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Caminho áureo rumo ao Criador

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Ovo de Fabergé

Quando apreciamos uma bela obra de arte, intuímos que esta possui, sob certo prisma, a marca de seu autor, inconfundível com as demais; “por vezes, o mais precioso de uma obra de arte é o fato de ela nos dar a conhecer algo da própria alma do artista que a concebeu”.1 Tal como uma obra-prima, verifica-se na Criação, tão belamente adornada, reflexos de um Autor que é a matriz dessas maravilhas contidas no universo, o Modelo de todas as belezas, como nos diz São Tomás: “As coisas que procedem de Deus se parecem com Ele”2, e, acrescenta o Papa Bento XVI: “Tudo o que Deus criou era muito bom”.3

Santo Agostinho, em um de seus sermões sobre a beleza das criaturas, diz: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar dilatado e difuso, interroga a beleza do céu, interroga o ritmo ordenado dos astros: interroga ao sol, que ilumina o dia com fulgor: interroga a lua, que suaviza com seu esplendor a obscuridade da noite que segue ao dia: interroga aos animais que se movem nas águas, que habitam a terra e que se movem no ar […] Interroga todas essas realidades. Todas elas te responderão: Olha-nos, somos belas”.4

Para ele, Bispo de Hipona, a própria beleza das coisas revela a Deus, pois “se são belas as coisas que fez, quanto mais belo será Aquele que as fez”.5 Detenhamo-nos, agora, em algo cunhado pelo Divino Autor, no qual quis Ele apresentar ao universo “à sua imagem e semelhança” (Gn 1, 26): o homem. “Entre as coisas muito boas estava também o homem, ornamentado com uma beleza muito superior a todas as coisas belas”, nos diz o Santo Padre.6

Qual deve ser o caminho percorrido pelo homem para chegar até Deus?

Sendo uma criatura inteligente, antes mesmo de formular seus primeiros critérios na infância, percebe que, de fato, ele existe e possui também uma ligação com tudo aquilo que o cerca.7″Esta noção, sumamente substanciosa, é como o alimento próprio de sua inteligência, pois é o que lhe permite conhecer todas as coisas, garantindo-lhe a sanidade mental”.8 Nestes primeiros contatos com as criaturas, através dos sentidos, o homem classifica aquilo que lhe agrada e, mais ainda, procura a plenitude do objeto agradado.

Contudo, devido ao apego do ser humano às coisas materiais, nestas, busca ele algo que lhe satisfaça, encontrando, muitas vezes, apenas frustração, “pois as coisas deste mundo tão somente fazem parte de um conjunto cuja cúspide se encontra no Céu, onde está Quem lhe poderá saciar a sede de infinito”.9 É a esse respeito que nos adverte o livro da Sabedoria: “Se tomaram essas coisas por deuses, encantados por sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez essas coisas. Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor” (Sb 13, 3-5).

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Desse modo, compreendemos que o homem, ao longo de sua vida terrena, capta a beleza das coisas criadas por conter no mais profundo de sua alma alguns transcendentais, provindos de Deus, e postos por Ele em sua alma.

Segundo Edualdo Forment os transcendentais, em geral, são denominados como propriedades do ser. Essas propriedades depositadas no homem, a verdade, o bem, o uno e o belo provêm do Ser Absoluto, com a diferença de não se igualarem a Ele, mas possuírem umas “facetas” deste, expressamente manifestadas naqueles que as possuem.’10 Para facilitar a compreensão, é indispensável uma explicação ilustrada de Monsenhor João Clá. Diz ele que basta aproximar-nos de um berço de uma criança e apresentarmos a ela algumas belas bolas de diferentes cores para notarmos suas reações de maravilhamento causadas por estes instintos. Certamente, ela escolherá a bola da coloração que mais lhe agrada e depois de algum tempo passará a brincar com uma outra, e, assim, sucessivamente. “Trata-se da busca instintiva do bem, do belo e do verdadeiro que acabará por levar à eleição de uma das bolas como a principal dentro daquele conjunto”.11

Com efeito, há dois transcendentais que possuem uma ligação ulterior, uma analogia entre si. Estes são o belo e o bem, como diz o Doutor Angélico: “O belo é idêntico ao bem”.12 Afirma isto, ao explicar como o belo acrescenta ao bem uma certa ordem à potência cognoscitiva, de modo que o bem se chama o que agrada, de maneira absoluta ao apetite, e belo aquilo cuja apreensão agrada.13 A esse respeito nos fala Tomás de Verceil: “[…]contemplando o belo, nos tornamos bons, assim como nos tornamos belos ao amarmos o bem”.14

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Cumpre considerar, ainda, a perfeita harmonia depositada nos transcendentais, cujo “encargo” foi deixado à beleza, como nos ensina Molinário, que a profundidade da beleza consiste na sua própria harmonia com os demais transcendentais e mais ainda: “a beleza é a propriedade transcendental do ser enquanto perfeita convertibilidade da unidade como integridade, da bondade como proporção e da verdade como claridade; e que o ente é belo enquanto é uno e íntegro, bom e proporcionado, verdadeiro e claro”,15 portanto harmônico.

Assim, concluímos, que a melhor forma de se chegar ao Criador é através de uma Via Pulchritudinis, ou seja, do caminho do belo e, realizá-lo, “significa revestir de pulcritude todos os atos da existência, para mais facilmente se erguer até Deus, que é a Beleza absoluta”.16

Por Michelle Sangy.

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conhecimento de Deus através do belo. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano XI, n.125, ago. 2008, p.18.
2 SAO TOMAS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q. 3, a. 7.
3 BENTO XVI. Audiência geral, 29/08/2007. Disponível em: . Acesso em 11 jun. 2012. ,
4 SANTO AGOSTINHO, Sermão 241, 2, apud OLIVEIRA SOUZA, Dartagnan Alves de. Pulchrum Caminho para o Absoluto? In: Lumen Veritatis. São Paulo: Ano II, n.8, jul/set. 2009, p.86.
5 Id. Enarratio in psalmos. s. CXLVIII, apud REY ALTUNA, Luis. Fundamentación ontológica de la belleza.Disponível em:(http://dspaceunaves/dspacethjtstream/10171/225 I/l/O6.%2Oluis%2OREy%2OALTUNA%20F Acesso em 26 nov. 2008. (Tradução da autora).
6 Bento XVI. Op. cit.
7 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Op. cit. q.5, a.2.
8 CAMPOS, Juliane Vasconcelos Almeida. A chave do relacionamento com Deus. In: Arautos do Evangelho. São Paulo: n. 122, fev. 2012, p. 20.
9 Ibid. p. 22.
10 FORMENT, Eudualdo. La sistematizacion de Santo Tomás de los trascendentales. In: Contrastes. Revista Interdisciplinar de Filosofia. Barcelona: y. I, 1996, p. 111.
11 CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Os dois filhos da Parábo1a, e os dois outros. In: Arautos do Evangelho. SãoPaulo: n. 43, set 2005, p.7.
12 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Op. cit. J-II, q. 27, a. 1.
13 Loc. cit.
14 apud Verceil, Tomás de . Op. cit. p. 20.
15 MOLINARIO, Aniceto. Metafisica. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 92.
16 ARAUTOS DO EVANGELHO. Fórmula de Admissão de Neo Arautos do Evangelho. Folheto da Cerimônia. São Paulo: 17 de jun. de 2012. (Arquivo IFTE).

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