"A mentira é uma profanação da palavra, uma incoerência, uma violência”, afirma o arcebispo de Londrina
Londrina (Sexta-Feira, 12/07/2013, Gaudium Press) O arcebispo metropolitano da arquidiocese paranaense de Londrina, dom Orlando Brandes, em seu mais recente artigo faz uma reflexão sobre a mentira. No início da abordagem, ele afirma que todo ser humano, por ser inteligente tende para a verdade, e que a mentira é uma contradição e uma frustração para a mente e para a existência pessoal e social.
De acordo com o prelado, os seres humanos são seres sociais e relacionais, e para isso precisam da confiança nos outros. Em contrapartida, ele ressalta que a mentira é uma traição e um bloqueio para a convivência, a comunicação, impede a confiança no relacionamento humano. Para o arcebispo, uma vida pautada na desconfiança é desgastante e prejudicial, pois a mentira envenena tudo.
“O ser humano tem necessidade de coerência, inocência, da transparência, da ética. A mentira corrompe estes valores e nos faz reféns e prisioneiros da corrupção, da falsidade, dos golpes e bloqueios, boicotes e manipulação. Necessitamos também da verbalização dos sentimentos, comunicação interior, partilha do que vai no coração e na consciência. “
Outro aspecto que dom Orlando faz questão de enfatizar é que a mentira fecha as portas do coleguismo e da intimidade, obrigando-nos a viver de aparências e inverdades, projetando uma imagem falsa de nós mesmos. Segundo ele, esta mentira existencial gera as outras e acabamos confinados a uma prisão interior doentia e insuportável, tudo por conta da mentira. Sem falar, acrescenta o prelado, que é preciso gastar grandes energias para manter a mentira.
“Ninguém gosta de ser enganado e Deus não engana nem se engana. Deus é veraz. A veracidade é uma exigência do oitavo mandamento. O evangelista João afirma que o diabo é o pai da mentira. Portanto, a mentira é diabólica, é uma recusa à retidão moral. Mentir é uma agressão à dignidade humana porque é promoção da duplicidade, da simulação e da hipocrisia. Mentir redunda em uma grave injustiça e prejuízos pessoais, familiares e mundiais”, destaca.
O arcebispo ainda mencionou uma importante questão: mentir em público ou diante de um tribunal é falso testemunho, mentir sob juramento é perjúrio. Ele avalia que a mentira condena o inocente e inocenta o culpado, pois ela consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar, além de falar contra a verdade para induzir em erro. Para dom Orlando, aí está a gravidade da mentira, quando ela tira das pessoas o direito que elas têm à boa fama ao respeito e à reputação.
“A mentira é uma profanação da palavra, uma incoerência, uma violência. Por isso, há o dever de reparação. A mentira tornou-se onipresente e onipotente. Há um ‘reino da mentira’ que está nas balanças falsas, no comércio, na imprensa, nos remédios, na política, nas religiões e nas instituições. É a mentira que dá sustento a todos os pecados que cometemos. Ser sincero hoje é ser perdedor, ingênuo, bobo, imprudente. Mentir passou a ser verdade, obrigação, jeito e jeitinho”, diz o prelado.
Por fim, dom Orlando lembra que maledicência e calúnia são expressões típicas da pessoa mentirosa, e que a mentira é por natureza contraditória. Ele afirma que há circunstâncias que atenuam a gravidade da mentira, principalmente quando estamos obrigados a guardar sigilo, para manter o direito à privacidade e á honra, ou quando, alguém inocente é gravemente prejudicado, o que significa que há diferentes modos de se dizer a verdade.
“Infelizmente a mentira foi incorporada na sociedade como um jeito normal de lucrar, de defender interesses e egoísmos, de manipular a opinião pública. É a verdade que nos libertará. A mentira está globalizada em tantas formas de corrupção e de manipulação a ponto de se falar na cultura da corrupção. A educação para a ética e a verdade começa 20 anos antes de uma criança nascer, já no namoro de seus futuros pais. Quem é veraz diz a verdade e respeita a veracidade”, conclui.
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