“O homem só vive se convive”, afirma arcebispo de Porto Alegre
Porto Alegre (Sexta-feira, 31/08/2012, Gaudium Press) O Arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Dadeus Grings, no artigo “A relação com os outros”, chega à seguinte conclusão :
“Amor é eterno, total. Só pode ser dado, com propriedade, a seres que tenham uma dimensão imortal. Quem ama quer que o amado não pereça. Vai, por isso, além do túmulo. Pode-se gostar de animais e de plantas; dar-lhes carinho e ministrar-lhes cuidados. Mas não amor. Porque o amor é próprio das pessoas. Situa-se num outro patamar, que é o da intersubjetividade”.
Antes de chegar a essa conclusão ele afirma que para aprofundar a relação consigo mesmo fala-se de introspecção, onde o ser humano entra, pela consciência, em si mesmo. E segundo ele, para realçar sua relação com o mundo o homem recorre às ciências e à técnica, falando de um conhecimento objetivo e assumindo o universo como objeto, transforma-o em conceito e o interioriza.
Para o prelado, o homem vive sua relação com o mundo pelo conhecimento, pela vontade e pelos sentimentos, e objetiva-o, apesar de tê-lo trazido para dentro de si e o experimentar ali. No entanto, explica dom Dadeus, existe um terceiro plano de relacionamento, que não se faz nem por introspecção nem por conhecimento objetivo, ou seja, não se encontra na própria intimidade, nem se atinge pela ciência: é o outro.
Dom Dadeus Grings |
O arcebispo destaca que a expressão “outro” seria suficiente, se não se lhe tivessem embutido conotações diversas, e por isso é importante especificar: falamos do “outro eu” para dizer que não se trata de um objeto – que possa ser atingido por um conhecimento objetivo. “É um eu, que não sou eu, mas que é eu como eu. Como atingi-lo? Como relacionar-me com ele. Ninguém duvida de sua existência, ou seja, todos têm certeza que existem outros “eus” e que não se está sozinho no mundo, ou com animais”, ressalta.
Ainda de acordo com Dom Dadeus, certamente o outro não se conhece por um conhecimento objetivo, pois no momento em que o objetivo coisifico-o, o que significa que o mato, ou talvez o animalize, não posso, pois, chegar a ele pela ciência. Mas nem pela introspecção, como se quisesse descobri-lo dentro de mim. “Ele não sou eu e eu não sou ele. Não posso, pois, simplesmente projetar minha vida, meus pensamentos, sentimentos e vontade nele. Ele é ele. Devo respeitá-lo em sua personalidade.”
Mas ele – como eu -, analisa o prelado, não somos indivíduos fechados nem isolados, então eu me relaciono com ele e ele comigo. Ele enfatiza que não se trata, evidentemente, de um relacionamento, por assim dizer, objetivo, de dois existentes, à semelhança de meu relacionamento com os demais seres do universo mais próximos. “Eu sou sujeito e ele é sujeito, com pensamento, vontade e sentimentos. Relaciono-me com ele como sujeito a sujeito”, explica o arcebispo.
Dom Dadeus afirma, porém, que o nosso relacionamento não se restringe à dimensão subjetiva, ou seja, não me afeta somente a mim e a meu intimo. “Sendo relacionamento de sujeito a sujeito, chamamo-lo intersubjetivo. Eu acolho o eu dele no meu eu, e ele acolhe meu eu no eu dele. Falamos então de convivência. Criamos unidade vital. Entendemos que a vida humana não é individual, mas essencialmente convivência. Realiza-se pela intersubjetividade. É a interpretação ou comunicação de espíritos”, completa.
Por fim, o prelado lembra que não por nada Jesus Cristo veio trazer-nos, como seu mandamento específico, o amor, pois o homem só vive se convive. De acordo com o arcebispo, o maior empenho humano está exatamente na criação de relações intersubjetivas, respondendo assim à pergunta objetiva do por que, do para que, mas intersubjetiva do para quem vivemos.
Ele diz também que não se consegue elaborar uma ideia clara do relacionamento, pois ouvimos apelos de amor pelos animais, pelas plantas, pela ecologia, e isto, não se enquadra, a rigor, na natureza do amor. (FB/JS)
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