Após provocar polêmica em Roma, “Anjos e Demônios” estreia nesta sexta no país
São Paulo (Sexta, 15-05-2009, Gaudium Press) Como já de se esperar, o filme “Anjos e Demônios” – sobre uma trama secreta para assassinar o Papa e explodir o Vaticano – não passou incólume aos olhos da Santa Sé, embora muitos religiosos preferissem que assim o fosse. Após meses de controvérsia – a produção não foi autorizada a filmar na Basílica de São Pedro e em igrejas romanas, sofreu críticas de cardeais decanos da Igreja e foi tema de editorial do jornal Osservatore Romano – o filme finalmente chegou aos cinemas.
No Vaticano, os defensores da política do “deixa para lá” alegavam que quanto mais se falasse no filme e quanto mais o condenassem, mais atenção estariam atraindo para a obra. Essa ponderação racional não surgiu à toa. Os religiosos que optaram pela desconsideração estavam escaldados por polêmicas anteriores envolvendo a Igreja e obras de ficção cinematográficas e literárias que abordavam o seu mundo.
A última dessas polêmicas envolveu justamente a produção de “O Código da Vinci” – filme adaptado do mesmo autor em cujo livro Anjos e Demônios é baseado, dirigido pelo mesmo cineasta e protagonizado pelo mesmo ator, Tom Hanks. “O Código da Vinci” falava de um fictício “lobby” secular da Igreja para evitar que a informação de que Jesus e Maria Madalena teriam se casado e tido descendentes viesse a público.
À época, a Igreja saiu bastante desgastada da polemização com o livro e, depois, com o filme, já que a obra havia virado um grande fenômeno e um best-seller global.
Na semana passada, quando da estreia de “Anjos e Demônios” no circuito italiano, o jornal vaticano “L’Osservatore Romano abordou justamente a questão de como a Igreja se posiciona na mídia. Um dos textos dizia que “o sucesso de livros e filmes como “O Código Da Vinci” e “Anjos e Demônios” deveria fazer a Igreja Católica repensar a maneira como emprega a mídia para se apresentar”.
Conforme abordou a Rádio Vaticana, foram dois os editoriais sobre a obra, que punham fim ao silêncio institucional da Santa Sé em relação ao filme. Os editoriais não criticam ou elogiam o filme abertamente, mas trazem um misto de comentários positivos e outros mais negativos, com claro posicionamento.
Um dos editoriais classifica o filme de “efêmero”, mas também admite que ele “prende a atenção”, e diz que o trabalho de câmera foi “esplêndido”. Segundo a resenha, o filme é “pretensioso”, mas a direção de Ron Howard é “dinâmica e atraente”.
Já o editorial “O segredo de seu sucesso” pondera que a Igreja deveria se perguntar por que uma visão “simplista e parcial” dela mesma, conforme a mostrada nas obras de Dan Brown, encontra tanto eco, mesmo entre católicos.
“Seria provavelmente um exagero considerar os livros de Dan Brown um sinal de alarme, mas talvez eles devam ser um estímulo para que se repense e renove a maneira como a Igreja emprega a mídia, para explicar suas posições sobre as questões mais candentes do momento”, diz o texto.
Em “Anjos e Demônios”, o simbologista Robert Langdon retorna à tela dos cinemas para “tentar ajudar o Vaticano a resgatar cardeais sequestrados que estão sendo assassinados de hora em hora”. Para desativar uma bomba-relógio, ele tem que encontrar e decifrar pistas ligadas a uma sociedade secreta secular chamada “Illuminati”.
O diretor do filme, Ron Howard, acusou o Vaticano de obstruir o trabalho das filmagens em Roma – “foi preciso recriar cenas do Vaticano e de algumas igrejas de Roma em Los Angeles”, disse – e de ter feito lobby para cancelar uma festa de lançamento do filme na capital italiana.
Além disso, o bispo italiano Antonio Rosario Mennonna, de 102 anos, denunciou o filme na Procuradoria de Roma chamando-o de “difamatório e ofensivo aos valores da igreja e ao prestígio da Santa Sé”. Ele pediu que os católicos não fossem assisti-lo. O mesmo fez o bispo amerciano William Donahue, que tachou o filme de “anticatólico”.
Ron Howard, claro, agradeceu a publicidade.
“Anjos e Demônios” entra em circuito comercial no Brasil com 509 cópias.
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