"Não podemos correr o risco de ficar nos escritos. É preciso ir até à fonte, que é única", afirma arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre (Segunda-Feira, 04/02/2013, Gaudium Press) Dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no artigo “A Boa Nova Bíblica”, fala que a Sagrada Escritura faz misteriosamente desaparecer Moisés, bem como Abraão, Isaac e Jacó, pois ninguém sabe onde foram sepultados, mas sua lei e sua fé perduram ao longo das gerações. Para o prelado, esta fé nos leva a acolher dois grandes mistérios: o primeiro é o da encarnação do Verbo: Deus fez História conosco; e o segundo é o mistério pascal: morte e ressurreição do Senhor.
Quanto ao mistério da encarnação, o prelado explica que Jesus é real, podendo concretamente ser situado no espaço e no tempo. “Ele viveu entre nós. É objeto de fé, ou seja, não só cremos o que Ele ensinou, ou o que Ele pensou, mas cremos nele e o acolhemos como Salvador, o Deus conosco. É o rosto humano de Deus, que se tornou o rosto divino do homem”, destaca.
Já o mistério pascal, segundo o arcebispo, aponta para a transcendência da vida. Ele afirma que unindo os dois mistérios se criou a expressão de que Ele assumiu o que é nosso, – nossa humanidade – para nos dar o que é seu – a divindade. “Em outras palavras, tornou-se imanente para nos levar à transcendência.”
Dom Dadeus enfatiza que estes dois mistérios constituem o fulcro do anúncio cristão: Deus se tornou humano, em Jesus Cristo, para, nele e por ele, tornar-nos divinos. Para o prelado, isto não só se anuncia com palavras, mas também se realiza com atos, através dos sacramentos, sinais sensíveis e eficazes da graça.
O arcebispo ainda lembra que o Antigo Testamento nos garante a fé num único Deus verdadeiro, criador do céu e da terra, exprime-a através de figuras literárias de profundo significado, que marcaram a História da Salvação. Esta mesma fé, continua o prelado, agora se concretiza em Jesus Cristo, que foi enviado por Deus para nos salvar. Para dom Dadeus, a condenação de Jesus à morte fez com que se unisse indissociavelmente a Cruz à Divindade.
“Nosso Deus é um Deus que morre por nós. Dá-nos sua vida para que tenhamos vida. E aprofundando este mistério, tornado palpável pela ressurreição, descobrimos uma nova escala de valores: o que é escândalo para os judeus e opróbrio para os pagãos, Jesus Cristo, crucificado, tornou-se para nós sabedoria de Deus e poder de Deus: é a sabedoria que serve de paradigma para entender o mundo e a vida e são os sinais que demonstram a presença de Deus, atuando entre nós”, ressalta ele.
E de acordo com o arcebispo, o paradoxal é que tudo isto nos leva a reconhecer e acolher a alegria de Cristo: “Disse-vos estas coisas para que minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja completa”. Dom Dadeus diz que em Cristo reconhecemos o salvador prometido por Deus no Antigo Testamento, pois ele é apresentando pelo Novo Testamento como aquele que cumpre as promessas e que plenifica a vida na terra: é o primogênito de toda criatura. Tudo foi criado por ele e para ele, segundo a expressão de S. Paulo.
“A providência quis que a Bíblia fosse escrita algum tempo depois dos acontecimentos, para nos certificar da sedimentação da fé, dentro de uma visão histórica. É o conselho do Mestre Gamaliel para atestar a solidez da pregação: o tempo dirá. Não se poderia esperar demais, para não perder a memória, nem precipitar-se antes de uma confirmação e concretização da mensagem na vida da humanidade.”
Por fim, dom Dadeus avalia que a filosofia realista define a verdade como adequação do intelecto com a realidade. Conforme ele, não basta, pois, à semelhança do racionalismo ou do idealismo, constatar idéias na mente, para declarar-se possuidor da verdade, pois é preciso ir à realidade e ver sua correspondência.
“Assim acontece com a Revelação divina. Não podemos correr o risco de ficar nos escritos, como se nossa religião fossa uma religião do livro. É preciso ir até à fonte, que é única. Os canais, pelos quais ela chega a nós são duplos: a Escritura e a Tradição, ou seja, a escrita e a vida”, conclui o arcebispo. (FB/JS)
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