Arcebispo de Londrina: “É a mentira que dá sustento a todos os pecados que cometemos”
Londrina (Quarta-Feira, 09/10/2013, Gaudium Press) O arcebispo da arquidiocese paranaense de Londrina, dom Orlando Brandes, refletiu em seu mais recente artigo sobre a mentira. No texto, o prelado afirma que todo ser humano, por ser inteligente tende para a verdade, pois a mentira é uma contradição e uma frustração para a mente e para a existência pessoal e social.
“Nós humanos somos seres sociais e relacionais, para isso precisamos da confiança nos outros. A mentira é uma traição e um bloqueio para a convivência, a comunicação, impede a confiança no relacionamento humano. Uma vida pautada na desconfiança é desgastante e prejudicial. A mentira envenena tudo”, explica.
Ainda de acordo com o arcebispo, o ser humano tem necessidade de coerência, inocência, da transparência e da ética. Ele ressalta que a mentira corrompe estes valores e nos faz reféns e prisioneiros da corrupção, da falsidade, dos golpes e bloqueios, boicotes e manipulação, e por isso nós necessitamos também da verbalização dos sentimentos, da comunicação interior e da partilha do que vai no coração e na consciência.
Para dom Orlando, a mentira fecha as portas do coleguismo e da intimidade, obriga-nos a viver de aparências e inverdades. Segundo ele, projetamos uma imagem falsa de nós mesmos - nosso eu real é outro -, e esta mentira existencial gera as outras. O prelado salienta que, por conta da mentira, ficamos confinados a uma prisão interior doentia e insuportável, pois é preciso gastar grandes energias para manter a mentira.
“Ninguém gosta de ser enganado e Deus não engana nem se engana. Deus é veraz. A veracidade é uma exigência do oitavo mandamento. O evangelista João afirma que o diabo é o pai da mentira. Portanto, a mentira é diabólica, é uma recusa à retidão moral. Mentir é uma agressão à dignidade humana porque é promoção da duplicidade, da simulação e da hipocrisia. Mentir redunda numa grave injustiça e prejuízos pessoais, familiares e mundiais”, destaca o arcebispo.
Outra questão abordada pelo prelado diz respeito a mentir em público ou diante de um tribunal, que é falso testemunho, é perjúrio. Conforme dom Orlando, a mentira condena o inocente e inocenta o culpado. Ele avalia que as pessoas têm direito à boa fama ao respeito, à reputação, e daí surge a gravidade da mentira que consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar: é falar contra a verdade para induzir em erro.
Em síntese, o arcebispo explica que a mentira é uma profanação da palavra, uma incoerência, uma violência, e por isso, há o dever de reparação. “A mentira tornou-se onipresente e onipotente. Há um ‘reino da mentira’ que está nas balanças falsas, no comércio, na imprensa nos remédios, na política, nas religiões, nas instituições. É a mentira que dá sustento a todos os pecados que cometemos. Ser sincero hoje é ser perdedor, ingênuo, bobo, imprudente. Mentir passou a ser verdade, obrigação, jeito e jeitinho. Todavia isso tudo é antiético”, completa.
Por fim, dom Orlando destaca que maledicência e calúnia são expressões típicas da pessoa mentirosa. Ele salienta que há circunstâncias que atenuam a gravidade da mentira, principalmente quando estamos obrigados a guardar sigilo, para manter o direito à privacidade e á honra, ou quando, alguém inocente é gravemente prejudicado. Para o prelado, isso significa que há diferentes modos de se dizer a verdade.
“Infelizmente a mentira foi incorporada na sociedade como um jeito normal de lucrar, de defender interesses e egoísmos e de manipular a opinião pública. É a verdade que nos libertará. A mentira está globalizada em tantas formas de corrupção e de manipulação a ponto de se falar na cultura da corrupção. A educação para a ética e a verdade começa 20 anos antes de uma criança nascer. Portanto, já no namoro de seus futuros pais. Quem é veraz diz a verdade e respeita a veracidade”, conclui. (FB)
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