Nossa Senhora das Maravilhas
Maria produziu, com o Espírito Santo, a maior maravilha que existiu e existirá: um Homem-Deus; e Ela produzirá, por conseguinte, as coisas mais admiráveis que hão de existir nos últimos tempos. (São Luís Grignion de Montfort)
Redação (03/02/2021 10:58, Gaudium Press) São inumeráveis as maravilhas operadas pela Mãe de Deus ao longo desses mais de vinte séculos de História da Igreja. Com razão, pois, o povo fiel, entre centenas de outros títulos, invoca a Imaculada Esposa do Espírito Santo como Senhora das Maravilhas.
Quando brotou da alma católica essa invocação?
Sabemos que ela já existia pelo menos desde as primeiras décadas da descoberta da América.
Na Catedral de Salvador, Bahia
Quando, em 1552, aportou na Bahia o primeiro Bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, trazia ele uma preciosa imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, presente do Rei Dom João III à recém-descoberta Terra de Santa Cruz.
Concluída a construção da Catedral da Sé de Salvador em 1624, seu Bispo, Dom Marcos Teixeira, entronizou na principal capela lateral a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, onde a Mãe de Deus passou a acolher com benevolência todos quantos a Ela vêm pedir auxílio.
Poucos anos depois de ser entronizada nesta capela, o Menino Jesus que ela traz nos braços foi sacrilegamente furtado, quebrado em vários pedaços, lançado no lixo da cidade, onde foi depois encontrado, faltando uma das perninhas. Uma mulher ao procurar lenha encontrou esta perninha, e não sabendo o que era, lançou-a no fogo. Oh, maravilha! Para admiração da mulher, aquele pedacinho de madeira saltou para fora do fogo, sendo preservado. Deste modo se pôde restaurar o Divino Menino que foi devolvido aos braços da Mãe, com muito grande devoção.
O “estalo” do Padre Antonio Vieira
Por meio dessa imagem, o Senhor tem operado muitos e grandes milagres. Um dos mais conhecidos deu-se com o famoso Padre Antônio Vieira.
Tendo vindo menino para o Brasil, iniciou ele seus estudos no Colégio dos Jesuítas na Bahia. Nos primeiros tempos não passava de estudante medíocre, mal compreendendo as lições, a ponto de pensarem os superiores em dispensá-lo do Colégio.
Em seu grande desejo de ingressar na Companhia de Jesus, certo dia, já quase desesperado com sua dificuldade nos estudos, foi Vieira suplicar auxílio aos pés da Senhora das Maravilhas. No meio da oração, sentiu como um “estalo” em sua cabeça, acompanhado de uma dor muito forte que o prostrou por terra, dando-lhe a impressão de que ia morrer. Ao voltar a si, deu-se conta de que aquelas coisas que antes pareciam inatingíveis e obscuras à sua inteligência, tornaram-se claras. Assim, Vieira percebeu a enorme transformação ocorrida em sua mente.
Ao chegar ao Colégio, pediu que o deixassem participar das disputas com os colegas. Para espanto dos mestres, venceu todos os companheiros com o brilho de seu raciocínio. Daí por diante foi o primeiro e mais distinto aluno em todas as disciplinas, tornando-se um dos maiores oradores sacros e escritores da língua portuguesa.
Devoção na Espanha: o Menino Jesus das Maravilhas
Na Capital espanhola, o nome de Nossa Senhora das Maravilhas tem sua origem em fatos encantadores e poéticos, próprios à Virgem das Virgens.
Passeando pelo jardim de seu convento, num dia de 1620, algumas fervorosas freiras carmelitas descobriram uma imagem do Menino Jesus recostada sobre um tufo de flores conhecidas pelo nome de maravilhas.
Cheias de surpresa, não sabiam elas o que mais admirar, se o diminuto tamanho do Menino, de apenas sete centímetros, se sua extrema formosura, ou se as circunstâncias em que foi descoberto. Com grande alegria e devoção, levaram-no para a capela, onde lhe improvisaram um altar ornado com flores amarelas e alaranjadas, sobre as quais havia sido encontrado.
E começaram a invocá-lo como o Menino Jesus das Maravilhas.
Uma antiga imagem de Maria
Poucos anos depois, chegou a Madri uma antiga imagem da Virgem, cuja origem também está envolta nas brumas da história.
Consta ser ela do século XIII. Em 1585, estava exposta à veneração dos fiéis no povoado de Rodas-viejas, mas em tão deplorável estado de conservação que o Bispo de Salamanca mandou retirá-la da igreja. Alguns paroquianos, entretanto, não se conformaram com essa decisão. E um deles obteve autorização para ficar com a imagem em sua própria residência.
