“O coração humano anestesiado de si mesmo e da presença do outro perde o sentido de viver”, afirma o arcebispo de Maringá
Maringá (Quarta-Feira, 28/03/2012, Gaudium Press) Em seu mais recente artigo Anestesia Espiritual, Dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá, no Paraná, recorda que quando leu a expressão “anestesia espiritual” lembrou das vezes que teve uma dose de anestesia aplicada em seu corpo e do seu efeito imediato: a carne não sente nada, as dores desaparecem, os sentidos já não existem e tudo parece dissipar-se na dura realidade humana. E no início da sua reflexão, ele lança uma pergunta: Como não entender que esta anestesia humana possa contaminar a vida espiritual?
Dom Anuar Battisti, Arcebispo de Maringá |
Segundo a visão do arcebispo, hoje em dia já não se sente a capacidade de amar, o gosto de orar ficou esquecido; o caminho do bem desapareceu dos pés; a rotina do trabalho sem respeitar o dia do Senhor se tornou normal; os tempos fortes do cultivo do espírito como a Quaresma e Semana Santa se transformaram em tempos de turismo; a atenção que se deve dar ao outro foi substituída por aquilo que eu gosto e quero; a busca insaciável do ter e do prazer só termina quando termina a vida; o pecado já não existe mais, pois foi incorporado no comportamento cotidiano como normal. “Tudo isso é resultado da citada anestesia espiritual”, resume ele.
Dom Anuar explica que o coração humano anestesiado de si mesmo e da presença do outro perde o sentido de viver. “A doença que mais mata é o individualismo apaixonado por si mesmo, rodeado da insaciabilidade humana que jamais acabará, a não ser no túmulo do absoluto egoísmo”, completa o prelado. Ele ainda cita o trecho de Hebreus “Olhemos uns pelos outros para estimularmos a caridade e as boas obras” para reforçar a importância da figura e da presença do nosso irmão em nossas vidas.
O problema, segundo o arcebispo, é que no mundo em que vivemos o outro já não nos interessa. É apenas um número que passa perto, um fantasma e não uma pessoa a ser amada, parte de nós mesmos. “Atenção ao outro exige que se deseje para o outro todo o bem.” Dom Dadeus ainda afirma que as pessoas não podem ser felizes por pedaços, como pedras de mosaico separadas umas das outras. “É necessário que a felicidade seja construída em conjunto. É preciso uma revolução a partir de dentro de nós mesmos, que nos coloque diante do outro como nosso irmão e fazer ao outro o que nós gostaríamos que ele fizesse a nós”.
O prelado destaca que a anestesia espiritual nos deixa cegos perante os sofrimentos alheios, gerando atitudes de indiferença que estão entrando na cultura do nosso mundo atual naturalmente. “Já não me interessa o que está acontecendo ao meu redor. O mais importante sou eu e meus desejos”, ressalta dom Anuar, que ainda menciona que este tempo quaresmal é uma excelente oportunidade de refazer em nós os relacionamentos verdadeiros, de acordarmos da anestesia e sentirmos a dor das próprias feridas e a dos outros.
Por fim, dom Anuar recorda que a vida cristã não é uma filosofia apenas; um viver alienado dos outros e da própria realidade, e por isso exige do cristão uma ação concreta, um compromisso social para que aconteçam verdadeiras mudanças das estruturas e dos estilos de vida.
“Dobrar os joelhos diante de Deus e sujar as mãos com o pó da realidade nos leva a sair da anestesia espiritual e deixar correr, mesmo na dor, o sangue restaurador de uma vida no Espírito Santo. Este é o tempo de acordar, de deixar-se tomar pelos sentimentos mais humanos, olhar ao nosso redor e dar-se conta de que não estamos sozinhos.
Juntos e mais humanos podemos construir uma sociedade mais digna”, conclui. (FB)
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