mensagem da ‘Populorum progressio'”; “O desenvolvimento humano nos nossos dias”; “Fraternidade, desenvolvimento econômico”; “Desenvolvimento dos povos, direitos e deveres, meio ambiente”; “A colaboração da família humana”; “O desenvolvimento dos povos e a técnica”. Gaudium Press Apresenta uma síntese desses capítulos.

Na introdução, o Papa diz que “a caridade é a vida mestra da doutrina social da Igreja” e “a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de todas as pessoas e da humanidade inteira.” O Santo Padre ressalta que “o desenvolvimento precisa da verdade” e que “a justiça e o bem comum são dois critérios morais da caridade na verdade”. A missão da Igreja não é propor as soluções técnicas, mas a verdade, defende o pontífice.

A Encíclica foi pensada em ocasião aos 40 anos da encíclica social de Paulo VI, “Populorum progressio”. Por isto o primeiro capítulo é uma síntese e faz referência à encíclica e ao tema do desenvolvimento. Bento XVI escreve neste capítulo sobre o significado espiritual do desenvolvimento. “A fé cristã se ocupa do desenvolvimento não contando com privilégios ou posições de poder”, mas “somente com Cristo”. O desenvolvimento é vocação “que nasce de um apelo transcendental”.

Sociedade Fraterna

No segundo capítulo, Bento XVI faz uma reflexão sobre a situação no mundo moderno. O Papa lembra que “sem o bem comum como objetivo final, nos arriscamos a destruir riquezas e criar pobreza”. O Papa observa que o desenvolvimento hoje é “policêntrico”.

“Cresce a riqueza mundial em termos absolutos, mas aumentam as disparidades” que produzem novas pobrezas. O pontífice recorda o escândalo da fome e a necessidade de se criar empregos. As mudanças de hoje são “mentalidade antinatalista”, o aborto, a eutanásia, também no campo religioso com o terrorismo e o fundamentalismo.
“Sem a condução da caridade na verdade, este impulso planetário – observa Bento XVI – pode levar a criar riscos de danos desconhecidos até agora e de novas divisões”. É necessário, por isto, “um empenho inédito e criativo”. (32-33)

Sobre “Fraternidade, Desenvolvimento Econômico e Sociedade Civil”, no terceiro capítulo o Papa escreve que “influências de caráter moral levaram o homem a abusar do instrumento econômico de maneira até mesmo destrutiva”. O desenvolvimento e particularmente o mercado, se querem ser autenticamente humanos”, devem “dar espaço ao princípio da gratuidade”. O mercado não pode ser “lugar de sujeição do mais forte sobre o mais fraco”. “Sem formas internas de solidariedade e de confiança recíproca – observa Bento XVI – o mercado não pode exercer plenamente a própria função econômica”.

Honestidade e responsabilidade são “tradicionais princípios da ética social” que “não podem ser descuidados”. Aos executivos, o Papa pede para não responderem “só às indicações dos acionistas” e os convida a evitar um emprego “especulativo” dos recursos financeiros.

“Não devemos ser vítimas, mas protagonistas procedendo com racionalidade, guiados pela caridade e pela verdade. A globalização requer uma orientação cultural personalista e comunitária, aberta à transcendência capaz de corrigir as disfunções”, diz em trecho.

O quarto capítulo é dedicado ao “Desenvolvimento dos povos, direitos e deveres, meio ambiente”. “Os direitos individuais desvinculados de um quadro de deveres que enlouquecem”. Bento XVI pede aos governos e organismos internacionais a não esquecerem “a objetividade e a indisponibilidade” dos direitos. “A economia precisa da ética para o seu correto funcionamento; não de uma ética qualquer, mas sim de uma ética amiga da pessoa” observa o pontífice.

“As sociedades tecnologicamente avançadas podem e devem diminuir as próprias necessidades energéticas”, ao mesmo tempo em que deve “avançar a pesquisa de energias alternativas”.

Bento XVI ressalta ainda que “é necessária uma efetiva mudança de mentalidade que nos induza a adotar novos estilos de vida”. È preciso mudar o estilo moderno que “é inclinado ao edonismo e ao consumismo”. O Papa também nota que a “consciência humana acaba perdendo o conceito de ecologia humana” e aquele de ecologia ambiental.

O quinto capítulo, “A colaboração da família humana”, é dedicado ao desenvolvimento dos povos. Ele espera que a religião cristã possa contribuir ao desenvolvimento “se Deus encontrar um lugar também na esfera pública”. Bento XVI observa que “à negação do direito a professar publicamente a própria religião”, a política “torna-se oprimente e agressiva”. “No laicismo e no fundamentalismo se perde a possibilidade de um diálogo fecundo” da fé e da razão, pondera Bento XVI.

O Santo Padre escreve também sobre a subdisiariedade, que “é o antídoto mais eficaz contra qualquer forma de assistencialismo paternalista” e é adequada a humanizar a globalização. Lembra que as ajudas internacionais “podem às vezes manter um povo em estado de dependência”.

“Nenhum país sozinho pode achar que é capaz de resolver os problemas migratórios” – observa o Papa, e recorda que todos os migrantes “são pessoas humanas” que “possuem direitos que devem ser respeitados por todos em qualquer situação” e não devem ser considerados como mercadoria.

“Os operadores da finança devem redescobrir o fundamento propriamente ético de sua atividade”.
O último capítulo é dedicado ao “Desenvolvimento dos povos e a técnica”. O Papa observa que “a humanidade acha que é capaz de se recriar servindo-se dos ‘prodígios’ da tecnologia”. Ele adverte que a técnica não pode ter “liberdade absoluta”. Revela como “o processo de globalização poderia substituir as ideologias com a técnica”. (68-72) Conectados com o desenvolvimento tecnológico são os meios de comunicação social chamados a promover “a dignidade da pessoa e dos povos”. (73)

O Papa explica que o campo primário “da luta cultural entre o absolutismo da tecnicidade e a responsabilidade moral do homem é hoje o da bioética”. “A razão sem fé é destinada a se perder na ilusão da própria onipotência”. A questão social torna-se “questão antropológica”. A pesquisa sobre os embriões, a clonagem, são o desgosto do Pontífice, “são promovidas pela cultura atual”, que “crê ter revelado todos os mistérios”. O Papa teme “um sistemático planejamento eugenético dos nascimentos”. (74-75) Rebate então que o “desenvolvimento deve compreender um crescimento espiritual além do material”. Enfim, a exortação do Papa a ter um “coração novo” para “superar a visão materialística dos acontecimentos humanos”. (76-77)

A Encíclica, por causa da crise econômica financeira mundial, foi publicada com atraso. Nos próximos dias, passa a estar disponível a leitores de todo o mundo. As outras duas encíclicas já escritas pelo pontífice foram “Deus caritas est” (Deus é amor), de 2006, e “Spe salvi” (Salvos pela esperança), de 2007.

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas