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Não basta falar para ser escutado,é preciso uma nova atitude, não de pura transmissão, mas de partilha, afirma o arcebispo de Porto Alegre

Porto Alegre (Segunda-Feira, 22/10/2012, Gaudium Press) Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em seu artigo “O mundo digital”, afirma que o ser humano, até pouco tempo atrás, tinha consciência de viver em três mundos: no mundo real, que reconhece ser criatura de Deus; no mundo cultural, que constitui uma criação sua e no mundo espiritual, que lhe foi trazido pela Revelação divina. Acontece, porém, que, em nosso tempo, acrescentou-se ao mundo da natureza, ao mundo da cultura e ao mundo da fé, um quarto mundo, que podemos chamar de digital.

O prelado explica que os modernos meios de comunicação levaram o homem a viver cada vez mais o “seu mundo”, tirando-o, de algum modo, do mundo da natureza, para situá-lo no mundo da arte. “Sabemos que, hoje, este mundo duplica a cada dois anos, dando a impressão de uma velocidade cada vez maior, enquanto o mundo natural continua no seu ritmo normal, sem pressa, bem ritmado, igual aos tempos passados”, reforça o bispo.

Com relação ao quarto mundo, denominado “mundo digital”, dom Dadeus esclarece que não se trata apenas de um instrumento de acesso nem de trabalho, mas muito mais de um novo ambiente, que se criou e que precisa ser habitado, além de significar para a Igreja um novo campo de evangelização.

“De fato, não acessamos, hoje, somente os meios de comunicação como o rádio, a televisão, mas nos apercebemos cada vez mais do significado da comunicação. O Papa Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações de 2012, reconhece que a sede de comunicação não se restringe a instrumentos. Chega a constituir um verdadeiro ambiente de vida. Lança, por isso, o convite não só de situá-lo bem, como também de viver bem no tempo da rede. Lança decididamente os cristãos para uma visão de rede, como contexto existencial”.

Segundo o arcebispo, como os tempos da comunicação mudaram sensivelmente é preciso superar o modelo da comunicação de meros conteúdos, num contexto de pura transmissão. Para ele, não basta falar para ser escutado, nem escrever para ser lido, é preciso uma nova atitude, não de pura transmissão, mas de partilha. E, de acordo com dom Dadeus, isto equivale a dizer que a relação entre as pessoas passa à dianteira na comunicação.

“Os conteúdos se transformam em relações. Isso apela para uma nova evangelização. Não são as verdades ou os dogmas que se enunciam, mas a experiência que se proporciona. Quer-se o encontro pessoal com Cristo, para experimentar a salvação, muito mais que munir-se de conceitos religiosos precisos e profundos”, avalia.

Por fim, o arcebispo alerta para a necessidade de uma simplificação dos conteúdos, e a própria tecnologia começa a simplificar as operações. Segundo ele, o ambiente digital transforma-se num lugar de partilha humana, longe da exposição teórica e seca para proporcionar uma partilha repleta de sentimentos, qualificados como quentes.

“Atinge as pessoas em seus sentimentos, pensamentos e desejos mais profundos, mais que por um raciocínio abstrato. Por isso Bento XVI insiste no silêncio para acolher a mensagem e partilhar as riquezas da salvação. Estabelece-se uma relação afetiva com a mensagem. É importante parar para ouvir, no interior, o que é mais verdadeiro, o que corresponde aos anseios profundos e atrai a atenção. É ali que construímos a vida espiritual, vivendo num mundo digital”, conclui.

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