Tinha, porém, a Santíssima Virgem desígnios admiráveis a respeito dessa sua imagem. Após algumas vicissitudes, foi ela parar em Madri, tornando-se propriedade de Ana Carpia, esposa do escultor Francisco de Albornoz, o qual a restaurou na perfeição.
À residência desse católico casal começaram a afluir, em número cada vez maior, vizinhos e conhecidos para rezar diante dessa imagem, pois correra a notícia de que ali a Mãe de Bondade concedia favores a seus devotos.
Um estupendo milagre tornou-a famosa na cidade inteira. Numa lamentável explosão de ira, um caçador apunhalou brutalmente um jovenzinho das vizinhanças, deixando-o meio morto. A mãe do menino foi correndo prostrar-se diante da imagem, implorando a Nossa Senhora a cura do filho. Pouco depois, ficou ele totalmente são e salvo.
Diante desse prodígio, seguido de muitos outros, o Vigário Geral da Diocese ordenou a Ana Carpia que entregasse a imagem a alguma igreja. Como se vê, a própria Mãe de Deus se ocupou de, por meio de milagres, recuperar para essa sua imagem um trono em algum edifício sagrado.
Para qual igreja levá-la?
No mosteiro das carmelitas
A senhora Carpia decidiu escolher, mediante sorteio, um dos quatro conventos carmelitas então existentes em Madri. A sorte recaiu sobre o mosteiro onde aparecera anos antes o Menino Jesus das Maravilhas.
Assim, em 17 de janeiro de 1627, Ana Carpia e seu esposo fizeram lavrar em cartório o ato de doação da milagrosa imagem às freiras carmelitas. No dia 1º de fevereiro desse ano, foi ela transladada para o mosteiro em solene procissão, assinalada por um significativo fato: durante todo o trajeto, uma branca pomba sobrevoou a imagem e entrou com ela no interior da ermida, onde se deixou colher pelas monjas. Estas a consagraram à Virgem no dia seguinte, 2 de fevereiro, festa da Purificação de Maria, e a retiveram no convento.
As freiras ornavam as mãos sagradas da imagem com as flores chamadas de maravilhas. Em certo momento, uma delas teve a inspirada ideia de colocar sobre essas flores a minúscula imagem do Menino Jesus das Maravilhas, o qual adquiriu especial encanto posto nesse trono floral. Com isto, a Mãe acabou tomando o nome do Filho: Nossa Senhora das Maravilhas.
É esta a origem do belo nome da imagem venerada em Madri.
O manto de Nossa Senhora cura o Rei Felipe IV
Em 1639, atacado por conspiradores, ficou o rei gravemente ferido.
A notícia comoveu toda a corte. Ordenaram-se orações em todos os templos pela saúde do rei, especialmente na ermida da Senhora das Maravilhas.
A rainha Mariana d’Áustria pediu às carmelitas um manto da Virgem para colocá-lo sobre o leito do monarca. Apenas foi colocado, com grande surpresa para todos, o rei perguntou à rainha: “O que pusestes sobre mim, que me encontro inteiramente bem?”
Em gratidão por tão grande favor da Virgem das Maravilhas, o rei mandou construir às suas expensas a atual igreja, inaugurada em 1646. Ademais, criou um patronato presidido pela rainha e vários personagens da corte, com a obrigação de dotar o convento das Maravilhas com uma renda anual. O rei muitas vezes ia fazer exercícios espirituais com as carmelitas, dizendo que “lhe davam alentos para o exercício de seus altos deveres de Estado”.
Prodígios da Virgem das Maravilhas
Além da cura do rei e do menino moribundo, muitos outros fatos extraordinários aconteceram ao longo da história desta imagem.
Em 12 de agosto de 1675 armou-se uma grande tempestade durante o canto da Salve Rainha, entrando na igreja uma fagulha de um raio que causou dano a várias pessoas, entre elas uma menina de três anos que ficou como morta.
Aflito, seu pai a tomou nos braços e a pôs sobre o altar da Virgem, implorando misericórdia. Surpreendentemente, aos poucos, a menina voltou a si como se nada tivesse acontecido.
E em 1689, um pintor que estava trabalhando na abóbada da igreja, caiu sobre as pedras do presbitério, parecendo morto. Ante a invocação da Virgem e a aplicação de uma sua estampa, voltou a si e foi para sua casa andando normalmente.
Invocação mais bela e sugestiva não poderíamos sugerir a nossos leitores. Peçamos a Nossa Senhora que inunde a Terra com as torrentes da graça de que Ela é cheia, fazendo triunfar de maneira fulgurante o seu Imaculado Coração, abrindo para a humanidade, o quanto antes, uma nova era dos esplendores mariais.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n.38, fevereiro 2005. Por Madre Mariana Morazzani Arráiz, EP
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