O perfil de Ratzinger por quem o conheceu. Entrevista com Pe. Mario de França Miranda, S.I. no II Simpósio sobre o pensamento de Joseph Ratzinger no Rio.
Rio de Janeiro (Sexta-feira, 09-11-2012, Gaudium Press) No marco do II Simpósio Internacional sobre o pensamento de Joseph Ratzinger que de desenvolve no Rio de Janeiro, promovido pela Fundação Vaticana Ratzinger Bento XVI, Gaudium Press conversou com o Padre Mario de França Miranda, S.I, sacerdote brasileiro membro da Comissão Teológica Internacional, que realizou um importante exposição no evento.
As diversas experiências do Padre França, tidas com o então Cardeal Ratzinger, particularmente no interior da Comissão Teológica, ajuda a nos aproximarmos dessa altíssima personalidade intelectual e humana que é o Papa. Em seguida apresentamos alguns trechos com as palavras do sacerdote jesuíta:
Bem, eu fiquei, a respeito do Cardeal Ratzinger, na Comissão Teológica, com a lembrança de um homem muito atento a nossas discussões, muito respeitoso, não falava, ele sabia mais que todos nós mas não falava. Só entrava na discussão quando alguma coisa ficava “sem avançar”, então ele fazia uma intervenção nos ajudando na reflexão. Mas ele não tinha preocupação de mostrar seu conhecimento, ele ficava calado como se fosse uma pessoa que estava aprendendo.
Agora a impressão que nós tivemos é que ele gostava bastante da Comissão Teológica (internacional). Ele gosta da Teologia, ele gosta dos debates teológicos. Ele gosta de ver pessoas trazendo dados da Teologia, da tradição, porque eu imagino que aquele trabalho dele como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, é um trabalho que possui ocasiões muito prosaicas para ele, problemas do clero, essas coisas pequenas, e quando vinha a nossa Comissão ele estava “em seu elemento”, era o professor que estava de novo ali.
Depois uma pessoa muito educada, muito tímida. Mas muito delicada e cordial. Quando ele apresentava alguém ao Papa ele fazia questão de elogiar, de dizer palavras positivas, por assim dizer, é uma pessoa preocupada com os outros, isso se notava logo. Eu diria, um homem muito espiritual.
Até na percepção dos membros da Comissão Teológica, via-se que ele reconhecia as pessoas que participavam mais, que viviam mais. E as nomeações de vários membros da Comissão Teológica provam isso. […]
Então, Ratzinger percebia as pessoas que viviam a Fé com mais profundidade, que não tinham apenas uma mera Teologia, mas que possuiam também a expressão de uma vivência.
Ademais disso, ele era uma pessoa muito humana. Eu uma vez tive que ir à Roma, com um problema de uma pessoa pela qual eu tinha que interceder junto à Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Perguntei para o atual Cardeal George Cottier: “Gostaria de falar com alguém para defender uma pessoa”. Ele se voltou para mim – ele exercia funções de secretaria para Ratzinger – e me disse: “A pessoa mais humana da Sagrada Congregação chama-se Joseph Ratzinger. Você irá conversar com ele”. E depois da Missa nós conversamos um pouco, e ele mostrou uma grande compreensão, disse: “Padre, vamos evitar problemas, tudo que o senhor puder fazer a Sagrada Congregação agradece, para evitar mais um caso na Igreja. Nós não queremos isso, isso prejudica a imagem da Igreja, de maneira que o que o senhor puder fazer…” E acrescentou “olhe a pessoa que está dizendo isso (era uma pessoa com a espiritualidade agostiniana), como estará Santo Agostinho no céu vendo a essa pessoa dizendo essas barbaridades?” e assim, deu um sorriso como que dizendo “vamos tentar aliviar isso”. Um fato deste marca muito a pessoa.
Em uma ocasião, por exemplo, em que (no seio da Comissão Teológica Internacional) a gente discutia, discutia, discutia e não chegava a um ponto, ninguém esperava que ele dissesse aquilo, ele pediu a palavra (ele falava em francês sempre, quando a coisa era mais simples. Quando era algo muito delicado, ele falava em alemão) e falou em francês: “vamos ter a humildade de reconhecer que nenhum de nós tem a resposta para essa questão. Talvez daqui a 50 anos a Igreja a terá”. Veja, dito por ele… aí parou a discussão. Isso é um homem humilde.
De maneira que o que guardo de lembrança, é de uma pessoa muito espiritual e rezo muito por ele, a situação que ele assumiu a Igreja não é fácil.
Gaudium Press: É uma ocasião de alegria muito grande, o senhor ter a oportunidade de haver feito esta brilhante colocação que fez neste Simpósio…
Padre França: Eu fiz isso com gosto, porque tenho muita adimiração pelo Papa, e creio que de fato, seu pensamento deve ser mais conhecido. Há tanta coisa para se ler, algumas dele eu conhecia, outras não. Eu disse uma vez a ele: “eu li suas apostilas da Alemanha”. Ele ficou espantado – eu fiz Teologia na Austria – e as apostilas da Alemanha vinha à Austria, sobre a Eucaristia, sobre a Criação. Agora, não consigo falar em alemão com ele, sempre o faço em francês…
Antonio Jakos Ilija / Diego Alves
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