“A fé liberta as pessoas, ilumina o sofrimento humano e dá sentido à vida”, afirma o bispo de Osório
Osório (Segunda-Feira, 10/06/2013, Gaudium Press) “Fé e vida” é o título do mais recente artigo de dom Jaime Pedro Kohl, bispo da diocese de Osório, no Estado do Rio Grande do Sul. Na reflexão, o prelado afirma que o discípulo de Jesus Cristo tem na fé uma virtude fundamental, e que a fé, a esperança e a caridade são chamadas de virtudes teologais, pois se referem diretamente a Deus. Para ele, o discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la, testemunhá-la com firmeza e difundi-la.
De acordo com o bispo, ter fé significa seguir Jesus, conhecer e praticar seus ensinamentos, dar plena adesão a sua proposta de amor incondicional a Deus e aos irmãos, além de implicar na conversão permanente aos princípios cristãos. Dom Jaime questiona: De que adianta conhecer todos os mandamentos e não viver o que ordenam? Ou mesmo conhecer todas as Escrituras Sagradas e não fazer o que elas ensinam? Segundo ele, é bom lembrar que nem o crer e nem operar por si mesmos são suficientes se não forem acompanhados de uma autêntica motivação, um verdadeiro amor.
“Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino. Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar meu corpo para ser queimado, mas se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada” (1Cor 13,1-3).
O prelado ainda afirma que guardar a fé, para nós católicos, significa alimentá-la pela oração, vida sacramental, pelo estudo e pela ação cristã na paróquia. Ele explica que viver a fé implica marcar todas as nossas atitudes em coerência com aquilo que professamos, pois professar e testemunhar a fé é ser discípulo missionário de Jesus Cristo, onde quer que estejamos.
“Não basta, porém, a pessoa dizer que tem fé, que faz parte da Igreja, se não transformar essa fé em atitudes concretas no seu dia a dia. É pelas obras que se manifesta à fé verdadeira, conforme nos ensina São Tiago: “Que aproveitará, irmãos meus, se alguém diz que tem fé e não tem as obras? Porventura poderá salvá-lo tal fé? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (2, 14.17), ressalta o bispo.
Dom Jaime nos alerta que há muitos cristãos que ainda separam a fé da vida, como se isso fosse possível, porque ou a fé marca a vida toda do cristão ou verdadeiramente não é fé, apenas algo vazio de sentido e de consequências. “Talvez seja por isso que tantos católicos não se comprometem verdadeiramente com os valores do Evangelho e criam uma maneira alienada de professar a fé”, avalia o bispo, que ainda acrescenta que eles atribuem certo valor apenas aos ritos e devoções sem se comprometerem de fato com a vivência dos ensinamentos cristãos.
Mas existem ainda, conforme o prelado, muitas pessoas que confundem fé com sentimento, e a fé é muito mais que sentimento e se orienta por convicções profundas decorrentes do uso da razão e da revelação divina. Ele acredita que a razão nos leva, ao natural, a nos situarmos no mundo como criaturas chamadas a colaborar com o criador e pela fé que compreendemos que somos filhos amados de Deus, que se manifestou através da história de um povo como Pai, Filho e Espírito Santo.
“Uma fé que se guia pelo sentimento é frágil e não subsiste. Basta aparecer um sofrimento, uma cruz, uma perda, uma mágoa e a pessoa abandona tudo – a Igreja, a comunidade, a família – porque, ele Deus não está interessado na sua dor ou luta. Ao invés disso, a fé madura torna a pessoa consciente da sua fragilidade e dignidade de filha, tanto que nada a pode abalar, até mesmo as dificuldades fortalecem sua confiança gerando nela força de superação de todo obstáculo”, declara.
Quanto ao verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, dom Jaime afirma que este servo de Deus é consciente de que a fé se professa na vida toda da pessoa: no relacionamento conjugal, na relação entre pais e filhos, na vivência familiar, nas relações com os vizinhos, no ambiente de trabalho, na atividade política e social, enfim, em todas as circunstâncias da vida. “A fé cristã não se reduz ao momento de culto, mas está presente em todas as situações e lugares que a pessoa se encontra. Precisamos buscar a iluminação da Palavra e nos alimentar da eucaristia sem reduzir a fé ao momento da celebração.”
Por fim, o bispo diz que em uma sociedade em que o individualismo, o consumismo e a injustiça se fazem presentes de forma ostensiva, é necessário e urgente que a pessoa sensata e os cristãos em particular encarnem sua fé no concreto da vida para que as transformações sociais ocorram e um novo tempo marcado pela justiça social, pela partilha de dons e de bens, pela busca de uma vida digna para todos, se tornem realidade.
“Essa fé encarnada e atuante transforma a sociedade e liberta as pessoas; ilumina o sofrimento humano e dá sentido à vida. A fé ajuda a viver mais e melhor. Fé e vida não são dois departamentos estanques, mas duas faces da mesma moeda”, conclui o prelado. (FB)
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