"Como um peregrino", Bento XVI chega à Jordânia visando ao estreitamento do diálogo interreligioso
Amã (Sexta, 09-05-2009, Gaudium Press) O Papa Bento XVI não economizou nas palavras cordiais e tampouco poupou otimismo em sua chegada à Jordânia. Na capital Amã, primeira etapa de sua inédita viagem ao Oriente Médio, Bento XVI disse ainda no aeroporto, após ser recebido pela comitiva real, por bispos católicos e membros do corpo diplomático, que vinha para o país “como um peregrino” e que se sentia feliz de “por os pés no solo do reino Hashemita da Jordânia”.
Não à toa. A 12ª viagem apostólica do pontificado de Bento XVI – a terceira de um pontífice à região na história da Igreja – ganha um caráter especial em relação às demais. Ainda que fundamentalmente religiosa, a visita do Papa ao Oriente Médio reveste-se de fortes contornos políticos e visa, além da promoção do diálogo interreligioso entre judeus, cristãos e muçulmanos na região, a diluir o mal-estar gerado por polêmicas recentes da Igreja Católica com essas religiões, como a suscitada pelo bispo lefebvriano Richard Williamson, que negou o holocausto e as câmaras de gás.
Durante os sete dias de viagem à região, Bento XVI não fará apenas peregrinação aos lugares sagrados da Bíblia e rezará missas em estádios. Ele manterá também encontros com representantes das três principais religiões da Terra Santa, que invariavelmente vivem em um clima de tensa contenda e hostilidade.
“Eu espero sinceramente que essa visita, e de fato todas as iniciativas propostas para trazer boas relações a Cristãos e Muçulmanos, nos ajudem a crescer no amor para com o Deus Todo-Poderoso, e em amor fraternal uns com os outros”, disse no discurso de boas-vindas de hoje.
O avião com o Santo Padre a bordo – um Airbus 320 da companhia Alitalia – partiu do aeroporto de Fiumicino às 9h50 e chegou ao aeroporto internacional Queen Alia, de Amã, pouco antes das 14h30 locais – 13h30 na Itália, 8h30 no Brasil.
No aeroporto, Bento XVI era esperado pelo rei Abdullah II, acompanhado de sua esposa, Ranya, e por religiosos e patriarcas católicos da Terra Santa, bispos, corpo diplomático e alguns fiéis.
Em sua alocução, Bento XVI falou que estava ansioso por visitar lugares santos para a história bíblica, como o Monte Nebo, onde Moisés teve a revelação da Terra Prometida, e o Rio Jordão, onde Jesus teria sido batizado pelo primo, João Batista. O Papa fez também questão de destacar a atuação do Rei Hussein II, já falecido, e do atual, Abdullah, que sucedeu ao pai no trono, na mediação do conflito israelo-palestino e na promoção do diálogo e da paz na região.
Veja a seguir a íntegra do primeiro discurso do Papa na Jordãnia, no aeroporto internacional Queen Alia, em Amã.
“Suas Majestades,
Suas Excelências,
Queridos Irmãos Bispos,
Queridos Amigos,
É com alegria que eu saúdo todos vocês aqui presentes, neste que é o começo de minha primeira viagem ao Oriente Médio desde a minha eleição para a Sé Apostólica, e estou contente de colocar os pés sobre o solo do Reino Hashemita da Jordânia, uma terra tão rica em história, casa de tantas civilizações antigas e profundamente imbuída de significados religiosos para Judeus, Cristãos e Muçulmanos. Eu agradeço Sua Majestade o Rei Abdullah II por suas gentis palavras de boas-vindas,e eu ofereço meus particulares cumprimentos neste ano que marca o décimo aniversário de sua ascensão ao trono.
Ao saudar Sua Majestade, eu extendo meus votos a todos os membros da Família Real de do Governo, e a todas as pessoas do Reino. Eu saúdo os Bispos aqui presentes, especialmente aqueles com responsabilidades pastorais na Jordânia. Eu espero ansiosamente por celebrar a liturgia na Catedral Saint George amanhã à noite e no Estádio Internacional no domingo, junto a vocês, queridos bispos, e a tantos dos fielmente confiados por vós.
Eu venho à Jordânia como um peregrino, para venerar lugares sagrados que tiveram um papel tão importante em alguns eventos-chave da história bíblica. No Monte Nebo, Moisés conduziu seu povo com a visão da terra que se tornaria sua casa, e aqui ele morreu e descansou. Em Betânia, além do Jordão, João Batista pregou e testemunhou Jesus, a quem batizou nas águas do rio que dá nome a essa terra. Nos próximos dias, devo visitar ambos esses lugares sagrados, e terei a alegria de abençoar as pedras fundamentais de igrejas que estão para serem construídas no tradicional lugar do Batismo do Senhor. A oportunidade com que a comunidade católica da Jordânia abraça a construção de lugares sagrados de adoração é um sinal do respeito deste país pela religião, e em seu nome eu quero dizer o quanto essa abertura é bem-vinda. Liberdade religiosa é, claramente, um direito humano fundamental, e é minha fervorosa fé e devoção que respeito pelos direitos inalienáveis e pela dignidade de todo homem e toda mulher continuará a ser afirmado e defendido de forma crescente, não apenas pelo Oriente Médio, mas em todas as partes do mundo.
Minha visita à Jordânia me dá uma ótima oportunidade de falar sobre o meu profundo respeito pela comunidade muçulmana, e de pagar tributo à liderança demonstrada por Sua Majestade o Rei em promover um melhor entendimento das virtudes proclamadas pelo Islã. Agora que alguns anos se passaram desde a publicação da Mensagem de Amã e da Mensagem Interreligiosa de Amã, nós podemos dizer que essas valiosas iniciativas alcançaram muito bem em reforçar a aliança das civilizações entre o Ocidente e o mundo muçulmano, desacreditando as previsões daqueles que consideram a violência e o conflito inevitáveis.
De fato, o Reino da Jordânia vem há muito tempo estando à frente das iniciativas de promoção da paz no Oriente Médio e mundo afora, encorajando o diálogo interreligioso, apoiando esforços para encontrar uma solução justa para o conflito israelo-palestino, aceitando refugiados do vizinho Iraque e procurando conter o extremismo. Não posso deixar passar essa oportunidade sem destacar os esforços pioneiros pela paz na região feitos pelo falecido Rei Hussein. Como é propícia que o meu encontro amanhã com os líderes religiosos muçulmanos, o corpo diplomático e os reitores das universidades aconteça na mesquita que leva seu nome. Que o seu comprometimento com a resolução dos conflitos regionais continue a gerar frutos os esforços pela promoção da paz e da justiça para todos os que vivem no Oriente Médio.
Queridos amigos, no Seminário realizado em Roma no outono passado, pelo Fórum Católico-Muçulmano, os participantes examinaram o papel central das nossas respectivas tradições religiosas pelo comprometimento com o amor. Eu espero sinceramente que essa visita e, de fato, todas as iniciativas tomadas para trazer boas relações a cristãos e muçulmanos, nos ajudem a crescer no amor para com o Deus Todo-Poderoso, e em amor fraternal uns com os outros. Muito obrigado pelas boas-vindas. Muito obrigado por sua atenção. Que Deus possa conceder a Suas Majestades felicidade e vida longa! Que Ele possa abençoar a Jordânia com prosperidade e paz!”
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